A fabricante de brinquedos eletrônicos Tectoy está em busca de um ou mais sócios que capitalizem a companhia em R$ 50 milhões para dar vida ao negócio, que nunca mais foi o mesmo desde a concorda, há praticamente uma década. O objetivo é conseguir os recursos ainda neste ano.
Não há um formato definido para a operação, que será um teste para a estratégia de negócio definida pela administração. O volume pretendido supera a receita líquida anual. A empresa ainda está prospectando interessados, trabalho que está aos cuidados da assessoria financeira Stratus.
Uma capitalização desse porte tem, inclusive, capacidade para alterar o controle da companhia. Hoje, a Tectoy vale em bolsa perto de R$ 68 milhões e um aumento de capital dessa proporção diluiria os atuais acionistas.
"Minha preocupação maior é com o sucesso do negócio e não com a manutenção do controle", disse Stefano Arnhold, presidente do conselho de administração e representante da família controladora da empresa.
Nas sociedades que hoje detêm o controle da Tectoy - Eagle Brazil e Steluc - há ainda participações minoritárias da família fundadora da Tectoy, Dazcal. Também são sócios pequenos nessas empresas Leo e Abe Kryss, com fatias da época da parceria com a Evadin, indústria brasileira pioneira na área de eletroeletrônicos e informática.
O novo dinheiro almejado pela Tectoy tem destino certo: o projeto Zeebo, um console de jogos eletrônicos criado em parceria com a americana Qualcomm. O produto é a espinha dorsal dos esforços de revitalização da companhia.
Parte dos recursos, segundo Fernando Fischer, presidente da empresa, vai para a joint venture com a Qualcomm, cuja sede fica em San Diego (EUA). Até o fim deste ano, a companhia americana de tecnologia celular fará o terceiro aporte na unidade estrangeira e a companhia brasileira, que hoje tem 57% da sociedade, não quer ser diluída na operação. Para isso, necessita de US$ 7 milhões.
O restante do capital levantado seria destinado para dar fôlego comercial ao Zeebo, com a compra de componentes para montar os consoles na fábrica da Zona Franca de Manaus, investimento em marketing e capital de giro.
Os planos para o Zeebo são ambiciosos. Na visão de Arnhold, que assumiu a Tectoy após o falecimento do fundador Daniel Dazcal, em 1994, o produto foi desenvolvido para atender países em desenvolvimento, em que a renda da população é menor.
Trata-se de um console que não depende de jogos físicos. Com tecnologia celular embutida, o abastecimento é por downloads, o que torna o produto mais barato. Há um piloto na cidade do Rio de Janeiro e o lançamento oficial ocorrerá até o Dia das Crianças.
Os trabalhos para dar vida nova à Tectoy, porém, não são novos. O plano foi lançado em 2007, mas até agora não trouxe resultados práticos. Havia aposta na área de TV digital, mas que não se concretizou. Arnhold defende que o desenvolvimento de jogos é um processo longo e que espera começar a colher frutos até o fim do ano.
Fischer acredita que se o projeto Zeebo for conduzido conforme idealizado colocará a Tectoy na rota de uma receita anual de R$ 200 milhões - cinco vezes mais que as vendas líquidas de 2008.
Desde a concordata, em 1997, a companhia não mais voltou ao patamar atingido no início daquela década, com brinquedos eletrônicos como Pense Bem, Master System e Mega Drive. A empresa perdeu espaço com a abertura do mercado para importados e o avanço da pirataria.
Em 1994, um ano após a abertura de capital, chegou a ter receita bruta de US$ 110 milhões. No ano da concordata, o faturamento já estava na casa de R$ 72 milhões. De lá para cá, encolheu continuamente. No primeiro trimestre deste ano, a receita líquida ficou em R$ 5,8 milhões. Cerca de 60% das vendas vêm de um nicho específico de DVD para entretenimento, como o aparelho com karaokê.
Há praticamente uma década, o faturamento líquido está na faixa de R$ 25 milhões a R$ 45 milhões. O patrimônio líquido, então, está negativo desde 1998.
Mas, no preparo para essa captação, os controladores concluíram recentemente uma operação que deve permitir que o patrimônio volte a ser positivo.
A Eagle Brazil, dos controladores, comprou no mercado cerca de 90% das debêntures emitidas pela Tectoy em 2000 e que ainda estavam em circulação. Os papéis traziam um peso de R$ 28 milhões ao passivo da empresa. Com a eliminação da maior parte desse compromisso, o patrimônio líquido, que estava negativo em R$ 18,2 milhões em março, poderá alcançar o equilíbrio - ainda que apertado.
O valor contábil da transação foi de R$ 26 milhões, mas o desembolso - não revelado - foi substancialmente menor. Os papéis não pagavam juros, pois davam direito a participação no lucro da empresa. Mas a empresa não é lucrativa desde a fase da concordata.
Ao adquirir os títulos, a Eagle passou a ter um crédito com a Tectoy. Para eliminá-lo, converteu-o numa participação maior na empresa. Assim, os controladores ampliaram a participação direta e indiretamente de 43% para 70% das ações ordinárias (com voto) e de 22% para 44% das preferenciais (sem voto). No capital total, a fatia subiu de 32,5% para 52,5%.
Segundo ele, a medida era importante. As debêntures tinham prioridade no recebimento de participação nos lucros inclusive sobre os dividendos, o que retirava atratividade das ações para a capitalização. Além disso, o patrimônio líquido negativo atrapalha a vida da companhia. "Perdemos a possibilidade de subvenção de projetos por causa disso", afirmou.
Veículo: Valor Econômico