Feijão chega a ser vendido por 60% abaixo do preço do fim do ano passado e o arroz, com redução de 6%
No fim do ano passado, o agricultor Tamoto Chayamiti, de Capão Bonito, no sudoeste do Estado de São Paulo, vendeu a saca de 60 quilos de feijão carioquinha por R$ 160. Na semana passada, ele entregou o último lote colhido na safra da seca por R$ 65 a saca.
O produtor não entendia a razão da queda de 60% no preço do grão em tão pouco tempo. "O pior é que o custo de produção aumentou", disse ele.
O feijão não foi o único produto cujo preço caiu recentemente. Em maio, em razão da grande oferta - por causa da colheita do fim de safra no Sul, o arroz foi negociado por um preço 6% abaixo do seu pico neste ano.
Para o engenheiro agrônomo Vandir Daniel da Silva, da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado, a razão é simples: o feijão (como o arroz) é uma cultura doméstica e os preços são regidos pelo movimento de oferta e procura, por isso sofrem o chamado efeito gangorra. "Quando o preço está alto, todo mundo planta e ele despenca."
O técnico lembra que, em 2007, a saca chegou a ser vendida por R$ 300 na região. Foi o que bastou para que todo agricultor reservasse um pedaço de terra para essa cultura. "Como o mercado todo é interno, hoje está sobrando feijão."
A abundância do grão refletiu no comércio. Consumidores que há dois anos chegaram a pagar R$ 8 pelo quilo de feijão da melhor qualidade encontravam o produto por R$ 2,70 nos supermercados. A safra paulista do ano passado foi de 169,2 mil hectares, 10 mil hectares a mais que a anterior, segundo o Instituto de Economia Agrícola (IEA) da secretaria. A produção, de 5,2 milhões de sacas de 60 quilos, cresceu 12% em relação a 2007.
No sudoeste de São Paulo, que responde por mais de 60% da cultura no Estado, agricultores que plantaram a safra da seca, a primeira do ano, tiveram prejuízos. Chayamiti calculava uma perda, por baixo, de R$ 15 por saca. "O clima não ajudou, houve infestação de pragas e a produtividade ficou muito abaixo da esperada", disse.
De acordo com o agrônomo da secretaria, a cultura sofreu com a seca e foi atacada pela mosca branca. Para complicar, o mercado paulista foi inundado pelo feijão de outras regiões produtoras que tiveram supersafras. "Estamos recebendo de Irecê, no oeste da Bahia, Unaí, em Minas Gerais, e de Cristalina, em Goiás", disse Everaldo Fagundes, corretor da Zona Cerealista de São Paulo.
Na bolsinha paulistana, na quarta-feira, o preço teve uma leve reação, com média de R$ 70 para o produtor. O melhor feijão procedente de Itapetininga, sudoeste paulista, alcançou o preço máximo de R$ 80.
Fagundes acredita que a intervenção da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), garantindo o feijão por R$ 80, por meio da Aquisição do Governo Federal (AGF), ajudou a evitar queda maior de preço. A previsão da Conab, de redução de pelo menos 3% na produção nacional este ano, pode ajudar a recompor o valor do feijão no segundo semestre.
A oscilação nos preços não assusta produtores tradicionais, como Ariolvalo Fellet, da fazenda Lagoa Bonita, em Itaberá (SP). Ele vai plantar 500 hectares este ano e a área toda terá pivôs de irrigação. A cultura irrigada tem custo alto - em torno de R$ 3 mil por hectare -, mas reduz o risco de perda.
O agricultor espera colher 57 sacas por hectare. Fellet transferiu para o feijão a tecnologia usada no cultivo de commodities como a soja, trigo e milho. Acostumado à gangorra dos preços - nos últimos dez anos o preço foi R$ 29 a R$ 280 por saca - ele diz que a cultura é uma boa aposta. "Quem produz bem não fica no prejuízo."
Veículo: O Estado de S.Paulo