Embora não se possa falar em inadimplência generalizada, os atrasos de pagamentos crescem tanto no segmento das famílias como das empresas, segundo as mais diversas fontes, como Banco Central (BC), Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), Boa Vista SCPC e Serasa Experian. É um fator a mais para dificultar a reativação da economia, contrastando com levantamentos recentes que apontam para a redução do pessimismo da indústria e do comércio, como o divulgado há dias pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), indicando alta do nível de confiança do comércio de 66,6 pontos em abril para 70,9 pontos em maio, maior nível em 11 meses.
Entre abril de 2015 e abril de 2016, o Indicador de Inadimplência de Pessoas Jurídicas do SPC Brasil e da CNDL mostrou que o número de empresas devedoras aumentou 13,96%. É consequência da “rápida deterioração” da economia ao longo do ano passado, notou a economista Marcela Kawauti, do SPC Brasil. A situação é mais grave no Nordeste e, por setores, em serviços.
Em abril, segundo a Serasa Experian, a pontualidade de pagamentos das micro e pequenas empresas atingiu 95,4%, inferior aos 95,7% observados tanto em abril do ano passado como em março de 2016.
Segundo o BC, a inadimplência das pessoas jurídicas atingiu, em média, 3,1% em abril, aumento de 0,2 ponto porcentual em relação a março – número que pode ocultar o nível de renegociação de dívidas.
Não é melhor a situação das famílias. O economista-chefe da Boa Vista SCPC, da Associação Comercial de São Paulo, Flavio Calife, previu que o nível de inadimplência das pessoas físicas atingirá 6,8% até dezembro, superando o das pessoas jurídicas (5,5% estimados). O BC calculou a inadimplência das pessoas físicas em 6,2% em abril, porcentual idêntico ao de março.
A inadimplência caracterizada ou esperada afeta o crédito e a atividade econômica de várias formas. Dado o risco, os bancos privados foram cautelosos na oferta de crédito, enquanto os públicos emprestavam mais e hoje enfrentam mais problemas com atrasos – que subiram 0,3 ponto porcentual entre dezembro e abril, chegando a 3%. Os estatais agora elevam juros, recompõem margens e cortam crédito.
Em conjuntura difícil, chega a ser notável que a confiança do comércio (maior no segmento de móveis e eletrodomésticos) esteja crescendo rapidamente, notou o economista da FGV Aloisio Campelo.
Veículo: Jornal O Estado de S. Paulo