Os preços competitivos somados à abundante oferta de café no mercado devem garantir o recorde no volume das exportações da commodity na safra 2008/09. A expectativa dos analistas é que os embarques atinjam o volume histórico de 30 milhões de sacas até junho, período que se encerra a apuração do anossafra. Conforme informações do Conselho dos Exportadores de Café (Cecafé), faltando dois meses para finalizar a contagem, já foram embarcados um total 26,45 milhões de sacas. A quebra na produção da Colômbia, principal concorrente do Brasil, também colaborou indiretamente para esse resultado. Na safra 2007/08, o volume vendido atingiu a marca de 29 milhões de sacas. Especialistas afirmam que os números mostram um mercado receptivo à commodity brasileira, sem indicativo aparente de problemas causados pela crise.
Em abril, as exportações de café verde e solúvel somaram 2,37 milhões de sacas, aumento de 1% em comparação a 2008. A receita, por sua vez, despencou 20% em relação ao mesmo período do ano anterior por causa da queda nas cotações, fechando em US$ 309 milhões. Guilherme Braga, diretor-geral do Cecafé, afirma que aparentemente a demanda externa não caiu após a crise. "Com certeza teremos um recorde histórico. Nosso produto está competitivo e não vemos nenhum país da América Central aumentando a oferta no mundo", avaliou. Embora o mercado esteja caminhando para entressafra, prosseguiu, tudo indica que pelo menos mais 4 milhões de sacas serão negociadas nos próximos dois meses. "Já faz um bom tempo que não vendemos menos de 2 milhões de sacas por mês", completa.
Braga disse ainda que embora quase toda produção tenha sido exportada, as cotações não estão deprimidas, o que indica um mercado ajustado. Para ele, tudo indica que a safra nacional foi superior às 46 milhões de sacas previstas pela Conab. Os preços no Brasil, avaliou, não reagiram à quebra na Colômbia por causa da diferença entre as variedades nos dois países. "O café colombiano é despolpado e não trabalhamos esse tipo por aqui. As cotações só reagem quando há uma escassez generalizada. Porém, quando falta um tipo específico só é reajustada essa variedade determinada".
Gil Barabach, da Safras & Mercado, observa que os preços se recuperaram nas Bolsas Internacionais, o que também refletiu no mercado interno. "Está começando a temporada de inverno e há indicativos de que o governo pode anunciar os leilões de opção. Isso colabora para patamares melhores". Conforme dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, da Universidade de São Paulo (Cepea/USP), o café arábica tipo 6 é cotado em R$ 265,24 a saca, valorização de 3,1% no mês.
Barabach acrescenta que o grande volume nos embarques indica que os importadores estão muito comprados. "Isso significa que eles deverão trabalhar focados no curto prazo, sem alongar muito as posições por causa da escassez de crédito". No próximo mês, disse, a perspectiva é de recuo nas cotações por causa da nova safra. "Por isso, se precisar de caixa, o melhor momento de venda é agora. Com importadores menos agressivos, existe a possibilidade de a oferta ficar concentrada e pressionar os preços. Além disso, não dá para contar com as opções antes do anúncio".
Veículo: Gazeta Mercantil