Alta renda volta ao radar das redes varejistas

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O varejo começa a vivenciar uma inversão de perfil, em que as redes do setor começam a arregaçar as mangas para conquistar os consumidores da alta renda, deixados meio de escanteio nos últimos dois anos, quando a classe C viveu uma explosão de crescimento e a baixa renda viu aumentar seu poder compra. Agora, o cenário de crise, com taxas de desemprego e inadimplência maiores, faz as redes mirarem em clientes com mais segurança na renda. Outra tendência, antecipada pelo DCI, é a do varejo mais cauteloso com o cenário atual, e afirmando que irá esperar o desempenho do Dia das Mães para acelerar, ou frear, os investimentos no restante do ano. Ou seja, a data irá balizar o comportamento do mercado varejista em 2009.

 

Na visão de Ana Fioratti, diretora-geral da consultoria LatinPanel, as mudanças de foco de cliente estão cada vez mais evidentes. "As classes A e B são as grandes vedetes para este ano, pois têm renda mais garantida. O consumo final está ligado intimamente com a manutenção do emprego." Indicador desse comentário é o estudo de que o consumo de produto de luxo aumentou 13,25% ano passado. Houve também aumento de R$ 3,4 mil no tíquete médio do ano passado, ante R$ 3 mil de 2007. Os dados são da pesquisa da GfK Brasil. Questionado sobre o que deverá acontecer com o varejo no Dia das Mães, em maio, o professor do curso de Marketing e Vendas para o público feminino da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) Paulo Barreto analisa que as classes A e B deverão presentear melhor seus familiares do que as classes menos abonadas. "Este ano não deve haver quedas altas frente ao ano passado, mas para as classes C e D será o Dia das Mães de lembrancinhas", afirmou ele.

 

Quanto à estratégia das redes, Barreto analisa que os varejistas que atuam em uma faixa intermediária - aqueles que não são focados nem na classe C, nem na A - devem migrar para clientes mais seguros. "As redes de baixo valor agregado trabalham com grandes volumes. Elas terão de fazer mais comunicação, fidelizar o cliente e apostar em promoções. Contudo, não acredito que haja alongamento de parcelas pelo risco de inadimplência."

 

A aposta do especialista é enfocada no setor de moda e eletrônico. "Este é um novo filão para o varejo, pois as mulheres não querem ganhar mais pijamas e utensílios domésticos. Hoje elas estão no mercado de trabalho, são responsáveis por 80% das decisões de compra e são portadoras da maioria dos cartões de crédito." Ele complementa que, além de consumir produtos sofisticados, as mulheres presenteiam com produtos sofisticados.

 

Maio

 

Uma das empresas que estão de olho nas vendas para o segundo domingo de maio é o Baú Crediário, do Grupo Silvio Santos, que apostará na mesma estratégia que utilizou na Páscoa, cujo mote é 'a menor parcelinha do Brasil'. Para Décio Pedro Thomé, diretor de Vendas do Baú Crediário, a expectativa é crescer até 8% este ano no período, se comparado à mesma base do ano passado. Ele revela que depois da crise houve uma reprogramação no ritmo de crescimento e que o primeiro trimestre deste ano apresentou crescimento de 6 pontos percentuais. "É preciso crescer de forma ordenada, coordenada com indicadores como níveis de emprego e inadimplência."

 

Seguindo a tendência dos especialistas, Thomé crê que as vendas da rede se concentrem na área de tecnologia. "Adolescentes e crianças puxam as vendas de itens como celular, cine foto." Já em um cenário com redução de Imposto Sobre Produto Industrializado (IPI) na linha branca ele analisa que as pessoas poderiam renovar seus equipamentos antigos. "A data revela como será o restante, pois é a segunda maior em vendas - a primeira é o Natal - e seria justo uma redução de IPI, pois o varejo é o maior empregador."

 

Quanto à compra da rede Ponto Frio, em que Grupo Silvio Santos não descarta interesse, Thomé diz que a proposta foi feita esta semana. "Depende de o Ponto Frio analisar as propostas. Pode demorar dias ou pode acontecer hoje. Se adquirirmos, uma mudança de nome dependerá da presidência do Grupo."

 

De olho no Dia das Mães e aguardando a redução do IPI, Hugo Bethlem, vice-presidente executivo do Grupo Pão de Açúcar, diz que a venda de linha branca pode ser o impulso à data. "Apesar de a linha branca ser pouco significativa para nosso negócio, ela é um chamariz, principalmente nas bandeiras Extra, Extra-eletro e Extra.com.br. Os televisores e computadores têm um peso muito maior. Contudo, a redução chama o público", comentou.

 

Venda direta

 

A área de venda direta também se prepara para o Dia das Mães. Desde o começo deste mês, a Avon disponibilizou 16 opções de estojos de maquiagem, investiu em publicidade e contratou a atriz Maria Fernanda Cândido como garota-propaganda. Segundo Ricardo Patrocínio, diretor de Marketing da empresa, a aposta foi antecipar a venda em algumas semanas. "A aposta da Avon é colocar nos estojos produtos que variam de R$ 18 a R$ 150. Os custos de produtos são diluídos em 100 países onde a marca está presente. Além disso, as embalagens tem formato inédito no mercado." Na venda de calçados, a meta é obter pagamentos a vista ou em poucas parcelas para fugir da inadimplência. Na Via Uno, que pretende abrir este ano 46 lojas no Brasil, a aposta é mais propaganda e novos produtos. "Observamos mudança do prazo adotado para pagamentos, mas o ritmo de venda continua forte", diz o gerente de Marketing, Paulo Kieling.

 

Veículo: DCI


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