Apesar dos esforços do grupo Pão de Açúcar para vender produtos mais baratos nas prateleiras de supermercados, a varejista ainda não conseguiu convencer uma parte dos investidores de que suas ações também estão uma pechincha. A companhia espera fazê-lo no dia 9 de junho, data em que finalmente vai realizar o seu encontro anual com analistas e investidores, batizado de "GPA day", e no qual deve delinear metas de vendas e investimentos para 2009.
Devido às incertezas com o cenário econômico, o evento ocorrerá mais tarde do que o inicialmente previsto. Entre analistas consultados pelo Valor, dois avaliam que os papéis da companhia já atingiram um preço alto o bastante e veem pouco espaço para maiores elevações daqui para frente.
Dentro do Pão de Açúcar, o preço das ações é um assunto que claramente causa irritação.
"Continuamos firmes em nossa posição de que as ações estão subavaliadas e que há um espaço enorme de valorização", afirma Enéas Pestana, vice-presidente financeiro da varejista. Segundo ele, os papéis da companhia estão sendo negociados por um múltiplo "extremamente baixo", equivalente a seis vezes o lucro anual antes dos juros, impostos, depreciação e amortização (lajida).
Segundo levantamento com base em dados da Economática, as ações da subsidiária do Wal-Mart no México são negociadas na bolsa mexicana por um múltiplo bem superior: os papéis valem 14 vezes o lajida anual. No Chile, as ações da Cencosud também valem mais: 6,6 vezes o lajida de 12 meses.
Os resultados divulgados ontem pelo Pão de Açúcar mostraram que a varejista conseguiu driblar a crise econômica. Durante todo o primeiro quadrimestre, que inclui a Páscoa (comemorada em abril), as vendas brutas aumentaram 4,6% em relação aos quatro primeiros de 2008 pelo critério "mesmas lojas" (unidades abertas há mais de 12 meses).
Se descontada a inflação, o aumento nas vendas teria sido de 3,3%, superando até mesmo o desempenho de 2008, quando a receita do grupo cresceu 2,6%, sem crise econômica.
Mas, para vender mais, a empresa teve de ser agressiva em preços e condições de pagamento. A margem bruta caiu 0,9 ponto percentual, para 25,3% no primeiro trimestre. Uma parte dessa queda (0,5 ponto percentual) deve-se à mudança no regime tributário em São Paulo, mas 0,2 ponto da margem teve de ser sacrificado com preços mais baixos.
A estratégia só foi bem-sucedida devido ao austero controle de custos. As despesas operacionais atingiram o mais baixo patamar da história do Pão de Açúcar, representando 18,6% das vendas no primeiro trimestre. No entanto, a própria direção reconhece que, daqui para frente, já não possui muito mais gordura para queimar.
O esforço refletiu-se na última linha do balanço. O lucro líquido do Pão de Açúcar cresceu 185,5% no trimestre sobre igual período de 2008, totalizando R$ 94,9 milhões. Com esse resultado, a margem líquida foi de 2%, bem superior à margem de 0,8% registrada um ano antes.
No primeiro trimestre de 2008, porém, dois eventos afetaram o lucro líquido do Pão de Açúcar e não se repetiram neste ano. Na época, a empresa registrou despesas de R$ 17,2 milhões com reestruturação e amortizou R$ 24,1 milhões referentes a ágio de aquisições.
Grupo decide criar empresa imobiliária
O grupo Pão de Açúcar decidiu constituir uma empresa imobiliária, para a qual serão transferidas todas as propriedades da varejista, como terrenos e edifícios onde estão instaladas as lojas. O presidente dessa nova companhia será Caio Mattar, que já responde pela divisão imobiliária e expansão na vice-presidência executiva no grupo.
Neste primeiro momento, a nova empresa será uma subsidiária integral do grupo Pão de Açúcar. A companhia havia cogitado fazer um desmembramento total dos negócios imobiliários, no mesmo modelo já adotado por outras redes. Os imóveis da Lojas Americanas, por exemplo, foram transferidos para a São Carlos, que mais tarde ganhou vida própria e abriu o capital. Atualmente, a empresa está à venda.
Durante o primeiro trimestre, o grupo Pão de Açúcar foi conservador nos investimentos e desembolsou apenas R$ 100 milhões, R$ 23 milhões a menos que em igual trimestre de 2008. Nos três primeiro meses, apenas cinco lojas foram inauguradas pela varejista , que havia declarado, anteriormente, ter planos de inaugurar até 100 lojas neste ano.
Diante da crise econômica, a empresa seguiu a mesma cartilha adotada por várias empresas e preservou o caixa.
As vendas no primeiro quadrimestre do ano, porém, superaram as expectativas. "Estamos com mais vontade de acelerar os planos de expansão", afirmou ontem o vice-presidente financeiro do grupo, Enéas Pestana.
Segundo ele, nos próximos trimestres de 2009, os investimentos da varejista na expansão da rede devem ser maiores que os modestos R$ 100 milhões gastos nos três primeiros meses.
A companhia está atualmente "reavaliando" os investimentos e está à espera de um sinal verde da direção para pisar no acelerador, disse Pestana. Na avaliação do executivo, ainda daria tempo para inaugurar um número maior de lojas no segundo semestre.
O conselho de administração aprovou um investimento de até R$ 1,3 bilhão para 2009, mas é improvável que esse limite seja alcançado diante do tom conservador adotado no início do ano. Deste valor, é esperado que a companhia desembolse algo entre R$ 700 milhões e R$ 750 milhões. Segundo Pestana, a empresa continuou investindo na aquisição de terrenos e possui um estoque suficiente de imóveis para a inauguração de lojas.
Veículo: Valor Econômico