As exportações brasileiras de café bateram recorde na safra 2008/09, encerrada em junho, com cerca de 31,4 milhões de sacas negociadas, superando a marca obtida no ciclo 2002/03, quando o país colheu a maior produção de sua história e embarcou cerca de 29,5 milhões de sacas. O Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) deverá divulgar os números oficiais hoje.
Longe do brilho que tinha nos anos 50, quando o grão era líder absoluto na balança comercial brasileira, a cultura do café trava uma disputa para se manter competitiva. Apesar da pujança dos números exportados e do crescente consumo no país, os produtores afirmam que estão no vermelho, sobretudo por causa do aumento dos custos.
"O café como negócio continua muito grande no país, mas a cultura foi perdendo importância para outras atividades econômicas. Ainda assim, a cafeicultura é um dos maiores empregadores do país. Há alguns anos, o produtor sonhava com a saca do café em US$ 100. Hoje já superou os US$ 100, mas não é mais vantagem", observa o especialista Eduardo Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes.
Maior exportador e produtor mundial, o Brasil também está na disputa para se tornar o maior consumidor global. Os planos eram que essa meta fosse alcançada em 2010, quando poderia atingir a marca de 21 milhões de sacas consumidas no país. No entanto, a desaceleração do crescimento da demanda em 2008, por conta da crise, quando as vendas subiram apenas 3,2%, para 17,66 milhões de sacas, ante uma elevação média de 5% a 6% ao ano, levou a Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) a alterar a meta de atingir a liderança no consumo para 2012.
Para 2009, as projeções iniciais indicavam uma elevação das vendas de apenas 3%, para 18,2 milhões de sacas. Mas o desempenho nos primeiros cinco meses do ano apontou uma alta de 15,3% das vendas no mercado interno. Ainda surpreso com os números, Nathan Herszkowicz, diretor da Abic, acredita que 2009 poderá crescer acima da meta tímida estipulada de 3%, embora acredite que haverá uma desaceleração até o fim do ano. "Esses números indicam que a crise não atingiu diretamente o setor de alimentos e bebidas. Também notamos um primeiro semestre concorrido entre as indústrias de café", afirma Herszkowicz.
Para os produtores, contudo, os bons números das exportações e de vendas no mercado não chegam à cadeia. "Só está na cafeicultura quem é teimoso", diz Gilson Ximenes, diretor do Conselho Nacional do Café (CNC). Este discurso é repetido pelos produtores como um mantra, mas Ximenes diz que os custos de produção estão bem acima dos preços praticados no mercado (custo de R$ 300 para venda de R$ 270). "Não existe mais plantio novo no país. O que há é renovação dos cafezais. E é muito difícil conseguir a liberação de recursos anunciados pelo governo para a colheita e comercialização."
O país está em plena colheita de sua safra de baixa produtividade. Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indicam produção de 39 milhões de sacas em 2009, um recuo de 15% sobre 2008.
Neste ano, o café acumula alta de 3,1% em Nova York. A valorização reflete o equilíbrio entre a oferta e demanda mundial. Carvalhaes lembra que apesar da alta dos preços do grão no mercado internacional, os preços em dólar não são mais atraentes. "Os contratos de Nova York têm o café colombiano como referência. Os grãos do Brasil, o maior produtor, têm desconto sobre Nova York. Temos que resolver o problema de imagem do Brasil. Todas as grandes redes de café, que antes hostilizavam o grão brasileiro, agora buscam café de qualidade aqui".
Como medida para elevar os preços no país, o governo federal deverá anunciar esta semana as datas para os leilões dos contratos de opção de compra, segundo Lucas Ferreira, diretor de café do Ministério da Agricultura. O governo pretende gastar R$ 1 bilhão de reais na compra de café. Esta é uma maneira encontrada pelo governo de recuperar seus estoques, hoje praticamente zerados, em torno de 600 mil sacas, ante 18 milhões de sacas à época da extinção do Instituto Brasileiro do Café (IBC).
Veículo: Valor Econômico