Varejo popular reduz previsão de venda e queima estoques

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As lojas que atuam no varejo popular brasileiro têm reduzido as suas perspectivas de faturamento para este ano em quase 50% e, com isso, começam agora a discutir o que fazer para queimar os seus estoques, por venderem para classes C e D, que têm segurado os gastos com medo do desemprego e da inadimplência. Para amenizar a situação, as redes populares, principalmente de itens de vestuário, começam a adotar liquidações temáticas para atrair os consumidores mais receosos. A região do Brás, polo de vendas de itens com preços menores e reduto das sacoleiras, que trabalha majoritariamente com vestuário, reduziu a expectativa de vendas de 8% para 3% este ano. Enquanto isso, no outro centro comercial na capital paulista, na região da 25 de Março, a expectativa de crescimento declinou da faixa de 10% a 15% para 6% e 10%.

 

Para chamar a atenção dos consumidores e trazê-los às compras, a ordem dos lojistas é fazer liquidação, como no Comercial Semaan, com seis lojas no Estado. Segundo Marcelo Semaan, diretor da loja e da União dos Lojistas da 25 de Março e Adjacências (Univinco), em alguns itens o desconto chega a 75%. "As indústrias fazem mais promoções porque tem mais estoques, os quais eram para ser residual nesta época do ano". Segundo ele, se a indústria mantiver grandes estoques pode ser prejudicada para produção de novos itens. "Pela conjuntura conseguimos preços menores e podemos repassar."

 

Semaan reitera que esse tipo de venda sacrifica a margem de lucro do comércio, pois as bases de preços são menores. "Não sei se cresceríamos se os comerciantes da região não se movimentassem." Ele percebe dificuldade nas vendas acima do normal para esta época. "As compras neste varejo são feitas por cartão de crédito e não dependem de financiamento como na indústria."

 

O termo "liquidação" também parece ser a palavra de ordem na região do Brás, que comercializa roupas. Jean Makdissi, diretor da Associação de Lojistas do Brás (Alobrás), e da loja Íntima Store, relata que a região esta com os estoques altos. "Há muito expectativa negativa nos clientes e todo mundo economiza. As pessoas fazem reservas para não gastar e isto reflete aqui."

 

Para tentar baixar os estoques altos, os lojistas da região associam o fim do verão, o Dia das Mães e a nova coleção de roupas de inverno e fazem grandes liquidações. "Os estoques estão altos em virtude do inverno. Ou se compra pouco e arrisca perder vendas, ou tem um estoque elevado para vender. Não tem como repor de forma rápida." Makdissi relata que o comércio popular passa por desaceleração e a redução de margem de crescimento caiu para menos da metade. "Esperamos inflação menor que 5%. Mais que isto podemos ter arrefecimento", analisa.

 

Contraponto

 

O varejo popular é um segmento que continua com fôlego frente aos demais no setor. Na opinião de Emílio Alfieri, economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), a menor dependência de crédito faz com que as empresas tenham um desempenho melhor, mesmo que com uma leve desaceleração.

 

Geralmente, as pessoas que vão a esses centros de compras fazem pagamentos à vista ou em cheque pré-datado, sendo que esta modalidade registrou crescimento de 1,1% durante a Páscoa.

 

"O índice de inadimplência com cheques é apenas 2,3%, a menor do mercado", diz Alfieri. O que dependente de crédito está atrelado à confiança do consumidor, que não é exatamente o caso do comércio popular. "O segmento de variedade tem demanda garantida devido ao chamado 'bem de salário', ou seja, a fatia da renda do consumidor destinada para pequenos bens utilitários para o lar mensalmente." Outro possível alento aos varejistas populares é a procura maior das pessoas por produtos de marcas secundárias e mais baratos, conhecido como downtrend.

 

Temor de desemprego e a contenção de gastos das classes C e D têm-se refletido no comércio popular, que prevê crescer 3% este ano e começa a estudar maneiras criativas para queimar seus altos estoques.

 

Veículo: DCI


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