Uma "fábrica de pamonhas" funcionará em Tanquinho, distrito de Piracicaba. Objetivo é gerar emprego e renda.
André Alves
Pamonhas, pamonhas, pamonhas. Pamonhas de Piracicaba. É o puro creme do milho-verde. Venha provar minha senhora, é uma delícia, pamonhas fresquinhas, pamonhas caseiras, pamonhas de Piracicaba! Este slogan, tão habitual aos moradores de muitas cidades do interior e de vários bairros da capital, em breve voltará a fazer sentido. O município do interior paulista produzirá novamente o produto em escala comercial, pois uma agroindústria, já chamada de fábrica de pamonhas, está sendo construída em Tanquinho, distrito de Piracicaba com apenas 800 habitantes. A previsão é de que, quando pronta, no início de 2010, o empreendimento terá capacidade para produzir até 6 mil pamonhas por dia.
O auge da produção de pamonhas em Piracicaba aconteceu entre as décadas de 60 e 70, decaindo a partir de então. A implantação da Agroindústria do Centro Rural de Tanquinho trará desenvolvimento sustentável para a região. "Trata-se de um projeto de geração de trabalho e renda, com oportunidade para a inserção do pequeno produtor rural de base familiar no mercado de trabalho, valorizando a história e a cultura do município", disse o professor da USP José Albertino Bendassolli, presidente do Centro Rural de Tanquinho.
Verticalização
A implantação da agroindústria é fruto do Programa de Verticalização da Agricultura Familiar na Cadeia Produtiva do Milho-Verde, um projeto que reúne o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas de São Paulo (Sebrae-SP), por meio do Escritório Regional em Piracicaba, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), o Centro Rural de Tanquinho, a Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento de Piracicaba e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), financiadora do projeto.
Atualmente, não se produz mais pamonha em escala comercial em Piracicaba, que se destaca pela monocultura da cana-de-açúcar. "A plantação de milho não chega a 1% da área cultivada da cidade. Hoje importamos 95% do milho destinado para a produção de pamonhas", afirmou Bendassolli. Visando reverter essa realidade e aproveitando a fama da cidade e o sucesso da Festa do Milho em Tanquinho – que este ano, em sua 35ª edição, atraiu mais de 100 mil visitantes – surgiu a idéia do projeto da agroindústria.
Projeto
A idéia do projeto surgiu em 2005. Após as primeiras negociações, a agroindústria começou a ser construída no final de 2007. A estrutura física da fábrica – um galpão que ocupa uma área de 500 metros quadrados em Tanquinho – já está pronta. "Essa semana chegarão os maquinários da linha de produção, que tiveram de ser desenvolvidos e aperfeiçoados pelo programa Sebraetec, pois não existia nada de similar no mercado", disse Antonio Carlos Ribeiro, gerente do Sebrae-SP em Piracicaba.
O Sebrae, presente no projeto desde o início, oferecerá treinamento para os operários da fábrica e para os produtores de milho. A linha de produção terá o despolpador, que fará a retirada do milho das espigas e a moagem dos grãos, transformando-os em um creme.
A segunda máquina é o formulador, responsável pela mistura do milho moído, água e açúcar, que são os ingredientes da pamonha. O terceiro equipamento é o envasador, desenvolvido com um sistema de válvulas que determinarão a quantidade do creme, com um volume padrão para cada palha que envolve a pamonha.
Gaiolas
A linha de produção é finalizada com máquinas automatizadas para a costura de fechamento da palha. Em seguida, o produto será disposto em gaiolas com um sistema de guincho para que sejam mergulhadas nos tachos de cocção para o cozimento. O processo conta ainda com um sistema para higienização da palha. De acordo com Bendassolli, todo o processo produtivo leva em torno de três horas, preservando a higiene e o controle de qualidade. "Com o início da produção, a idéia é montar ao lado da fábrica uma loja para a venda de pamonhas", afirmou.
Comércio
Na opinião do presidente da Associação Comercial e Industrial de Piracicaba (Acip), José Antonio de Godoy, além do pequeno produtor, que poderá ampliar o cultivo do milho para atender a demanda da agroindústria, o projeto também beneficiará o turismo e o comércio local.
"A partir do momento em que aumenta a renda do pequeno produtor da região, o comércio sai ganhando. O aumento esperado no número de turistas também fomentará a economia do município. Acredito que Piracicaba resgatará a sua fama de terra da pamonha", disse Godoy.
Irmãs foram as pioneiras
Na voz do vendedor Dirceu Bigelli, o conhecido slogan "pamonhas de Piracicaba" espalhou-se Brasil afora. Pelo bordão, pode-se descobrir um pouco da história da iguaria no município. Tudo começou na década de 50, quando as irmãs Vasthy e Noemi Rodrigues decidiram fazer e vender pamonhas para ajudar no sustento da família. Na época, vendiam cerca de 200 unidades por dia, de porta em porta. Com o tempo, o cesto de Vasthy se tornou pequeno e a saída foi acomodar as pamonhas em um carrinho, puxado por um cavalo.
Com o sucesso conquistado pelo sabor, logo surgiram outros interessados em vender a iguaria, e as irmãs aumentaram a produção. Na década de 60, elas compravam roças inteiras de milho. O auge da fama foi na década de 70, quando a produção chegou a 6 mil unidades/ dia. Surgiram então os pamonheiros com seus carros equipados com amplificadores. A voz de Bigelli começou a ser usada por todos eles.
Com a morte de Vasthy, em 1983, o produto perdeu qualidade e a procura caiu. Bigelli ainda continuou vendendo pamonhas, adquiridas de outras pessoas que entraram no ramo, e só parou em 1990, quando morreu em um acidente de carro. Sua gravação é usada até hoje. "O conhecimento dessa história é importante para identificar o potencial existente e indicar a tendência de consumo do produto, servindo como indicador para as demais fases do Programa de Verticalização da Agricultura Familiar na Cadeia Produtiva do Milho-Verde", afirmou Laurival Barbosa Neto, gestor do projeto pelo Sebrae-SP.
Veículo: Diário do Comércio - SP