Impactado pelas altas taxas de juros, inflação elevada e desemprego, o poder de compra da população brasileira se vê cada vez mais comprometido. Em Minas Gerais, a situação não é diferente do restante do País, e o reflexo disso foi que, em fevereiro, a inadimplência no Estado cresceu 4,9% em relação ao mesmo mês em 2015. Na comparação com janeiro deste ano, também houve elevação de 0,2% no índice, que já vinha alto desde dezembro. Os dados são do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) das Câmaras de Dirigentes Lojistas (CDL) em Minas Gerais.
Para o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), Bruno Falci, as decisões macroeconômicas tomadas pelo governo federal nos últimos anos têm contribuído consideravelmente para os números crescentes da inadimplência. Sem os estímulos devidos, a economia se retrai, menos oportunidades surgem no mercado de trabalho e o endividamento tende a ser elevado.
“Precisamos de um País em desenvolvimento. Se o País está crescendo, as empresas estão saudáveis e contratando - conseguindo cumprir com as obrigações trabalhistas e tributárias -, ‘o vento vira a favor’, porque todos os setores, como comércio, indústria e serviços evoluem juntos. Com isso, as pessoas vão ter emprego, ou ainda, almejar empregos melhores, melhorando a sua situação. Mas hoje estamos na contramão disso tudo”, analisa Falci.
O ligeiro aumento do índice em relação a janeiro é considerado normal pelo presidente, já que, habitualmente, os primeiros meses do ano apresentam inadimplência maior. “Para quem não faz planejamento, o grande número de compromissos financeiros no início do ano aliado às parcelas das compras de Natal pode levar à inadimplência”, explica. Falci, no entanto, chama a atenção para os dados de dezembro. O mês, tradicionalmente com menor percentual, fechou 2015 em um patamar elevado (alta de 4,69% frente ao mesmo período em 2014) influenciado pela crise econômica nacional.
O número de dívidas em atraso também aumentou segundo o levantamento do SPC das CDLs de Minas Gerais. Na comparação entre fevereiro de 2016 com o de 2015, o crescimento foi de 7,71%, e em relação ao mês imediatamente anterior (janeiro), a alta foi de 0,44%. O índice reflete o efeito que a inflação e os juros têm tido sobre a renda dos mineiros. As expectativas por uma reversão desse quadro, porém, não são das mais otimistas.
“O ano de 2016, infelizmente, está parecendo que não vai fugir à regra de retrocesso, o que é muito ruim, principalmente quando a desaceleração é combinada à inflação e ao aumento de juros”, destaca Falci.
Em Minas, a inadimplência segue maior entre os consumidores acima de 50 anos. A faixa que abrange consumidores entre 50 e 64 anos registrou uma elevação de 10,87% no índice em fevereiro, na comparação com o mesmo mês em 2015. No grupo de 18 a 24 anos, houve queda de 17,34% no período.
“Os consumidores acima de 50 anos muitas vezes são sobrecarregados porque essa é uma faixa que já tem aposentados, e a aposentadoria não é corrigida por um índice significativo, fazendo com que essas pessoas sofram o efeito da corrosão da inflação. Além disso, esse grupo representa uma faixa que tem de cuidar não somente dos filhos, mas também ajuda a manter os pais, sendo extremamente sacrificado, o que explica a inadimplência elevada”.
Veículo: Jornal Diário do Comércio - MG