Os principais setores econômicos afirmam que ainda não há nenhuma sinalização de retomada no curto prazo, mas que indicadores de confiança e de estoques ficarão mais estáveis por conta do conservadorismo do empresariado.
Vitor França, assessor econômico da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), diz que ainda há um percentual relevante de empresas do comércio que estão com o estoque acima do desejado, mas que a tendência é de estabilização ao longo do ano.
Segundo ele, diferentemente do que ocorreu em 2015, o planejamento das empresas está mais adequado ao cenário recessivo.
"A gente espera que o fim do ciclo de ajuste nos estoques do varejo chegue ao fim em 2016. Porém, esse processo está se dando mais por um conservadorismo dos empresários, que estão reduzindo os seus pedidos junto à indústria, do que por motivos de retomada econômica", esclarece França, destacando que nenhum indicador da entidade sinaliza recuperação nos próximos meses.
"Ao longo de 2015, foi bem mais difícil para o comércio desovar estoque, porque os empresários ainda não tinham ideia da magnitude da crise e os seus planejamentos refletiam essa postura. Agora, nota-se que a tomada de decisões já está levando em conta o cenário mais pessimista", acrescenta França.
Dados da FecomercioSP mostram que, no varejo paulista, 35,7% das empresas estão com estoque acima do desejado neste mês, percentual menor do que o registrado em janeiro deste ano (37,3%). Porém, a proporção é maior do que em relação a verificada em fevereiro de 2015 (29,4%).
Na indústria
Renato da Fonseca, gerente de pesquisa e competitividade da Confederação Nacional da Indústria (CNI), conta que o estoque da indústria também vem se ajustando e que isso pode ser bom quando a economia voltar a crescer. "Em momentos de retomada, a produção industrial responde mais rápido se o estoque estiver em baixa", comenta Fonseca.
Os dados mais atualizados da entidade apontam que, em janeiro deste ano, houve recuo de 1,6 ponto (a 48,7 pontos) no nível do estoque da indústria em relação a dezembro. Quando este índice cai, significa que o estoque industrial está se ajustando à demanda.
Confiança
O representante da CNI também avalia que não há nenhum indicador que aponte recuperação, apesar do Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) vir apresentado melhora desde dezembro. Naquele mês, o ICEI, que vai de 0 a 100 pontos, fechou em 36,0 pontos e, em fevereiro, avançou para 37,1 (abaixo de 50 pontos indica falta de confiança do empresário).
Fonseca explica que a alta no indicador não aponta uma recuperação do otimismo, mas uma "estabilidade do pessimismo", tendo em vista que o índice já caiu bastante nos últimos dois anos. Em fevereiro de 2014, por exemplo, o ICEI registrava 52,4 pontos e, no mesmo mês de 2015, caiu para 40,2. "O que está acontecendo é que a percepção do empresário está piorando menos do que há seis meses atrás. A falta de confiança ainda permanece. De qualquer forma, o ICEI é único indicador nosso que está variando positivamente", completa Fonseca, lembrando que já se percebe uma recuperação da exportação de manufaturados, o que é positivo para a indústria neste momento.
No comércio, o Índice de Confiança do Empresário do Comércio (ICEC) também vem avançando desde novembro, quando registrou 72,76 pontos. Em fevereiro de 2016, o indicador subiu para 74,53.
O maior ajuste, entretanto, ocorrerá no mercado de trabalho, diz Vitor França, indicando que o Brasil deve perder mais 2,8 milhões de postos formais de emprego. No ano passado foram 1,5 milhão. Grande parte das demissões acontecerão no primeiro semestre, o que deve provocar uma reestruturação das empresas.
Veículo: Jornal DCI