Consultas aumentam, mas venda de máquinas têxteis cai

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Um dos poucos segmentos de bens de capital a registrar queda em 2008, melhor ano da história do setor, o mercado de máquinas têxteis registra neste começo de 2009 um aumento nas consultas entre 8% e 9%, de acordo com Silvio Orsini, presidente da câmara setorial de máquinas têxteis da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq). As vendas, entretanto, estão de 20% a 25% menores. "O setor está disposto a investir, mas ainda está muito cauteloso", disse o executivo durante a Semana Internacional de Máquinas Têxteis, realizada na semana passada, em São Paulo.

 

Para ele, se as consultas vierem a se transformar em compras alguma hora, isso deve começar a acontecer por volta de maio. Passado este primeiro trimestre de insegurança, o mercado pode retomar seu ritmo normal.

 

Na visão do vice-presidente da câmara setorial, Dante Battaglio, um dos fatores que está inibindo os investimentos, ao lado da generalizada incerteza causada pela crise mundial, é a dificuldade na liberação de linhas de financiamento, principalmente do Finame, linha do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) destinada à compra de bens de capital nacionais.

 

Na empresa de Battaglio, a paulista Avanço, há negociações paradas, à espera apenas da aprovação do financiamento. "As consultas são muitas, mas ficamos dois meses com o faturamento parado", disse. Orsini afirmou que o prazo para liberação do Finame está chegando até a 90 dias, sendo que, até outubro, ficava entre 30 e 60 dias.

 

Um dos principais motores das vendas de máquinas no País, o Finame ganhou impulso no ano passado depois de ter seu prazo de pagamento ampliado de 5 para 10 anos, em maio, e aumentou sua participação dentro do setor têxtil - segundo o BNDES, os desembolsos para esta indústria saíram de R$ 83,7 milhões, em 2007, para R$ 113 milhões em 2008, alta de 35%.

 

De acordo com números da Abimaq, no entanto, a receita das fabricantes de máquinas têxteis, ao lado de máquinas gráficas, foi a única a cair em 2008, com queda de 21,8% - descolada de todo o resto do setor, que cresceu 21,6%, faturou R$ 94,3 bilhões e teve o melhor ano de sua história. A carteira de pedidos caiu de uma média de 15 semanas, em dezembro de 2007, para 11 semanas em dezembro de 2008, e as exportações foram 19,6% menores, para US$ 113,2 milhões. Na contramão, as importações de máquinas têxteis cresceram 48,5% no ano passado, de US$ 514,4 milhões para US$ 763,9 milhões.

 

O impacto foi maior para os fabricantes voltados para malharia. De acordo com Battaglio, depois de um ano atípico em 2007, quando cerca de mil máquinas para malharia foram comercializadas no País (entre importação e produção local), o mercado encolheu em 2008, e ficou por volta de 600 unidades. "Para nós, a crise começou em março. O ano passado dependeu muito mais do produto acabado trazido da China", afirmou. "Agora, com o dólar quase 50% mais caro, está se importando menos. Nosso mercado parece que já começa a sair da crise", disse. Para 2009, Battaglio estima um consumo entre 400 peças e 500 peças para malharia.

 

Embora todos saibam que 2009 não será um ano fácil, o consenso é que, no Brasil, não será tão ruim. A Trützscheler, centenária fabricante alemã de sistemas de fiação, que possui uma fábrica em Curitiba desde os anos 70, está sofrendo com a atual conjuntura. Segundo seu diretor, Rene Werner, a entrada de pedidos na subsidiária brasileira caiu entre 30% e 40% no começo do ano. "Mas não é nada comparado ao mercado mundial", disse. Na estimativa dele, as vendas globais de máquinas têxteis despencaram 80% com a crise.

 

Na suíça Müller, produtora de máquinas para etiquetas e tiras, o embarque de produtos para o Brasil cresceu 40% no ano passado, o que elevou o País à primeira posição entre todos os seus compradores e confirmou a região como prioridade da empresa.

 

Já para a catarinense Albrecht, especializada em acabamento de tecidos, é o setor têxtil que deve segurar as vendas em 2009, já que em outras áreas para que fornece máquinas, como papeleiras, indústria automobilística e de construção, o abalo frente à crise foi muito maior e muito mais rápido. "O que nós enxergamos é que há muita cautela e preocupação, mas vemos disposição para investimentos", disse seu presidente, Waldir Albrecht.

 

Não só o mercado interno está relativamente atraente, como a tentativa de entrada em outros países está difícil. Para a Texina, única fabricante nacional de máquinas para tingimento de tecido, a virada que o dólar deu seria a oportunidade de reativar antigos clientes da América Latina e retomar as exportações, atividade que deixou de lado em 2005, quando a valorização do real tirou sua competitividade. Mas, segundo o diretor da empresa, Walter Gibello, tem sido uma busca difícil. "Nós estamos muito melhores do que eles. Em 2009 devemos continuar focados no Brasil."

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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