Pessimismo embala o início da colheita de laranja em SP

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Começou a ganhar força a colheita daquela que deverá se configurar como uma das safras de laranja de São Paulo menos lucrativas. Para as grandes indústrias exportadoras de suco, afirmam especialistas, será uma temporada de demanda ainda restrita, preços baixos e margens apertadas. Para boa parte dos produtores da fruta do Estado, que reúne o maior parque citrícola do mundo, será um ciclo de prejuízos; para alguns deles, de mudança de atividade.

 

"A situação está complicadíssima na citricultura", afirma Margarete Boteon, pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Cepea/Esalq). Ela diz que para os produtores que fizeram caixa de 2004 a 2006 com as valorizações do suco e da fruta derivadas da redução da oferta na Flórida, o cenário é difícil. Para quem não aproveitou esta última onda de altas, derivada dos danos causados por furacões no Estado americano cujo parque citrícola só perde para o paulista, o quadro é insustentável.

 

Tanto pessimismo decorre de uma relação entre custos e preços que Marco Antonio dos Santos, presidente do Sindicato Rural de Taquaritinga, conhece bem. Mesmo com a recente baixa dos insumos, o custo operacional do citricultor médio varia de R$ 10 a R$ 11 por caixa de 40,8 quilos de laranja. No mercado "spot" de São Paulo, as indústrias pagaram, ontem, R$ 3,68 pela caixa, em média. No caso dos fornecedores fiéis, que fecham acordos de longo prazo com as empresas, a maior parte dos contratos vai de US$ 3 a US$ 4,50.

 
 
"Nesta semana as indústrias voltaram ao mercado, mas comprando apenas de quem tem contrato. Algumas fábricas já estão rodando há cerca de um mês, mas processando apenas a produção das próprias empresas [que representa algo como 30% de suas demandas totais]", afirma Santos, que também coordena a mesa de citricultura da Federação da Agricultura do Estado de São Paulo (Faesp). A colheita de variedades precoces de laranja desta temporada 2009/10 (ano industrial) teve início há algumas semanas, mas começou a ganhar ritmo agora e estará a todo o vapor entre setembro e outubro. Ele diz que apenas metade da safra paulista atual, que equivale a 80% da nacional, está "contratada".

 

Segundo levantamento divulgado ontem pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA) - vinculado à Secretaria da Agricultura de São Paulo -, os pomares ocupam 725,98 mil hectares em 2009/10, mesmo patamar da safra anterior. A produção poderá chegar a 358,4 milhões de caixas, aumento de quase 2%. O IEA estima que 81% da produção poderá ser destinada à indústria de suco, mas admite que não necessariamente toda a produção será colhida. Produtores, indústrias e analistas divergem do IEA e projetam a safra em cerca de 300 milhões de caixas no total.

 

Ainda assim é um volume considerável para um mercado de preços em queda há pelo menos dois anos. Apesar da tendência descendente, a caixa da laranja foi vendida, em média, por cerca de R$ 10 em 2008/09, valor que foi suficiente para pagar custos e render lucros aos citricultores mais eficientes. Na Flórida, a colheita deverá render entre 140 milhões e 150 milhões de caixas de laranja, o menor volume em alguns anos.

 

"É o momento mais delicado da história recente da citricultura", afirma Maurício Mendes, presidente da consultoria AgraFNP e membro do Grupo de Consultores em Citrus (GConsi). Ele lembra que, em termos de margens do produtor, a nova safra é semelhante às colhidas no início desta década. Entre 1999 e 2001, lembra, o custo girava em torno de US$ 2,70 a US$ 3 por caixa, e o preço da laranja no mercado spot estava em US$ 1. Na época, São Paulo perdeu entre 80 mil e 100 mil hectares de laranja e esse espaço foi ocupado principalmente pela cana.

 

"Não estou dizendo que vai acontecer a mesma coisa agora, mas a conjuntura atual é ainda pior por causa do greening [doença que exige a erradicação de pomares e eleva os custos de produção]. Temos uma certeza, que é a rentabilidade baixa, e muitas incertezas sanítárias", diz. Mesmo as grandes indústrias (Cutrale, Citrosuco, Louis Dreyfus e Citrovita lideram as exportações brasileiras de suco), que investiram algumas centenas de milhões de dólares em pomares próprios e logística para transportar suco não concentrado (NFC) nos últimos anos, também não estão confortáveis, já que a demanda e os preços continuam retraídos.

 

De acordo com dados publicados ontem pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), as exportações de suco de laranja do país alcançaram US$ 105,4 milhões em junho, a um preço médio de US$ 813,5 por tonelada. No mesmo mês de 2008, foram US$ 167,4 milhões, ou US$ 963 por tonelada.

 

Veículo: Valor Econômico


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