O Grupo Pão de Açúcar obteve lucro líquido de R$ 94,9 milhões no primeiro trimestre deste ano, valor 185,5% superior a igual período do ano passado, quando o resultado foi impactado negativamente em R$ 41,3 milhões devido a gastos com reestruturação e amortização de ágio. Excluídos esses efeitos, o lucro líquido da companhia cresceu 27,3% entre os períodos. "Em qualquer análise, apresentamos crescimento em um cenário de crise global e com processo de aumento do desemprego", avaliou o vice-presidente executivo do Grupo, Enéas Pestana.
De acordo com o executivo, o resultado reflete a reestruturação iniciada no Grupo no ano passado, que revisou processos em busca de ganhos de eficiência. Com isso, informou ele, a empresa alcançou neste primeiro trimestre o menor patamar de despesas operacionais sobre a receita líquida da sua história: 18,6%. A redução de 1,2 ponto percentual nesse indicador sobre igual período do ano passado permitiu ao Pão de Açúcar trabalhar com menor margem para aumentar o fluxo de clientes, explicou Pestana. "Consolidamos novo patamar de eficiência", disse.
Entre os primeiros trimestres, as vendas brutas do Grupo cresceram 6%, para R$ 5,291 bilhões, e as vendas líquidas subiram 9,4%, para R$ 4,641 bilhões. No conceito "mesmas lojas", as vendas brutas aumentaram 4,6% e as vendas líquidas, 7,9%. A empresa também divulgou as vendas do quadrimestre, para efeito de comparação, já que a Páscoa do ano passado caiu em março e neste ano, em abril. No quadrimestre, as vendas cresceram 10,6%, para R$ 7,277 bilhões, e as vendas líquidas aumentaram 13,9%, para R$ 6,396 bilhões. No conceito "mesmas lojas", as vendas brutas cresceram 9,2%.
Pestana disse ter chamado a atenção o crescimento das vendas brutas de produtos não-alimentícios, de 9,7% no trimestre e de 11,1% no quadrimestre, em ritmo superior ao das vendas brutas de produtos alimentícios, que cresceram 3,1% no trimestre e 8,6% no quadrimestre. "Foi resultado bastante superior à expectativa diante de um cenário de crise, onde o crédito é afetado, com efeito sobre os não-alimentos", disse. Segundo o balanço do Grupo, a performance é resultado da adoção de estratégia comercial que combina promoções agressivas com correto mix de produtos.
A estratégia comercial mais agressiva, porém, foi a responsável por 0,2 ponto percentual na redução da margem bruta do Grupo, que passou de 26,2% para 25,3% entre os primeiros trimestres. Outro 0,2 ponto percentual de queda na margem veio da consolidação da rede Assaí, que dobrou o número de lojas no período para 28 e cuja bandeira trabalha com margem média inferior ao do Pão de Açúcar devido ao segmento de atuação (o atacarejo). O 0,5 ponto porcentual restante de redução na margem deveu-se ao regime de substituição tributária, já que o ICMS passou a integrar o custo das mercadorias vendidas.
Como esse regime não afeta o valor do lucro bruto, houve crescimento de 5,7% nesse indicador do primeiro trimestre do ano passado para este, no total de R$ 1,176 bilhão. Com maiores vendas e menores despesas sobre vendas, o Ebitda do Grupo (lucro antes do pagamento de juros, impostos, depreciações e amortizações) cresceu 14,1% na comparação dos primeiros trimestres, para R$ 312,3 milhões. Segundo Pestana, a política de promoções agressivas do Grupo se refletiu não só no lado mercantil, como na concessão de crédito, com parcelamento de compras sem juros.
Nesse sentido, o braço de crédito do grupo, a FIC (Financeira Itaú CDB), representou 13,8% das vendas totais no primeiro trimestre, tendo aumentado a base de clientes em 8,8%, para 6,1 milhões de pessoas. A base de cartões cresceu 13,2%, para 5,2 milhões. "A FIC atingiu o breakeven (ponto de equilíbrio entre receitas e despesas) em 2008 e a tendência é de crescimento. Os níveis de inadimplência estão bastante abaixo do mercado", disse Pestana. Nos próximos trimestres, o Grupo Pão de Açúcar tem a expectativa de aumentar a participação dos produtos de seguros e serviços financeiros na receita da FIC.
O Grupo investiu R$ 100,3 milhões nos três primeiros meses deste ano, volume 19,2% inferior a igual período do ano passado. De acordo com Pestana, a companhia adotou política de investimentos mais conservadora, mas deve elevar os desembolsos nos próximos trimestres. O executivo informou que as prioridades de investimento do Grupo são na rede Assai e em lojas de conveniência Extra Fácil, além de logística, tecnologia da informação e compra de terrenos para garantir a expansão futura. Só esses itens podem totalizar de R$ 700 milhões a R$ 800 milhões em investimentos no ano.
A companhia, no entanto, tem a autorização do Conselho de Administração para gastar até R$ 1,324 bilhão em 2009. O vice-presidente do Grupo Pão de Açúcar afirmou que a diferença poderá ser direcionada para aquisições. O executivo não quis comentar sobre eventual proposta de aquisição da rede Ponto Frio. "Qualquer proposta que a companhia for fazer será imediatamente comunicada ao mercado", afirmou. No caso de uma aquisição, além da utilização desses recursos, Pestana informou que a estrutura de capital da companhia permite maior alavancagem.
"Nosso endividamento é de metade do Ebitda. Temos espaço para buscar essa alavancagem. É mera decisão técnica entre o custo do capital próprio e o custo do capital de terceiros", afirmou. De acordo com Pestana, foi montado grupo interno de Fusões e Aquisições (F&A) para avaliar todas as oportunidades. "Estamos de olho em oportunidades com retorno em níveis superiores ao capital empregado e que sejam aderentes e consistentes com nosso plano estratégico", disse ontem, durante teleconferência com jornalistas sobre os resultados do Grupo no primeiro trimestre.
Segundo ele, a companhia está com o pé no freio e no acelerador em relação aos investimentos, pilotando isso no dia a dia, embora hoje tenha mais vontade de acelerar os desembolsos. Para Pestana, o maior desafio do Grupo atualmente é o de buscar acelerar o crescimento em mercado onde já atua e market share onde não atua.
Veículo: Jornal do Commercio - RJ