Azeite de Minas perto do mercado

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Produto deve ser o primeiro em escala comercial no país; clima definirá safra 


 
 
Se nenhum grande problema climático ocorrer na área mineira da serra da Mantiqueira, o conjunto de montanhas que une os Estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, as primeiras garrafas de azeite brasileiro começarão a ser vendidas já no primeiro semestre do próximo ano. Até hoje produzido em caráter experimental, com uma prensa manual, o azeite brasileiro virá de uma máquina extratora da marca italiana Olimil, comprada este ano pela Empresa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) por R$ 132 mil.

 

A máquina, que esmaga 100 quilos de azeitonas por hora, deverá produzir 5 toneladas de azeite em 2010. Muito pouco diante das 35 mil toneladas consumidas no país, "mas a primeira produção que permitirá escala comercial", afirmou o gerente da Fazenda Experimental da Epamig em Maria da Fé (MG), Nilton Caetano. O produto ainda não tem marca definida.

 

No ano retrasado, com prensa manual, foram tirados 150 litros de azeite. Em 2008, a ocorrência de chuvas de granizo diminuiu a produção para 100 litros. A Epamig planta 400 oliveiras em dois hectares, além de produzir 20 mil mudas por ano. Faz experimentos no sul de Minas com as variedades grappolo e ascolana (italianas) e arbequina (espanhola).

 
 
A estatal conseguiu formar uma rede de 50 olivicultores no extremo sul de Minas , sendo 20 em Maria da Fé, que estão se organizando em uma cooperativa. No próximo ano, eles pretendem entrar em um seleto mercado que pode proporcionar altos lucros. A formação de um hectare de oliveiras exige um investimento de R$ 20 mil, mas a partir do quarto ano, quando o olival entra em produção, permite a venda do azeite a R$ 15 o litro.

 

Cada hectare tem potencial de produção de 10 toneladas de azeitona por ano, ou 2 toneladas de azeite de oliva. Proporciona uma receita anual de R$ 30 mil, o que representa R$ 26,5 mil de lucro, considerando o custo de R$ 3,5 mil de manutenção anual do hectare. Uma oliveira pode produzir comercialmente durante 50 anos.

 

O azeite já obtido na região de Maria da Fé está no topo da escala de valorização no mercado, pelo baixo grau de acidez. "É um extravirgem que oscila entre 0,3% e 0,7% de teor", diz Vieira Neto. Para ser considerado um extravirgem, o azeite precisa ter uma acidez inferior a 1%.

 

A produção de azeite no Brasil em escala comercial não existe até hoje pela dificuldade de aclimatação da oliva fora do Mediterrâneo, área onde surgiu e estão todos os grandes produtores. Dos 2,8 milhões de toneladas anuais de azeite produzidas no mundo, 1 milhão saem da Espanha, 630 mil da Itália, 370 mil da Grécia, 190 mil da Turquia, 165 mil da Tunísia, 110 mil da Síria, 70 mil do Marrocos e 35 mil de Portugal, o maior fornecedor do Brasil. "O principal fator limitante é o clima frio. A planta precisa de verão seco e inverno chuvoso, sem empoçamento de água. A oliveira precisa entrar em um processo de hibernação", afirma o pesquisador da Epamig João Vieira Netto.

 

"Para a planta entrar em dormência, são necessárias por ano pelo menos 200 horas com temperaturas abaixo de 10 graus. O ideal são 500 horas", complementa o produtor Milton Litvinski. Maria da Fé está no limite para se enquadrar como região produtora. Conta com temperaturas médias de 17 graus, sendo 10 graus a mínima média e 23 graus a máxima média. O índice de precipitação é de 1,8 mil milímetros por ano.

 

Descendente de ucranianos, Litvinski é um empresário do setor de pesquisas geológicas, mas que decidiu investir em oliveiras para retomar uma tradição da família, que se dedicava à cultura na Ucrânia. "Nos anos 60, minha família plantou oliveiras na região de Cascavel (PR), para reflorestamento e nos anos 70 eu plantei em Curitiba, para fins ornamentais. O clima dessas regiões do Paraná nunca permitiu a frutificação", diz.

 

O empresário comprou no ano passado uma fazenda em Delfim Moreira (MG) e plantou 4 mil oliveiras em 10 hectares. Irá plantar outras 4 mil, em área de tamanho igual, este ano. Conta com a primeira produção dentro de, no mínimo, dois anos. Foi trabalhoso encontrar a área ideal, afirma. "O terreno precisa ter características arenosas, para conseguir boa drenagem, já que o empoçamento pode matar a planta. Além do clima frio, precisa também ter encostas voltadas para o norte, a chamada área de soalheiro", explica.
 


Contexto


  
Experiências com o plantio de oliveiras para produção de azeite também estão em curso no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Em ambos os casos, o cultivo experimental surgiu como uma forma de os agricultores diversificarem a produção. O objetivo com a produção local, assim como em Minas, é reduzir a necessidade de importação de azeite de oliva pelo Brasil de países como Portugal, Argentina e Espanha.
 


Veículo: Valor Econômico


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