Os hábitos brasileiros de higiene, de vários banhos e muito perfume, especialmente nas regiões mais quentes do País, o culto à boa aparência, aliados à melhoria da renda, principalmente das classes mais populares, têm garantido um desempenho acima da média mundial para o setor de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos nacional. O Brasil não apenas foi o país que apresentou maior crescimento, entre os principais mercados mundiais, mas também ganhou participação, e colocações, em segmentos importantes, como o de desodorantes, perfumaria, produtos infantis, cuidados com a pele e proteção solar.
De acordo com dados do Euromonitor, que avalia o mercado a partir dos preços cobrados ao consumidor, o setor de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos movimentou no ano passado US$ 28,77 bilhões no Brasil, o que representa um crescimento de 27,5% ante o apurado um ano antes . Os dez principais mercados do mundo cresceram, em média, 9,1%. O segundo maior crescimento foi registrado pela China, quarto maior mercado global, com 5,3% de participação, que movimentou US$ 17,7 bilhões, alta de 22,1% ante o ano anterior, seguido da Rússia, oitavo no ranking, que cresceu 14,5%, para US$ 12,38 bilhões. Já o primeiro colocado, os Estados Unidos, tiveram ligeira queda, de 0,1%, para US$ 52,14 bilhões.
Com o bom desempenho nacional, o Brasil ganhou um ponto percentual de participação no mercado mundial e agora responde por 8,6%. "E há um potencial enorme no mercado brasileiro, existem muitos segmentos que vêm crescendo, incorporando novos consumidores", disse José Carlos Basílio, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec). O executivo destacou o potencial de crescimento de alguns segmentos, como o de cuidados com a pele, que no ano passado galgou duas posições e alcançou a sexta colocação considerando o desempenho mundial. "Esse é o maior mercado do mundo no setor, aqui ainda é cabelo, mas tem havido uma conscientização de que quanto mais se hidrata a pele, melhor, e novos hábitos estão sendo incorporados."
No ano passado, a venda nacional de desodorantes cresceu 36,63%, movimentou US$ 2,88 bilhões e alcançou a liderança mundial, com 16,9% de participação, superando os Estados Unidos. "Tradicionalmente, a população costumava usar desodorante como colônia, hoje crescem as vendas de desodorantes neutros, para que o consumidor possa usar a sua fragrância preferida", afirmou.
Em 2009, o Brasil deverá superar o principal consumidor mundial em perfumaria, segmento que no ano passado cresceu 32,74%, para US$ 5,3 bilhões no País, enquanto as vendas norte-americanas de fragrâncias somou US$ 5,57 bilhões, queda de 5,23%. "Neste ano os Estados Unidos devem registrar nova queda e mesmo que o Brasil cresça 10% já somará US$ 6 bilhões. "A Alemanha, terceiro colocado, movimenta US$ 2,9 bilhões, não tem como nos alcançar."
Já no segmento de produtos infantis, o Brasil registrou alta de 32,9% nas vendas, para US$ 740 milhões, enquanto os Estados Unidos movimentaram US$ 810 milhões, 0,47% menos que em 2007. "Não devemos crescer na mesma proporção do ano passado, mas vamos crescer, enquanto os Estados Unidos certamente terão queda", disse Basílio. Entre as razões para o aumento está o lançamento de produtos mais segmentados por tipo de cabelo. Além disso, brasileiros tendem a ter como prioridade o bem-estar dos filhos.
Arrecadação maiorO Euromonitor computa seus dados com base nos preços dos produtos cobrados do consumidor. A Abihpec também faz um levantamento do setor, mas usa como base os preços de venda das fabricantes. Segundo esse dado, o setor cresceu 10,6% em 2008, para R$ 21,7 bilhões (ou US$ 11,9 bilhões). Entre as razões apontadas por Basilio que ajudam a explicar a grande diferença de percentual de crescimento está a implementação da substituição tributária no Estado de São Paulo. "Com a implementação da substituição tributária, houve uma redução significativa da informalidade e o valor de mercado dos produtos cresceu", disse o dirigente.
De acordo com ele, de janeiro a novembro, a arrecadação de ICMS paulista cresceu 21,3%, enquanto a arrecadação do setor de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos teve alta de 279%, São Paulo responde por 40% do mercado nacional.
Balança Comercial
As importações também cresceram, 24,7%, para US$ 465,77 milhões. No entanto, ainda respondem por menos de 2% do mercado apurado pelo Euromonitor. Já as exportações cresceram 20,5%, para US$ 647,88 milhões.
Com isso, o saldo comercial aumentou 11%, para US$ 182 milhões, mas abaixo dos US$ 194,27 milhões de 2006.
De acordo com Basilio, a expectativa para 2009 é de manutenção dos volumes de embarques registrados no ano passado, apesar da retração do mercado internacional. "Esperamos crescer mesmo em mercados como a Europa e os Estados Unidos, que estão em crise." Basílio avalia que a imagem dos produtos nacionais, de originalidade no uso de ativos da biodiversidade brasileira, é um importante diferencial para a conquista de novos consumidores em escala global, em especial diante da crescente preocupação com a preservação ambiental.
O principal destino dos cosméticos brasileiros é a Argentina, que recebeu 26,4% do total embarcado. Em 2008, foram exportados US$ 171,3 milhões, o que representou crescimento de 22,6% em relação a 2007. Atualmente, o país tem vivido uma situação econômica difícil, por isso Basílio prevê que haverá queda das vendas para o parceiro comercial. A Abihpec aposta, no entanto, no incremento das exportações para outros destinos latino-americanos, como a Colômbia, o Peru e o México, com os quais deverão ser realizadas rodadas de negociações.
Veículo: Gazeta Mercantil