Filial brasileira tem a maior expansão entre as 150 operações do grupo alemão no primeiro trimestre
Na semana passada, Nicolas Fischer, presidente da Nivea do Brasil foi para Hamburgo, cidade sede da alemã Beiersdorf, multinacional dona da marca da latinha azul. Quando entrou na sala de reuniões, onde estavam o presidente mundial da empresa, Thomas-Berd Qaas, e os presidentes de cada país onde a fabricante de cosméticos atua, Fischer sabia que era o único ali com 17, 4% de crescimentos em vendas no primeiro trimestre. "Com resultados assim, a gente vai leve para as reuniões. Poderia até me gabar... Mas nunca se sabe o dia de amanhã", afirmou ele.
De fato, Fischer tinha motivos para estar orgulhoso: o Brasil foi o país que registrou o maior crescimento de vendas no primeiro trimestre de 2009. Mundialmente, o faturamento do grupo alemão teve queda de 0,5% (considerando a mesma base de atuação), atingindo € 1,299 bilhão de euros.
Na Europa, (excluindo a Alemanha, que teve alta de 7,2%), as vendas caíram 7,8% . Na América do Norte, a queda foi de 5,4% . Com exceção da Rússia, que teve retração de 4%, só países em desenvolvimento mostraram números positivos. O México, por exemplo, teve alta de 11,7%; a Argentina, de 12,8%; Africa, Ásia e Austrália cresceram 5,5% e a China, 12,2%.
Mas nenhum dos 150 países onde a Beiersdorf opera chegou perto do desempenho brasileiro. "Anualizando esse resultado, fecharíamos 2009 com 18% de alta nas vendas, o que quer dizer que estamos no caminho certo para terminar o ano com um aumento nas vendas entre 15% e 20%, que é o nosso objetivo ", diz Fischer.
Mantendo o atual ritmo, a Nivea Brasil vai antecipar um resultado esperado só para 2010. "Quando assumi a presidência, em 2005, minha meta era dobrar o tamanho da empresa em cinco anos", conta o executivo. Mas com as altas registradas em 2006, de 16% ; de 22% em 2007 e também de 22% no ano passado, o objetivo pode ser alcançada já este ano.
Segundo o executivo, há pelo menos quatro motivos que explicam o bom desempenho da subsidiária brasileira neste ano. O primeiro, diz, é a condição econômica do país. "Acredito que o Brasil seja hoje o país mais estável economicamente do mundo", afirma. Isso acontece, segundo Fischer, por conta de uma conjunção de fatores. "O Brasil nunca esteve tão bem preparado para enfrentar uma crise como agora." Além disso, o fato de mais da metade do PIB ser proveniente do consumo interno protegeu o país, minimizando o contágio pela crise financeira mundial.
O comportamento do consumidor, segundo ele, foi outra boa razão que colaborou para a alta nas vendas. "Ao contrário do que acontece com o europeu, por exemplo, o brasileiro está acostumado com crises." Além disso, segundo ele, houve transferência do gasto com bens duráveis para os de consumo. "Muita gente deixou de comprar carro, apartamento ou geladeira. Esse consumidor poderia ter deixado o dinheiro na poupança, esperando a crise passar, como acontece em muitos países. Mas o brasileiro migrou para os bens de consumo."
Outra boa razão para o bom desempenho é que os números, tanto os do Brasil quanto os de outros países onde houve desvalorização cambial, são todos contabilizados em euro e não em dólar. "A desvalorização do euro, que é a moeda do grupo, foi muito mais suave", explica Fischer.
Daqui para frente, até dezembro, a estratégia da empresa é manter o ritmo de lançamentos (um terço das vendas vem de produtos novos) e focar no público masculino. "Pela primeira vez, em mais de 30 anos de empresa no Brasil, colocamos na mídia uma campanha publicitária para produtos masculinos", conta o executivo. São, principalmente, comerciais da nova linha de desodorantes e produtos pós-barba que são veiculados nos intervalos de partidas de futebol. "Esse é um mercado onde há muito espaço para crescer. O brasileiro ainda faz barba debaixo do chuveiro, usando só sabonete", afirma.
Veículo: Valor Econômico