Em meio à queda do faturamento e da produção comercializada, a Itambé investe na mudança de seu perfil. A central de cooperativas mineira deverá montar até o fim do ano uma indústria para processamento de 300 mil litros diários de leite UHT em Brodósqui, na região de Ribeirão Preto, nordeste paulista. Serão R$ 20 milhões investidos com dois propósitos: marcar a expansão geográfica da Itambé, hoje atuante em Minas Gerais e Goiás e crescer no leite fluido, hoje pouco relevante no faturamento da empresa.
A Itambé hoje conta com capacidade de processamento de 5 milhões de litros de leite diários, mas trabalha atualmente com ociosidade de 35%.
A fábrica no Estado de São Paulo é uma decorrência da filiação, desde ontem, da Conai na Cooperativa Central dos Produtores Rurais de Minas Gerais no complexo de cooperativas que integram a Itambé. A Conai, ou Cooperativa Nacional Agroindustrial, de Ribeirão Preto, composta por 500 produtores, fornecia inicialmente para o laticínio Nilza, que está em recuperação judicial. A Itambé reúne hoje 8,5 mil produtores. Segundo o presidente da Itambé, Jaques Gontijo, a questão fiscal e as circunstâncias de mercado foram determinantes para entrar no mercado de leite fluido em São Paulo.
"O governador [de São Paulo] José Serra fez uma reserva de mercado. Ele cobra 18% de ICMS sobre o leite de outros Estados, e isenta o produzido e vendido em São Paulo. Ao passo que aqui em Minas Gerais paga-se 7% para consumir dentro do Estado e 12% quando cruza as divisas", disse Gontijo. Segundo o executivo, a empresa vê perspectivas de crescimento no mercado de leite fluido em razão da diminuição da concorrência, com o desaparecimento de várias marcas. A Itambé chegou a processar 600 mil litros diários de leite fluido em meados dos anos 90, mas atualmente não passa dos 200 mil litros. No mercado de leite em pó, que concentra 50% do processamento da empresa, houve aumento de concorrência.
No primeiro quadrimestre deste ano, a Itambé reduziu o volume de leite processado de 410 milhões para 400 milhões de litros, em comparação com o mesmo período do ano passado, uma porcentagem próxima a 2%. Mas o recuo no faturamento foi muito mais expressivo: a receita caiu de R$ 670 milhões para cerca de R$ 600 milhões, algo em torno de 10%, segundo Gontijo, que apresentou números estimados.
O grande fator de retração foi a queda das exportações, com o término das encomendas da Venezuela. Com problemas para garantir o abastecimento do produto, o governo de Hugo Chávez fez grandes compras de leite em pó no ano passado e hoje conta com estoques volumosos.
As exportações no quadrimestre caíram de um patamar equivalente a R$ 130 milhões para R$ 36 milhões, frente quatro primeiros meses do ano passado. Para o resto do ano, Gontijo acredita que o mercado irá se estabilizar, com o faturamento da Itambé próximo aos R$ 2 bilhões obtidos em 2008. "A grande diferença será a redução da importância das exportações", disse.
Veículo: Valor Econômico