A dança das cadeiras no setor de varejo

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Ex-presidente do Wall-Mart no Brasil, Vicente Trius, que nos últimos dois anos esteve à frente das operações na Ásia, comandará os negócios do grupo na AL 

 

O vaivém de executivos nas grandes varejistas intensificou-se nos últimos meses. Entre as multinacionais, o Wal-Mart e o Carrefour estão reforçando o time na América Latina, o que é um sinal da maior importância da região no cenário global.


 
As empresas brasileiras também estão passando por transformações, motivadas tanto pela crescente tendência de profissionalização da gestão quanto por uma necessidade de renovação das lideranças.

 

O Wal-Mart trouxe de volta o ex-presidente do grupo no Brasil, Vicente Trius, que estava nos últimos dois anos à frente das operações na Ásia. Trius comandará de Miami (EUA) - apelidada de "capital" da América Latina - os negócios do Wal-Mart na região, onde o grupo fez recentemente uma grande aquisição.

 

O Wal-Mart comprou em janeiro deste ano a maior varejista do Chile, a D & S, pela qual pagou US$ 2,6 bilhões. A multinacional americana também mantém um plano agressivo de investimentos no Brasil, onde deve investir mais de R$ 1 bilhão neste ano.

 

No Carrefour, outro nome do alto escalão também está de volta: Eric Heiss. Ex-diretor financeiro da subsidiária brasileira, o executivo havia sido promovido a diretor financeiro do grupo, na França. Heiss responderá a partir de julho por um cargo recém-criado na operação brasileira, passando a chefiar os hipermercados. Quando esteve no Brasil, Heiss participou da constituição do banco Carrefour.

 

No caso das companhias brasileiras, mais varejistas estão passando por um processo de profissionalização da gestão. "No Brasil, esse é um setor no qual ainda existem muitas empresas familiares", afirma Paulo Amorim, da empresa de consultoria Korn/Ferry, especializada em seleção de executivos.

 

No entanto, a entrada de fundos de investimento no capital das companhias e o maior interesse dos controladores de abrir o capital no futuro estão levando muitas empresas a melhorar suas práticas de governança.

 

Esse é o caso do Magazine Luiza, rede de eletrodomésticos paulista, e da Quero-Quero, grande varejista gaúcha de material de construção e eletrodomésticos.

 

O controle da Quero-Quero foi comprado pelo fundo americano Advent em setembro de 2008. Neste ano, o fundo designou um executivo com larga experiência no varejo, Peter Furukawa, para presidir a rede gaúcha, que possui 170 lojas e fatura cerca de R$ 700 milhões por ano.

 

No Magazine Luiza, o fundo americano Capital Group detém uma participação no capital da empresa desde 2001, quando pagou R$ 120 milhões por 12% das ações. A varejista tem um firme plano de realizar uma oferta pública de ações na Bovespa e só não o fez até hoje porque a crise econômica a obrigou a adiar o processo.

 

Quem sempre esteve à frente do Magazine Luiza foi Luiza Trajano, sobrinha dos fundadores. Pela primeira vez, contudo, a empresa decidiu contratar um executivo de carreira. O escolhido foi Marcelo Silva. O executivo conduziu uma bem-sucedida re-estruturação de outra tradicional empresa familiar no país, a Pernambucanas, onde estava desde 2002. Luiza continuará como presidente, enquanto Silva passou a ocupar o cargo de executivo-chefe.

 

Em uma entrevista ao Valor há algumas semana, Luiza Trajano afirmou que a contratação de Marcelo Silva foi uma "oportunidade" que apareceu e que não poderia deixá-la escapar. O contrato do executivo com a Pernambucanas, segundo ela, havia chegado ao fim.

 

A contratação de Silva não é a única mudança no Magazine Luiza. A diretoria financeira da varejista também está passando por uma transição. Leonardo Horta, que ocupava o cargo, desligou-se da empresa em abril. Segundo a assessoria da varejista, o executivo saiu por questões pessoais e o seu sucessor ainda não foi nomeado.

 

"Em todo mundo, o varejo sempre foi um setor muito agitado, com uma rápida troca de executivos. Não consigo lembrar de nenhum outro segmento com uma rotatividade tão elevada", afirma Paulo Amorim, da Korn/Ferry.

 

A eclosão da crise econômica e a escassez de crédito só acentuaram a dança das cadeiras, sobretudo na área financeira. Com o encarecimento do crédito, o aumento da inadimplência e a necessidade das companhias de preservar o seu caixa, os executivos financeiros ficaram mais expostos às pressões.

 

"No varejo, a pressão dos acionistas por resultados sempre foi grande, mas provavelmente agora está maior", afirma Amorim. Historicamente, as margens de lucro no varejo estão entre as mais baixas se comparadas a outras atividades econômicas, o que aumenta as exigências sobre os gestores.

 

Na avaliação do consultor da Korn/Ferry, no entanto, a crise pode ter acelerado mas não é o principal motivo por trás da dança das cadeiras. Um exemplo é o Ponto Frio, cujo controle foi adquirido na semana passada pelo Grupo Pão de Açúcar. Os controladores já queriam vender o Ponto Frio há dez anos e não foi nenhuma surpresa a conclusão do negócio. Pelo contrário. Durante os últimos anos, os executivos que passaram pela varejista buscaram deixá-la mais sólida e, provavelmente, mais atraente aos compradores.

 

A saída dos presidentes da C&A e da Pernambucanas neste ano também possuem um ingrediente em comum. Em ambos os casos, os executivos já estavam há seis ou sete anos no cargo e tiveram êxito à frente dos negócios.

 

"Existe um ciclo natural de troca a cada cinco anos aproximadamente", afirma Amorim, para quem tanto as empresas como os próprios executivos sentem, em um determinado momento, que precisam se renovar. Em alguns casos, os presidentes executivos passam a ansiar por uma maior autonomia.

 

Na Pernambucanas, o escolhido para suceder Marcelo Silva foi Dílson Santos, que foi trazido por ele para a empresa. Na C&A, após a saída de Luiz Fazzio, Edward Brenninkmeijer assumiu o leme. O executivo é herdeiro do clã que fundou a C&A há mais de 100 anos, na Holanda. Os membros da família costumam acompanhar de perto a gestão dos seus negócios.
 

 

Veículo: Valor Econômico


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