O uso da marca Bosch foi um dos aspectos mais espinhosos no processo de venda das operações da fabricante de eletrodomésticos alemã BSH no Brasil. O controlador do grupo mexicano Mabe, Luis Berrondo, afirmou que, no início das conversações, a BSH não queria lhe conceder o direito de comercializar produtos com o nome Bosch no mercado brasileiro. "Sem a marca, não teríamos fechado negócio", disse o empresário.
A Mabe desembolsou US$ 35 milhões pelo braço brasileiro da BSH e vai pagar royalties à multinacional alemã para utilizar a marca Bosch no país. A BSH vai monitorar os passos da fabricante mexicana e pode rescindir o contrato quando quiser, desde que com seis meses de antecedência.
A empresa alemã está entre as líderes de mercado na Europa, mas sua presença era tímida na América Latina, o que a levou a se desfazer das operações no Brasil. Os possíveis interessados na aquisição foram consultados em outubro do ano passado pelo Credit Suisse, banco contratado pela BSH.
"As negociações demoraram apenas seis meses, um prazo muito curto para uma aquisição", disse Berrondo, que atribuiu a rapidez à determinação dos alemães.
Com a aquisição, a Mabe quase dobra de tamanho no Brasil. O faturamento anual do grupo no país saltará de US$ 500 milhões para US$ 900 milhões. No México, afirma Berrondo, as vendas anuais da Mabe no mercado interno, excluindo as exportações, estão em US$ 800 milhões.
Mas um dos grandes desafios que a Mabe terá pela frente com a aquisição será a gestão de cinco marcas distintas no Brasil. Em alguns casos, deve haver conflito ou sobreposição entre elas. Além da Bosch, o grupo mexicano herdou da BSH o nome Continental. A Mabe, porém, já utiliza três marcas diferentes no país, GE, Mabe e Dako, que estão posicionadas nos mercados de alta, média e baixa renda, respectivamente.
Estima-se que a Bosch e a Continental detenham juntas entre 9% e 10% de participação no mercado brasileiro de eletrodomésticos. A Mabe, que possui outros 16%, passa a controlar cerca de 25% das vendas no mercado interno do país.
Em comunicado à imprensa , a Mabe declarou que agora é a segunda maior fabricante de linha branca do Brasil, superando a Electrolux, se considerado apenas o consumo doméstico brasileiro.
A Electrolux contestou a informação, alegando que sua participação no segmento de linha branca (fogões, refrigeradores e lavadoras) foi de 30% entre janeiro a junho deste ano, em volume de vendas. Esse resultado, portanto, a mantém em segundo lugar.
De acordo com a Mabe, a participação da Electrolux seria de 21%. A Whirlpool, líder no setor, afirmou que detém 40% do mercado de linha branca.
O pior cenário para a Mabe seria se a Electrolux tivesse adquirido as operações da BSH. Caso isso acontecesse, a distância ficaria maior entre elas e seria mais difícil para o grupo mexicano disputar o segundo lugar. "Antes, só havia dois grandes fabricantes no Brasil. Agora, são três", diz Patricio Mendizabal, presidente da Mabe no Brasil.
A Electrolux teria saído cedo da disputa pela BSH, segundo fontes. Em 2009, a multinacional sueca congelou salários e decidiu não pagar dividendos pela primeira vez em 10 anos para preservar o caixa, segundo a Bloomberg.
Veículo: Valor Econômico