As fabricantes de chocolate podem acabar autuadas pelos órgãos de defesa do consumidor por mudanças no portfólio de Páscoa neste ano. A alteração no formato dos ovos foi anunciada pelas empresas em janeiro no Salão de Páscoa.
Segundo o Procon de Porto Alegre, as fabricantes reduziram o peso dos ovos de chocolate, mas mantiveram os preços praticados em 2015, não informando corretamente os consumidores sobre a mudança. O levantamento mostra que o peso dos ovos de Páscoa caiu de 10% a 15% frente um ano antes.
O Procon de São Paulo também alertou sobre a redução no peso dos produtos este ano. "Foi observado que alguns fabricantes reduziram a gramatura de seus produtos, sendo observado com mais frequência nos ovos de Páscoa", destacou a entidade, em nota. A diretoria do Procon-SP declarou que notificará as empresas caso identifique irregularidades, como a apurada pelo órgão gaúcho.
As fabricantes Nestlé, Garoto e Lacta devem ser autuadas pelo Procon de Porto Alegre nesta semana e terão dez dias "para apresentar defesa e comprovar correção da conduta apontada como irregular, podendo, ao final, receber multas pela suposta vantagem excessiva sobre o consumidor e até mesmo ter a venda dos produtos suspensas até a adequação das embalagens".
Estratégia
A Mondeléz, dona da Lacta, informou que até ontem não havia recebido notificação do Procon de Porto Alegre. "Alguns produtos tiveram redução de peso, mas isso foi comunicado na embalagem de acordo com a legislação. Em todos os casos de redução do peso do ovo, houve diminuição de preço", disse o gerente de marketing de páscoa da Mondeléz Brasil, Gabriel Garcia, em entrevista ao DCI.
O executivo explicou que no ano passado a companhia realizou pesquisas de mercado nas quais identificou alterações no perfil da demanda para o período de Páscoa e alterou a composição do portfólio para se adequar.
"Em alguns pontos de venda ampliamos a oferta de produtos menores que têm, consequentemente, preço menor, pensando nos consumidores que estão com menos dinheiro. Em outros casos aumentamos o volume e reduzimos o preço, também informando na embalagem", contou Garcia.
A companhia divulgou em janeiro que os preços da linha regular da Lacta não seriam reajustados nesta Páscoa, parte da estratégia para atender a demanda "pelo menor desembolso possível para comprar o maior número de ovos".
Nestlé e Garoto informaram que vão aguardar o comunicado oficial para se manifestar sobre o assunto. As empresas "ressaltam que atendem rigorosamente às exigências legais aplicáveis aos seus produtos e atuam com total transparência e comprometimento em relação às informações fornecidas aos consumidores", em nota enviada ontem à imprensa.
Em janeiro, durante o Salão de Páscoa, a Nestlé declarou que também fez alterações na linha de produção e na composição das embalagens para tentar reduzir custos.
Na mesma ocasião, a gerente de marketing da Garoto, Keila Broedel, afirmou ao DCI não acreditar que o tamanho dos produtos seria um fator de decisão nas compras para a Páscoa. "Mas estamos focados em produzir apenas os tamanhos que o consumidor deseja para diferentes situações", disse ela.
A Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab) explicou que não acompanha os preços praticados pelas indústrias, mas destacou o impacto da variação cambial no segmento.
"Há variação cambial muito grande, que afeta o preço dos principais insumos, principalmente o cacau, que é vendido em dólar. Portanto, acreditamos que os preços dos ovos, assim como todos os produtos derivados de cacau, podem acompanhar essas variações", disse o vice-presidente de chocolate da Abicab, Ubiracy Fonseca, por meio de nota enviada ao DCI ontem.
No Salão de Páscoa de 2016, organizado pela Abicab, a reportagem apurou que as fabricantes de chocolate aplicaram reajustes de preços entre 4,5% e 10% este ano.
Veículo: Jornal DCI