Varejo tira o pé do acelerador de olho na crise

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O varejo, setor que despontou na economia no ano passado com crescimento de 9,1% em relação a 2007, começa a tirar o pé do acelerador na virada deste segundo trimestre na expectativa de sentir como será o desempenho do primeiro semestre do ano, devido a indicativos de aumento da inadimplência do consumidor, que se ampliou 5% este mês, ante março. Uma das ações que comprovam essa tendência é a da maior cautela na concessão de crédito e planos de investimentos menos ferozes, por enquanto.

 

Um exemplo é o do Grupo Pão de Açúcar: do R$ 1,2 bilhão aprovado para ser aplicado este ano, só R$ 300 milhões estão garantidos até o momento pela rede, que não descarta ampliar esse montante. A verba será destinada para as áreas recursos humanos, logística, tecnologia, compra de terrenos e expansão dos formatos Assai e Extra Fácil.

 

Outra rede atenta ao avanço da inadimplência, que, segundo a Fecomércio, saltou de 50% para 55% em São Paulo, é a Casas Bahia, que unificou as áreas de concessão e recuperação de crédito, que anteriormente funcionavam com estruturas distintas para obter melhores resultados em sua carteira. Este é um indicativo de que a rede entrará para o time daquelas que apertaram o cerco na concessão de linhas de financiamento aos clientes.

 

No caso do Grupo Pão de Açúcar, de acordo com Cláudio Galeazzi, presidente da rede Pão de Açúcar, a verba de R$ 300 milhões estará garantida para estas ações independentemente dos desdobramentos da crise financeira. O executivo comenta estar otimista com o desempenho das vendas no mês que vem, de olho na pesquisa do Programa de Administração do Varejo (Provar), da Fundação Instituto de Administração (FIA), de que o consumo no Dia das Mães salte até 72,4%, ante igual período de 2008.

 

Galeazzi afirmou ainda que o Pão de Açúcar "está avaliando" fazer uma proposta de compra do Ponto Frio, outro termômetro importante do varejo, que está prestes a ver uma movimentação gigantesca com a venda dessa rede, fato que pode até mesmo modificar o ranking do mercado, caso ela seja absorvida por uma concorrente de peso. Ele pontuou que este é o tipo de coisa que se avalia até o último momento, e que "seria uma oportunidade para complementar o negócio, reduzir a despesa com compras e tranquilizar fornecedores."

 

Segundo o presidente, caso a empresa participe do processo de compra varejista carioca, o pagamento será feito em troca de ações, sendo que neste leilão as empresas de capital aberto podem ter vantagens na negociação. "A Lojas Americanas também tem caixa forte", destacou o executivo da segunda maior supermercadista do País, atrás do Carrefour.

 

A respeito do resultado da venda trimestral, o executivo avalia que foi satisfatório nas lojas com mais de um ano de funcionamento - as vendas aumentaram 9% no período em relação a 2008. "Houve uma redução do tíquete médio, mas foi registrada uma frequência maior dos clientes nas lojas." Na avaliação do presidente do Conselho de Administração do Pão de Açúcar, Abilio Diniz, que renovou ontem o contrato com Galeazzi, à frente por mais um ano do Pão de Açúcar, o Brasil não está imune à crise, mas o pior "já passou". "Me posiciono com cautela. Já passei por várias crises e nunca vi nada parecido, mas o Brasil está em uma posição privilegiada."

 

Crescimento

 

Apesar de ter comemorado desempenho favorável no primeiro trimestre do ano, o Magazine Luiza, alcançou apenas vendas 2% maiores em janeiro e 3% em fevereiro, se considerada a mesma base de lojas em relação a 2008. Em entrevista exclusiva ao DCI, Luiza Helena Trajano, presidente da companhia formada por 453 lojas, disse ainda não ter o número consolidado relativo a março, mas reforça ter alcançado no trimestre crescimento de 15%, fato atribuído às lojas abertas ano passado na Grande São Paulo.

 

Luiza, que comanda uma reestruturação na companhia, com a contratação de Marcelo Silva, ex-presidente da Pernambucanas e da GBarbosa para assumir a superintendência da rede, endossa que, neste momento, o principal foco é manter a agressividade das vendas e o nível de fluxo de caixa saudável para seguir com os planos deste ano e ganhar espaço na operação paulista, responsável por 18% das vendas.

 

Os números do início do ano, porém, indicam que a rede da família Trajano saiu na frente em relação à Casas Bahia e ao Ponto Frio - principais concorrentes. Recentemente, Michael Klein, diretor financeiro da líder em vendas de eletroeletrônicos e móveis, a Casas Bahia, declarou que no primeiro trimestre, as vendas foram 6% inferiores em relação às do ano passado. Já Manoel Amorim, presidente do Ponto Frio, diz que o ritmo de vendas no período está inferior se comparado ao mesmo de 2008.

 

A respeito de uma possível negociação de compra do Ponto Frio, a empresária do Magazine se esquiva. "Opto pela manutenção do bem-estar dos funcionários da rede, que vivenciam todo este processo publicamente", diz. "A meta é atingir faturamento bruto auditado de R$ 3,8 bilhões, depois de termos encerrado 2008 com R$ 3,2 bilhões. Isso dependerá das condições do cenário econômico, se não houver muitas alterações", pondera Luiza. Diante do cenário de crise pelo qual passa o mercado, Luiza Helena conta que "está feliz como cidadã, porém, como empresária, está muito difícil se articular com tal situação. Devemos ter uma visão cética e pessimista em relação ao fluxo de caixa, para preservá-lo, mas, por outro lado, manter o otimismo e incentivar a equipe de vendas."

 

Veículo: DCI


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