A diminuição de sua posição no mercado externo fez com que a companhia têxtil Cedro e Cachoeira conseguisse ter em 2008 o seu melhor quarto trimestre desde 2004, apesar da crise econômica global ter reduzido a demanda. Segundo dados divulgados ontem, a empresa teve um lucro líquido de R$ 3,3 milhões entre outubro e dezembro do ano passado, depois de ter operado com prejuízo neste período nos três anos anteriores.
O resultado operacional é mais expressivo levando-se em conta a estagnação em vendas. A receita operacional líquida do quarto trimestre de 2008 foi de R$ 79 milhões, ante R$ 76,1 milhões em 2007 e R$ 80,3 milhões em 2006. Mas medidas protecionistas do principal mercado externo, a Argentina, para onde a empresa destinou 40% dos R$ 32,5 milhões que conseguiu com exportações no ano passado, além do desaquecimento da demanda, fizeram com que a empresa decidisse reduzir a produção no primeiro trimestre deste ano. A Cedro cortou um turno de produção e dispensou 330 de seus 2.650 empregados em quatro unidades industriais. Com isso, sua produção física deve cair 13%.
De acordo com o presidente executivo da empresa, Aguinaldo Diniz, a exigência argentina de guias de importação fez com que as exportações para o País estejam suspensas desde novembro. "Nós e todo setor têxtil estamos com exportações para a Argentina paralisadas há quase cinco meses", disse. O assunto foi discutido em São Paulo, já neste ano, durante a visita ao País da presidente da Argentina Cristina Kirchner. Diniz participou de uma reunião com a ministra argentina da Produção, Débora Giorgi, na Federação das Indústrias do Estado de S. Paulo (Fiesp). A ministra teria se comprometido a discutir o tema com seu homólogo brasileiro, o ministro do Desenvolvimento Miguel Jorge.
Ao longo de 2008, a Cedro e Cachoeira teve faturamento líquido de R$ 404 milhões, um crescimento de 14,5% em relação a 2007, e um lucro líquido de R$ 24 milhões, sendo R$ 17,8 milhões concentrados no terceiro trimestre, o que significa cerca de seis vezes mais do que o obtido no ano retrasado. O endividamento da empresa desceu de R$ 132,1 milhões em 2007 para R$ 95,3 milhões em 2008, ou uma vez e meia o lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação.
Segundo Diniz, foi fundamental para o resultado o retração das exportações em relação ao total vendido. Em 2006, este item representava 12,4% das vendas. Em 2007, já caiu para 10% e em 2008 ficou em 6,8%. "Com o dólar a R$ 1,60, as exportações eram redutoras de nosso resultado", disse Diniz.
A Cedro e Cachoeira opera com duas fábricas em Pirapora, uma em Sete Lagoas e outra em Caetanópolis, todas em Minas Gerais. Trabalha com três produtos: índigo, brim tradicional e brim colorido, fornecendo para confecções de calças jeans e uniformes.
A empresa existe desde 1872 e é a sociedade anônima privada mais antiga do país. Foi fundada nesta data por três irmãos da família Mascarenhas, na cidade que hoje se chama Caetanópolis (MG). Onze anos depois, protagonizou a primeira fusão empresarial do País, ao incorporar a Fábrica Cachoeira.
Desde então, jamais trocou seu bloco de controle e nem interrompeu suas atividades. Atualmente, a família Mascarenhas controla 65% do capital e participa da gestão por meio de um comitê de acionistas sob o comando de Amélia Gonzaga Carvalho Silva, que embora não carregue o sobrenome, é da quinta geração da família controladora. O clã está subdivido em sete grupos, que reúnem 160 familiares.
A Cedro e Cachoeira abriu seu capital em 1984, quando o hoje vice-presidente José Alencar fez a aquisição de 18% do capital acionário com direito a voto, em nome da sua holding Coteminas. O grupo têxtil de Alencar não participa da gestão da Cedro e Cachoeira.
Veículo: Valor Econômico