Queda no diesel não garante frete menor

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O governo prepara uma redução de preço do óleo diesel e não descarta baixar também a gasolina. Mas essa queda pode não ocorrer ainda no primeiro semestre e dificilmente afetará o valor dos fretes, já que boa parte das transportadoras está operando no vermelho. Um grupo de técnicos da Petrobras e do Ministério da Fazenda, com monitoramento do Ministério de Minas e Energia, vem discutindo o assunto.

 

Qualquer mudança, entretanto, virá somente depois de a estatal recuperar as perdas que teve enquanto manteve o preço dos combustíveis sem reajuste, no ano passado, apesar da disparada do petróleo no mercado internacional. Segundo técnicos do governo, isso pode demorar ainda cerca de quatro meses. Mas a queda dos preços ocorrerá, afirmou o ministro da Fazenda, Guido Mantega. "Pela lógica, virá; aguardem que virá", disse Mantega, em audiência na Câmara dos Deputados, falando genericamente sobre combustíveis, sem especificar o diesel ou a gasolina.

 

A avaliação do governo é que a Petrobras absorveu muitas perdas durante a alta do petróleo e a "principal preocupação agora é não tomar nenhuma medida prejudicial à empresa", como resumiu uma fonte oficial. No último aumento, em abril de 2008, o diesel subiu 15% e a gasolina foi reajustada em 10%. O impacto para o consumidor foi pequeno porque houve uma redução proporcional da Cide, mas o raciocínio agora no governo é que a diferença entre esses dois percentuais justificaria, antes da gasolina, a queda do diesel.

 

O grupo que estuda o assunto ainda não chegou a definições de quanto ou quando pode haver a redução. Mas a prioridade é o diesel, segundo os técnicos, embora um deles pondere que "são mercados diferentes, mas situações análogas", e portanto não se descarta a redução também da gasolina.

 

As transportadoras de cargas avisam que têm operado com prejuízo recentemente e por isso não devem baixar o preços dos fretes se o diesel cair. Para o presidente da NTC&Logística (associação do setor), Flávio Benatti, a medida é bem-vinda, mas ele reconheceu que pode não ter impacto direto sobre os fretes, apesar de o combustível representar em torno de 30% dos custos para caminhoneiros autônomos - a proporção é menor para as grandes transportadoras de cargas.

 

"Estamos sem gordura para queimar", disse Benatti, relatando a situação do setor. Segundo ele, antes mesmo da chegada da crise, uma pesquisa feita pela associação constatou que o transporte de contêineres estava sendo feito por até 25% abaixo do preço de custo. No caso das cargas fracionadas (que seguem da indústria para o comércio), essa defasagem era de 15%.

 

Desde então, de acordo com Benatti, a situação tem se agravado. "Estamos sendo bastante pressionados a baixar os fretes", disse ele, acrescentando que a súbita queda da demanda reforçou as pressões. De setembro para cá, os números da associação indicam que houve queda superior a 40% no transporte de minérios.

 

A partir do início de 2009, o transporte de produtos manufaturados destinados à exportação começou a sofrer e teve redução de 25% a 35%. No mercado doméstico, as cargas da indústria para o comércio caíram até 10%.

 

O executivo disse que apenas alguns segmentos do transporte de cargas escapam da concorrência excessiva, como o de produtos perigosos e o que exige resfriamento. Mas ele ressaltou que a operação no vermelho tem desestimulado investimentos em treinamento da mão de obra e modernização da frota. A idade média dos caminhões é de 22 anos no caso de autônomos e de 18 anos para as empresas de logística. Para revitalizar o setor, uma das medidas pleiteadas pelas transportadoras é a mudança na forma de financiamento de novos equipamentos.

 

Para Markenson Marques, presidente da Cargolift, empresa de transportes do Paraná, a eventual redução no preço do diesel no país não deverá impactar de maneira significativa os preços dos fretes. Uma das razões, segundo ele, é que o mercado não reajustou os preços no ano passado na mesma velocidade em que as montadoras e fabricantes de implementos rodoviários fizeram. "Não houve repasse, por isso se houver uma redução no diesel, o efeito será pequeno. Em plena crise, por exemplo, ocorreu aumento de preço do diesel aqui no Paraná por causa de uma revisão no ICMS", argumentou Marques. Além disto, o executivo ressaltou que em determinadas modalidades de transporte, como o especializado em cargas fracionadas, o frete está abaixo do preço considerado justo pelo recuo da produção causado pela crise financeira internacional.

 

Na mesma linha de raciocínio, Antonio Luiz Leite, diretor da Primax Transportes Pesados, acredita que só uma redução substancial no preço do diesel poderá repercutir nos valores de fretes praticados no país. "Com a queda de quase 30% no volume transportado por alguns segmentos, o frete já foi reduzido. O nosso setor é muito pulverizado e isto reflete diretamente nas margens de lucro das empresas", afirmou. No caso do transporte pesado, área de atuação da Primax, a possibilidade de redução de preço é ainda menor, já que as distâncias percorridas são curtas. Segundo Leite, apenas quem percorre grandes distâncias teria maior espaço para reduzir preços.

 

Veículo: Valor Econômico


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