A maior empresa de lácteos da Argentina, a Mastellone Hermanos, dona da marca La Serenísima, está à venda. Pelo menos foi o que deu a entender um comunicado oficial da companhia, enviado dia 16 de junho à Comissão de Valores Mobiliários (CNV) local. Segundo a imprensa argentina, há pelo menos dois interessados na empresa: a francesa Danone e a brasileira Brazil Foods (BRF), resultado da fusão da Sadia com a Perdigão.
Procurado pelo Valor, Nildemar Secches, copresidente do conselho de administração da Brazil Foods, disse que a companhia não está em negociação com a empresa argentina. Secches afirmou que a Perdigão conversou com a Mastellone "há muito tempo [antes da fusão com a Sadia], mas não houve evolução". A Danone não comentou o assunto.
No dia 16 de junho, a Mastellone enviou um comunicado oficial à CNV, respondendo a um pedido de informações das autoridades locais sobre uma matéria publicada no jornal "La Nación", afirmando (a partir de fontes não-identificadas) que a Danone estaria negociando a aquisição do controle da Mastellone Hermanos.
Fontes afirmaram que as negociações com a Danone fazem todo sentido, uma vez que as empresas já possuem parceria.
Na mensagem à CNV, a Mastellone informou que mantém com a Danone um "vínculo comercial e estratégico" muito estreito, a ponto de compartilharem a logística de abastecimento de leite e a distribuição de vários de seus produtos, assim como também as marcas "La Serenísima" (leite e derivados) e "Ser" (iogurtes e sobremesas dietéticas). Trata-se de uma joint venture, firmada em 1996, para produção e distribuição de produtos de ambas as marcas. Por esse motivo, afirma a empresa, existiria um "diálogo" constante entre as duas companhias. "Dentro deste marco, temos analisado preliminarmente distintas alternativas de negócios". Mas destaca que "não existe nenhum acordo a respeito".
A notícia agitou os meios empresariais, rurais e políticos argentinos. Com 80 anos de existência, a Mastellone detém 70% do mercado de leite na capital e na província de Buenos Aires, a maior e mais importante do país. Dos 10,1 milhões de litros processados na Argentina por dia, responde por 4,8 milhões. Para uma receita em 2008 de pouco mais de US$ 600 milhões, a companhia registrou prejuízo (pelo terceiro ano consecutivo) de US$ 140 milhões e uma dívida total de US$ 230 milhões. Por outro lado, tem um crédito de aproximadamente US$ 18 milhões com o governo em subsídios para manutenção dos preços ao consumidor.
A Mastellone é uma das poucas grandes empresas que sobreviveram, não apenas à crise de 2001, mas também à onda de "estrangeirização" do capital que dominou o mundo corporativo argentino depois da crise. O governo argentino chegou a informar que não deixaria a empresa ser vendida a um estrangeiro.
Veículo: Valor Econômico