Cozinha made in México

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Com a compra da BSH, a mexicana Mabe atinge dois objetivos: se aproximar da liderança no Brasil e se defender da chegada das asiáticas

 

Desde a quarta-feira 1o, a chance de se encontrar um eletrodoméstico de marca mexicana em residências brasileiras passou a ser de 25%. Tudo graças à compra da alemã BSH pelo Grupo Mabe, por R$ 70 milhões. A transação elevou sua fatia do setor de linha branca do País para 25%, incorporando as marcas Bosch e Continental a seu port-fólio, que já contava com os nomes GE, Dako e Mabe. A compra ainda a colocou na vice-liderança da categoria, pouco atrás da Whirlpool, que tem 36,5% de participação de mercado. Você acreditaria, apesar disso tudo, em Patrício Mendizábal, diretor da empresa no Mercosul, quando ele diz que o próximo passo do grupo será consolidar as operações e manter o nível atual de venda das duas? Alguns analistas do setor não acreditam. Para eles, essa foi, na realidade, mais uma forte investida da Mabe em busca da liderança do mercado. Para eles, no mínimo, a transação servirá para proteger melhor a empresa contra uma eventual – e cada vez mais provável – invasão de peso das sul-coreanas Samsung e LG que, até agora, têm participação tímida no Brasil. “Ambas têm presença forte em linha branca em outros países e podem chegar ao Brasil a qualquer momento”, diz Eugênio Foganholo, diretor da Mixxer, consultoria especializada no setor. “Não há dúvida de que a compra da BSH faz parte de uma estratégia de expansão da Mabe, mas também prepara melhor a empresa para enfrentar essas duas sombras”, explica o consultor.


 
De acordo com Alexandre Andrade, analista de varejo da Tendências Consultoria, a mexicana agora se coloca em posição mais vantajosa para buscar a liderança do mercado. “A Mabe ganha mais calibre com a BSH para disputar participação com a Whirlpool. Juntando as duas operações, ela será beneficiada por importantes reduções de custo e sinergias, que aumentarão seu poder de competição”, afirma. Na prática, isso se traduzirá em uma concentração de mercado maior, avalia Foganholo, da Mixxer. “Mas, por paradoxal que isso possa parecer, a maior concentração pode trazer benefícios para lojistas e consumidores”, diz Foganholo. “A briga deverá aumentar no topo do ranking, com a Mabe atuando de forma mais agressiva e a Whirlpool e a Electrolux agindo para manter suas participações atuais”, diz.

 

Nem mesmo o Conselho Adminis-trativo de Defesa Econômica (Cade) deve ser uma pedra no sapato dos planos da Mabe. Segundo Luis Guilherme Raposo, diretor da BDO-Trevisan e especialista em fusões e aquisições, o negócio certamente será analisado pelo órgão, pois, no mínimo, a companhia resultante supera participação de 20% do mercado. “Mas como o resultado é a segunda maior empresa do setor, e não a primeira, não acredito que vá haver problemas para que o negócio seja aprovado”, afirma. Segundo Mendizábal, porém, a Mabe não foi ativa em busca da transação, mas foi procurada pela própria BSH. Outras empresas participaram desse “leilão”, que durou seis meses até ser concluído, afirma o executivo. Ele afirma, ainda, que a crise não foi um fator decisivo, embora possa ter acelerado a conclusão da transação. Insistindo que agora o objetivo é avaliar melhor a BSH e a operação conjunta com a estrutura atual da Mabe, o executivo reconhece que, num primeiro momento, pode haver algumas demissões. “Mas isso deve ocorrer no curto prazo apenas”, explica. Segundo o executivo, a incorporação da BSH servirá para acelerar o ritmo de expansão da empresa no País. A partir disso, a intenção é elevar a participação da operação brasileira no faturamento total do grupo. Apenas com a aquisição, essa fatia já passou de 12% para 18%, afirma Mendizábal.

 


Veículo: Revista Isto É Dinheiro


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