"Ou o Brasil é um país sério, ou não", diz Zurita

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Alvo de uma das poucas proibições determinadas pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) em um ato de concentração entre empresas, a fabricante de alimentos Nestlé assiste atenta à união entre a Sadia e a Perdigão. Em 2004, dois anos após comprar a concorrente Garoto, por R$ 600 milhões, a companhia suíça teve a fusão negada pelo órgão regulador, que determinou a venda integral da fabricante de chocolates.

 

Ainda unidas, mas administradas separadamente, as duas empresas aguardam até hoje o resultado de uma série de recursos da Nestlé na Justiça pelo direito à fusão e pelo atraso na decisão do Cade em relação ao negócio."Eu entendo que se trata de um momento pontual e difícil, de uma empresa que passou por problemas de gestão, e que deve ser levado com cuidado", disse ontem o presidente da Nestlé, Ivan Zurita, durante encontro do Grupo de Líderes Empresariais (Lide), em São Paulo. "Mas as regras antitruste têm que ser iguais para todos. Ou o Brasil é um país sério, ou não é."

 

Maior empresa de alimentos do mundo, de origem suíça, a Nestlé se destacou de outros casos de fusão e aquisição de proporções semelhantes no País, que tiveram restrições mais brandas - caso da Antarctica e Brahma, ambas nacionais, e da compra da Palmolive pela norte-americana Colgate, que tiveram de se desfazer de marcas ou ativos para poderem seguir unidas no País.

 

Segundo Zurita, quando a Nestlé comprou a Garoto, a participação de mercado total que passaram a ter era de 47%, ante 33% da concorrente mais próxima. A união da Sadia à Perdigão, se aprovada pelo Cade, criará uma gigante de alimentos que, dependendo do segmento, chega a ter 85% de participação.

 

O maior problema, destacou o presidente da Nestlé, está no sistema brasileiro de julgamento dos atos de fusões e aquisições, que, diferente de outros países, ocorre após a realização da operação. Discussão levantada há anos no órgão do Ministério da Justiça, as mudanças nos procedimentos seguem paralisadas, também há anos. "Há muitas empresas que se inibem em negociar com medo de ter a operação recusada depois, e de perder o investimento", disse.

 

No caso da Nestlé, este não seria mais o problema. Se a Justiça decidir pela venda da Garoto, sua atual dona devolverá ao mercado uma empresa muito mais valiosa. A receita da fabricante de chocolates, quando foi comprada, estava na faixa dos R$ 520 milhões, e encerrou 2008 a R$ 1,7 bilhão. "Foi uma batalha difícil, mas conseguimos fazer a empresa crescer e se tonar exportadora. Os investimentos se pagaram em quatro anos e meio."

 

Novas aquisições

 

Com um plano de dobrar de tamanho até 2012, a Nestlé segue investindo, ampliando suas instalações e buscando novas oportunidades. Está negociando a compra de pelo menos duas novas empresas ainda este ano, sendo que uma delas deve ser anunciada nos próximos dias, adiantou Zurita.

 

Os investimento aprovados para este ano são de R$ 350 milhões, que vão para ampliação de capacidade e modernização, excluída a verba calculada para novas aquisições. Para este ano, calcula um crescimento de 8%, sobre os R$ 13,5 bilhões que faturou em 2008.

 

Veículo: Gazeta Mercantil


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