São Paulo - A área cultivada com tomates no Brasil deve recuar na safra de verão 2017, prevê o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). A estimativa leva em consideração a queda na demanda e dos preços do produto.
Conforme o pesquisador do Cepea, João Paulo Deleo, o Brasil cultiva 40 mil hectares de tomate, metade desta área é composta de tomate de "mesa" e a outra metade, de tomate "indústria".
"A área recuou no ano passado - quando os preços em baixa desestimularam os produtores - e a tendência é de um recuo significativo no próximo ano", afirma o pesquisador do Cepea. Apesar da perspectiva, Deleo ainda não pode quantificar essa retração e nem o impacto esperado na produção. "Isso ainda dependerá do clima e da produtividade", diz.
Um dos fatores que contribuem para a tendência de redução de área é o preço. De acordo com o Cepea, o valor recuou 6,82% para a caixa de 20 quilos na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) na semana de 7 a 11 de agosto. O preço vale para o tomate salada do tipo 2A, que caiu para R$ 27,33 a caixa.
"Assim como no ano passado, o preço pago ao produtor voltou a ficar abaixo do custo de produção", diz Deleo.
Segundo ele, o custo de produção do tomate envarado é de R$ 100 mil por hectare para o produto de mesa. Ele calcula que seria necessário um valor de R$ 30 a R$ 35 por caixa para cobrir os custos de produção, que foram maiores neste ciclo devido à variação cambial.
"Esperávamos que o preço fosse pelo menos empatar com os custos", conta Deleo. Mas a instabilidade da economia também tem afetado a demanda pelo produto, avalia ele.
Por outro lado, o clima tem sido favorável para a produção, o que aumenta a oferta e pressiona ainda mais os preços. O aumento da temperatura acelerou a maturação nas principais regiões produtoras do fruto, ampliando a oferta.
No caso do tomate do tipo 3A, que é um pouco maior, a retração foi de 4,53%, para R$ 44 a caixa no atacado.
Ele salienta que os produtores do Sudeste do País têm enfrentado a concorrência com o produto de Goiás, que é do tipo "rasteiro" e tem custo de produção mais barato que o produto de mesa. O custo de produção por hectare nesse caso é de R$ 20 mil para o produto industrial, afirma Deleo.
Tecnologia
Para o assistente técnico da comissão de frutas e hortaliças da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Eduardo Brandão, o cenário é complicado especialmente para os produtores que são pouco tecnificados.
"O produtor que não usa tecnologia não está conseguindo obter renda com o valor atual do tomate e com uma baixa produção", afirma. "Já o produtor mais tecnificado consegue um adensamento de área e uma maior produção."
O gerente nacional de vendas da Bayer, Paulo Tomaseto, acredita que, mesmo com cenário atual de preços, a perspectiva é de aumento de área de produção no longo prazo. "A situação atual ainda é melhor que a do primeiro semestre e quem vive dessa cultura não vai deixar de plantar." Ele ainda afirma há tendência de maior uso de tecnologia na cultura. Neste cenário, há produtores que pretendem investir na produção de tomates.
Um deles é Marcus Roberto Lucas da Silva, de Mogi Guaçu, no interior de São Paulo, que planeja agregar mais 200 mil pés aos 850 que já possui, entre os meses de janeiro e abril do próximo ano. "Pretendo continuar ampliando a área", afirma o produtor Ele atribui a aintenção ao clima favorável e ao uso de sementes resistentes a doenças. Silva começou a se dedicar à atividade em 2012, com 5 mil pés e utiliza as variedades pizzadoro e arendell. A produção média chega a 500 caixas de 24 quilos por mil pés. A caixa é vendida por até R$ 50, no Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Fonte: DCI São Paulo