Sorvete à moda americana

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Em tempos de mercado em retração nos países desenvolvidos, as empresas internacionais têm se voltado para as economias emergentes como opção para manter um movimento de expansão. Um indicador comprova esse fato: no ano passado o Serviço Comercial da Embaixada dos EUA atendeu aproximadamente 290 empresas, sendo que, dessas, dez eram franquias. Este ano até o momento dez franquias já procuraram o serviço, querendo entrar no mercado brasileiro, segundo o especialista de negócios do da embaixada, Paulo Rodrigues.

 

Entre as dez americanas que se interessaram pelo nosso País está a Cold Stone Creamery, empresa com 21 anos de existência, original da cidade de Tempe, no estado do Arizona. A rede se expandiu com muita velocidade no país de origem, onde hoje conta com 1,4 mil lojas. Outras cem filiais estão espalhadas por outros dez países, a exemplo do Japão, China, Coréia do Sul, México e Taiwan. O processo de expansão mundial da marca data de quatro anos e foi, desde o início, baseado no modelo de franchising. O custo para a abertura de uma loja nos EUA fica entre US$ 200 mil e US$ 300 mil e o faturamento bruto gira em torno de US$ 350 mil. Apesar de os cálculos de custo para a abertura no Brasil não estarem ainda totalmente fechados, a expectativa é que o valor não seja muito diferente. As lojas internacionais têm alcançado um lucro maior do que o das americanas. Somente em 2008, as lojas em todo mundo atenderam 80 milhões de clientes e forneceram 27,5 mil toneladas de sorvete.

 

O interesse pelo Brasil surgiu após dois anos de estudo, portanto antes do advento da crise internacional. O objetivo da empresa no Brasil é encontrar um parceiro local. Esse parceiro poderia funcionar como franqueador master, formar uma joint venture ou aliança para co-branding (quando duas marcas trabalham como aliadas, dividindo os esforços de logística). Segundo a empresa, o que os levou a escolher o mercado brasileiro como prioritário para este ano foi a identificação de oportunidades locais para toda a linha de produtos, que é composta por sorvetes, sorbets, bolos e smooths (bebidas à base de sorvete), principalmente por se tratar de um país tropical.

 

Modelo vencedor. Os fundadores da Cold Stone Cremeary, Donald e Susan Sutherland, desenvolveram a receita de sorvete da marca, que é o carro chefe da empresa e recebem o nome de indulgence. A receita é especial e, segundo a empresa garante, possui um alto nível de cremosidade. As sobremesas são produzidas no modelo back of the house - ou seja, a mistura de produtos é feita nas próprias lojas.

 

Paulo Rodrigues, que é o responsável pela coordenação da vinda da empresa para o Brasil, lembra que o Serviço Comercial dos Estados Unidos, orgão ligado ao U.S. Department of Commerce, é o responsável por auxiliar as empresas americanas a fazerem negócios no Brasil. "Dentro desse escopo, nós fizemos um trabalho junto com a Cold Stone Creamery para organizar um road show, no qual eles pudessem falar com o maior número de possíveis parceiros brasileiros interessados em trazer a marca e o conceito de negócio para o Brasil", conta o especialista.

 

Para uma empresa ser aceita e usar os serviços de apoio à exportação do governo americano, basta ser uma empresa genuinamente nacional, com produtos e serviços produzidos naquele país, conta Rodrigues. "Uma vez aprovadas nesses requisitos, nós fazemos uma análise de viabilidade para o produto ou serviço no mercado brasileiro. Uma vez constatado que há potencial de mercado, nós iniciamos o processo de prospecção de possíveis parceiros, que podem ser representantes comerciais, distribuidores ou, como no caso da Cold Stone, master franqueados ou joint-venture", explica.

 

A vinda de empresas estrangeiras traz vantagens não só para o país de origem como para o que recebe a marca. "Em geral o intercâmbio comercial traz inúmeros benefícios para todos os países participantes. No caso específico da Cold Stone Creamery e das franquias que trabalhamos, sem dúvida nenhuma fortalece ainda mais o já maduro mercado de franchising do Brasil, traz investimentos, know-how e gera diversas oportunidades de emprego. A Cold Stone Creamery acredita que o País possa ter até 100 unidades, 20 das quais apenas em São Paulo. Além do que, o Brasil é um País com ótimo clima e boas condições para o consumo do produto durante todo o ano", declara Paulo.

 

De acordo com o vice-presidente de expansão internacional da Cold Stone Creamery, Sean Bock, a empresa está em expansão internacional há cinco anos. Vir para cá é parte de um processo. "Ao que tudo indica este é o momento certo para vir para o Brasil. Mas não temos pressa. O mais importante é encontrar o parceiro certo para que a operação seja bem sucedida para todos: CSC, parceiro, mercado e consumidor. O Brasil é um país de extensões continentais, com uma economia estável e uma classe média em crescimento, ou seja, reúne condições favoráveis para receber um negócio com nosso perfil", conta.

 

Bock conta que tem um carinho especial pelo Brasil e acredita que a CSC tem que estar no mercado brasileiro. "Do ponto de vista do nosso mercado, a diferença básica entre os EUA e o Brasil é o nível de consumo de sorvete. Nos EUA são consumidos 23 litros per capta; no Brasil esse número é exponencialmente menor, por volta de três litros. O aspecto positivo é que está crescendo o consumo à medida que a economia se solidifica. Queremos desenvolver o consumo de sorvete em diversas ocasiões, por exemplo, ao invés de se comprar um bolo de aniversário, por que não consumir torta de sorvete (cup cakes) de aniversário?", ressalta.

 

As expectativas de expansão da companhia no Brasil são excelentes, segundo o vice-presidente. "Acreditamos que o País, como já disse, reúne todas as condições para sediar uma operação da CSC consistente. Não sou de fazer projeções. A CSC gosta de ser bem cuidadosa. A partir de um estudo antecipado, o Brasil teria condições de estabelecer 100 lojas. No melhor dos cenários, em cinco anos. Eu gosto sempre de frisar que esses são dados de projeção, por que ninguém pode prever o futuro", diz Bock.

 

O momento é de busca de um parceiro de negócio, segundo Sean. "Apesar de haver alguns competidores, e eu os experimentei e são bons, o mercado de sorvetes no Brasil tem espaço para a CSC e nosso conceito de sorvete Premium e altamente customizado", finaliza.

 

Para Claudia Bittencourt, diretora geral da Bittencourt Consultoria - Inteligências em rede de negócios, o Brasil está sendo visto pelos investidores, principalmente europeus, como um país de oportunidade. "Apesar da crise, não tivemos queda no varejo e nosso comércio continua indo bem", conta.

 

De acordo com Claudia, o ideal é mesmo uma empresa estrangeira procurar um franqueador master no País que deseja se expandir. "Esse franqueador poderá dar as opiniões necessárias e saber lidar com as franquias que não são a do país original", explica. "Com o aumento da vinda dessas empresas a concorrência ficará maior. Isso pode gerar maior qualidade na performance das franquias nacionais. Também vai proporcionar ao consumidor novos negócios e novos produtos, além de gerar mais emprego", diz a consultora.

 

Veículo: Jornal do Commercio - RJ


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