Além de descontrole fiscal, baixa qualidade da educação e da produtividade do trabalho, bem como desemprego, juros altos e cenário externo fraco limitam expansão da economia nacional
São Paulo - A mediana das projeções de mercado colhidas pelo Banco Central (BC) aponta que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve crescer na casa dos 2% entre os anos de 2018 e 2020, não apresentando, portanto, a mesma robustez verificada na última década.
Nos anos 2000, a economia do País chegou a ter expansão de 7,5% (2010). Neste momento, o PIB caminha para a sua segunda queda consecutiva, com o mercado esperando uma retração de 3,18% no indicador. Em 2015, a economia recuou 3,8%.
No entanto, instituições financeiras consultadas pelo BC apostam em uma retomada a partir de 2017 (1,3%). Para o ano de 2018, a mediana das projeções indica alta de 2,06%, ao passo que, para os anos de 2019 e 2020, a aposta é de crescimento de 2,5%.
Especialistas observam que a expectativa de baixo ritmo de expansão para os próximos quatro anos ocorre porque não há, hoje, nenhuma reforma estrutural sendo feita no Brasil que possa justificar crescimento sólido no médio e no longo prazo.
O sócio da 4E Consultoria, Thiago Curado, pontua que as reformas necessárias para garantir uma expansão sustentável do PIB não se resumem ao fiscal.
Para ele, é preciso ter uma agenda para melhorar a qualidade da educação brasileira como forma de elevar a produtividade do trabalho. Ele sugere ainda a desburocratização do ambiente de negócios e a abertura comercial do Brasil como fatores de alavancagem da economia.
"A consolidação fiscal é condição necessária para abrir espaço aos investimentos privados", diz Curado. "Porém, fiscal arrumado sem educação de qualidade que eleve a produtividade do trabalho também não sustenta expansão do PIB", destaca.
Setor externo
Para o especialista da 4E, aumentar a produtividade da economia é justamente uma das saídas para lidar com o setor externo. Após ter se beneficiado com a expansão da China e com as commodities na década passada, o Brasil está diante de um cenário internacional desafiador. "Estamos vivendo o que alguns economistas chamam de 'estagnação secular', um período prolongado de crescimento reduzido", explica Curado. "Fontes de expansão vindas de países emergentes estão perdendo força. Já Estados Unidos estão com dificuldades para manter avanço do PIB, já que eles esgotaram todos os instrumentos de incentivo à economia. Os países europeus, por sua vez, estão passando por restrição de gastos", resume.
Por esses motivos, Curado avalia que investir na produtividade do trabalho pode ser uma forma de elevar a competitividade dos produtos que o Brasil exporta. Essa seria uma forma do setor externo contribuir para um crescimento mais robusto da economia.
O professor de economia da Anhembi Morumbi, Osmar Visibelli, acrescenta que o parque industrial brasileiro carece de tecnologia de ponta, o que dificulta a melhora da competitividade do Brasil. Para ele, esse é um dos motivos do baixo ritmo de expansão do PIB até o final da década.
"Não há perspectiva de que esse cenário possa ser alterado, pois a retomada da economia em 2017 vai se caracterizar pela reocupação lenta da elevada capacidade ociosa da indústria, e não por um investimento na modernização do parque industrial", assinala.
Desemprego
Visibelli destaca que outro fator que baliza as baixas projeções de PIB do mercado vem dos indicadores de renda e de emprego. Ele analisa que os quase 12 milhões de desempregados hoje no País serão reabsorvidos lentamente pelo mercado de trabalho nos próximos três anos, o que significa que o consumo não terá o mesmo ritmo de expansão que verificou na década de 2000.
Diante de uma grande reserva de mão de obra, ficará cada vez mais difícil ao trabalhador conseguir aumento real de salário (acima da inflação), fator que continuará provocando queda nos rendimentos.
O economista da Fundação Getulio Vargas (FGV), Istvan Kasznar, reforça que os déficits públicos esperados para este ano (R$ 170 bilhões) e para 2017 (R$ 139 bilhões) são os principais impedimentos para a retomada econômica, aliados à alta taxa básica de juros (Selic) - hoje, em 14,25%.
Para ele, o elevado déficit estimula o aumento da emissão de títulos por parte do governo. "Com o juro alto, essa dívida só tende a expandir, o que diminui o recurso para os investimentos públicos. Cerca de 47% da arrecadação federal é direcionada para pagar juros."
Para Curado, a taxa de juros alta é, inclusive, um fator que retira a atratividade do programa de concessões em infraestrutura relançado na terça-feira, o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI). Segundo ele, a modelagem do PPI é boa, mas os juros podem desanimar o investidor.
Fonte: DCI