Genéricos crescem 19% ao ano e atraem fabricantes estrangeiros

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Apesar da crise, vendas batem recorde e levam laboratórios multinacionais a aumentar investimentos no Brasil

 

Há seis meses, o suíço Stefan Prebil, executivo da Sandoz, divisão de genéricos da farmacêutica Novartis, foi destacado para uma missão. Ele deixaria o comando de uma das mais importantes operações da empresa - em sua matriz, na Suíça - rumo ao Brasil, onde a Sandoz desembarcou há dois anos. A transferência de um dos mais altos diretores da multinacional para o País começa a fazer sentido quando se analisa o desempenho da empresa por aqui. Em dois anos, o mercado brasileiro passou de 13ª para 7ª posição entre os maiores da Sandoz. Desde janeiro, o segmento da empresa, de genéricos, cresceu 19% e movimentou perto de R$ 1 bilhão no País, segundo dados divulgados ontem. (veja texto ao lado)

 

Voltar os olhos para os emergentes, como faz a Sandoz/Novartis, tem sido a estratégia de várias multinacionais do setor, que, tradicionalmente, sempre tiveram suas receitas ligadas aos mercados da América do Norte, Europa e Japão. O Brasil aparece de forma ainda mais clara no radar das empresas graças ao sucesso da indústria de genéricos, que cresce a dois dígitos há mais de cinco anos, após o governo ter regulamentado sua produção em 1999.

 

Mas os genéricos não são o único motor desse movimento. "O mercado pouco explorado e mais estável e transparente que os de China e Índia faz com que o Brasil seja a bola da vez no setor", afirma Luís Madasi, líder de serviços para a indústria farmacêutica da PriceWaterhouseCoopers. Segundo ele, boa parte de população ainda tem pouco - ou nenhum - acesso a medicamentos no País. "Isso significa alto potencial de crescimento do mercado."

 

Essa realidade pode facilitar a tarefa do novo presidente da Sandoz no Brasil: fazê-la crescer 30% este ano. Segundo Prebil, que passou os últimos meses estudando a língua portuguesa em um curso intensivo de fim de semana e visitando representantes do governo, parceiros e concorrentes, as perspectivas são animadoras. "O Brasil tem o maior mercado de genéricos na América Latina, economia estável e inflação sob controle", afirma.

 

O executivo afirma que essas condições colocaram o País como prioritário entre os mercados emergentes em que a Sandoz atua, à frente de Rússia, Índia e China. A empresa tem urgência em expandir nesses mercados, já que cerca de 80% das vendas mundiais estão concentradas em países da Europa e Estados Unidos. "Com a crise, essa concentração não tem sido positiva."

 

O Brasil já é o maior mercado entre os emergentes para a francesa Sanofi-Aventis. Há pouco mais de um mês, ela reforçou essa posição com a compra do laboratório especializado em genéricos Medley, de Campinas (SP). Até então, a companhia tinha uma participação residual no segmento, de 3%. Com a Medley, passou a 41%.

 

De quebra, levou a liderança em faturamento entre as maiores farmacêuticas do País. "Os genéri cos não vão parar de crescer tão cedo. Eles têm cerca de 15% do mercado no País e ainda podem atingir 30%", diz o diretor-geral da Sanofi-Aventis no Brasil, Heraldo Marchezini.

 

Os franceses também planejam transformar a fábrica da Medley em plataforma de exportação para outros países, principalmente da América Latina. As exigências da legislação brasileira para o setor - "uma das mais avançadas do mundo", segundo o presidente da Medley, Jairo Yamamoto - faz com que os medicamentos produzidos aqui entrem com facilidade em outros mercados.

 

ASSÉDIO

 

A Medley foi a primeira a sucumbir ao assédio das estrangeiras. Desde a regulamentação do mercado de genéricos, as brasileiras deslancharam e assumiram, com folga, a liderança da indústria. Dos cinco maiores laboratórios farmacêuticos do País, três (EMS, Eurofarma e Aché) eram brasileiros e produtores de genéricos. A situação mudou com a venda da Medley para os franceses. Agora a tendência é que seus concorrentes se apressem para buscar posições no setor.

 

A Sandoz não esconde que está com apetite para aquisições. "As nacionais dominam porque foram pioneiras no mercado e tiveram agilidade. Mas a tendência é a consolidação dos grandes ?players? e temos certeza de que estaremos entre eles", diz Stefan Prebil.

 

Segmento já têm 17,7% do mercado farmacêutico
 


Em crescimento acelerado há mais de dez anos, o segmento de genéricos deve bater novo recorde este ano. No primeiro trimestre de 2009, as vendas desses medicamentos cresceram 19,4% ante o ano anterior, movimentando R$ 939 milhões. A participação do segmento no mercado farmacêutico chegou a 17,7%.

 

Segundo o presidente da Associação das Indústrias de Medicamentos Genéricos, Odnir Finotti, o mercado tem se beneficiado da crise, ao receber consumidores que migraram para esses medicamentos em um cenário de contenção de gastos. "Tivemos crescimento acima do esperado para o momento econômico atual", diz.

 

Segundo Luís Madasi, da PriceWaterhouse, esse desempenho faz da participação no setor fator determinante para uma empresa obter posição de destaque no País. "Para ser grande aqui é preciso, de alguma forma, olhar para esse mercado."

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


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