O crescimento nas despesas dos agricultores se tornou constante a partir da safra 2013/2014, com forte influência dos valores dos insumos. Aumento do dólar será o principal motor das cotações
São Paulo - Fertilizantes, operações com máquinas, defensivos e sementes foram os maiores responsáveis pela elevação de 73% nos custos de produção do arroz nos últimos dez anos. Para 2017, o dólar deve ajudar a onerar essas despesas e a projeção é de preços maiores. "As despesas são algo realmente preocupante. O arroz não é mais uma cultura considerada remuneradora", afirma o presidente da Federação das Associações de Arrozeiros do Estado do Rio Grande do Sul (Federarroz), Henrique Dornelles. Atualmente, os custos variáveis estão entre R$ 5,5 mil e R$ 6 mil por hectare, conta o executivo. Se considerado o arrendamento das áreas, este número chega a R$ 7 mil. Há dez anos, as mesmas despesas ficavam em R$ 2,5 mil.
Análise
Na última temporada, os rizicultores gaúchos, que detêm quase 80% da cultura no País, passaram por graves problemas climáticos, ocasionando uma quebra em torno de um milhão de toneladas e, em consequência, endividamento. Neste contexto, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou, na semana passada, um levantamento sobre os custos, para que os dados sejam "utilizados por agentes públicos e privados no desenvolvimento de projetos, programas e ações, com vistas ao desenvolvimento dessa cultura", informou o órgão.
Segundo a companhia, na média nacional, o desembolso variável do agricultor saiu de R$ 20,82 por saca de 50 quilos em 2007/2008, para R$ 36,08 por saca em 2016/2017, um salto de 73,29%. "O crescimento é constante a partir da safra 2013/2014. Pode se justificar tal situação pela forte influência dos preços dos insumos que compõem o custo de produção. Estes preços sofrem influência da logística, da demanda, dos pacotes tecnológicos e sistemas de cultivo, da variação cambial, dentre outras variáveis", explica a análise.
O maior índice de participação nos custos variáveis são os fertilizantes - média de 22,95% - principalmente nos locais que cultivam o arroz sequeiro, que apresentam maior custo por saca, em relação ao irrigado. Na sequência, estão as operações com máquinas, defensivos e sementes. Juntos, os itens somam 59,69% do desembolso médio do cultivo. Na estimativa de safra mais recente da Conab, de dezembro, os especialistas destacaram que, no ano, o arroz acumula uma valorização de preço na casa dos 20,65%, "em virtude da quebra de safra 2015/2016 gaúcha e da elevação nos custos de produção". Ontem, o indicador do arroz em casca Esalq/Senar-RS encerrou o dia a R$ 49,15 por saca de 50 quilos, tipo 1, posto na indústria gaúcha.
Em vista da importância do produto para a alimentação básica do brasileiro, os repasses de gastos ao produto final só não têm impactos inflacionários maiores, tais como os do feijão, por exemplo, porque a oferta é mais ampla e ainda há entrada do grão proveniente do Mercosul. Para o ciclo 2016/2017, a projeção oficial é de que o País produza 11,5 milhões de toneladas de arroz, sendo 8,25 milhões de toneladas só no Rio Grande do Sul. Em contrapartida, a colheita total do feijão (que conta com três safras) deve chegar a apenas 3,1 milhões de toneladas - um aumento de 23,6% contra o resultado extremamente negativo de 2015/ 2016, que fez com que o produto ficasse conhecido como vilão da inflação dos alimentos durante o ano.
Estimativas
O Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga), vinculado à Secretaria da Agricultura do Estado, informou que o plantio para a temporada de 2016/2017 atingiu 100% na última semana, com 1,09 milhão de hectares. A condição climática estimulou agricultores a ampliarem as áreas. "Em Terra Areia (RS), esperavam semear 22,1 mil hectares, mas, com estas mudanças, estamos fechando a semeadura em 22,4 mil", exemplifica o engenheiro agrônomo, responsável pelo 7º Núcleo de Assistência Técnica (Nates) do Irga, Vagner Martini dos Santos.
Em termos de preço, o presidente da Federarroz acredita que se houver apreciação da moeda norte-americana, na média dos R$ 3,50, os valores do grão tendem a subir, seja por aumento nas atividades de exportação ou por dificuldade de importação do produto do Mercosul, valorizando a colheita nacional. "Ainda teremos uma safra ótima de soja, que fará com que o agricultor não se veja na necessidade de vender o arroz durante a colheita, quando os preços estão mais baixos. Ele estará capitalizado", destaca Dornelles. O pico da entressafra de arroz, até março, tende a manter os índices em alta.
Fonte: DCI - São Paulo