Dorival Caymmi não iria gostar nada dessa notícia, mas a brasileira está se maquiando mais. Ao contrário do compositor (que em uma de suas canções se aborrecia com a musa que pintou o rosto) a indústria da beleza nacional está exultante com a mudança de comportamento. Por isso, as três maiores marcas do país - Avon, Natura e O Boticário - se preparam para atrair essa consumidora que quer ir cada vez mais além do batom em direção às bases, corretivos, sombras, blushes e outros itens.
"Há dez anos, quase 90% das vendas de maquiagem eram só de batons e brilhos para os lábios", diz Mônica Gregori, diretora da unidade de negócios da Natura que engloba produtos para maquiar, citando dados de mercado. "Hoje, a linha para lábios ainda tem 45% das vendas, o que mostra que cada vez mais a mulher está se interessando por outros produtos para sofisticar o visual", afirma ela.
Na Avon, que domina 49% do comércio de produtos para maquiagem no país, as vendas de produtos para face e olhos vêm mostrando forte tendência de alta desde o meio de 2008. "Só para se ter uma ideia, vendemos uma máscara para cílios a cada dois segundos", diz Luiz Felipe Miranda, presidente da Avon Brasil. Ontem, a empresa lançou sua nova linha de maquiagem, com a atriz Ana Paula Arósio como garota-propaganda. O destaque são os itens para coloração da pele, que vão desde a base compacta que serve também como corretivo e filtro solar até o creme base que disfarça poros abertos e tira o brilho da pele oleosa.
A multinacional americana vai divulgar no fim do mês seus resultados referentes ao segundo trimestre, mas o executivo já adianta: "Tivemos um crescimento real em volume acima do esperado e melhor que nos primeiros três meses do ano", afirma. De janeiro a março, a fabricante teve alta de 12% nas vendas em reais. Em dólares, entretanto, houve queda de 18%. "Nos preparamos tanto para vender mais e minimizar o efeito moeda (que acontecia com a valorização do dólar no início do ano) que conseguimos um crescimento de vendas surpreendente, seja qual for a cotação da moeda", diz Miranda.
A Natura, que deve divulgar resultados no dia 19, também vendeu mais itens de maquiagem. Por isso, a empresa lança em agosto a reformulação da sua linha Aquarela - a que abrange mais consumidoras, segundo Mônica Gregori. "Os produtos para maquiagem demandam por movimentação, porque boa parte das compras são por impulso", diz.
O Boticário também está com novidades no gatilho. Em setembro a empresa paranaense coloca em sua rede de lojas a nova linha Intense, com produtos até 50% mais baratos que os itens tradicionais da grife. Na verdade, a linha é resultado do sucesso de um único artigo, o batom Intense, lançado em 2008 com posicionamento de preço bem abaixo dos produtos da marca. A Base Intense, por exemplo, custará R$ 17,90, o batom R$ 9,90 e a sombra R$ 15,90. Até então, a base mais em conta do Boticário custava R$ 36,90, o batom R$ 22,90 e a sobra, R$ 34,90.
Diante desses números, fica clara a estratégia da empresa: conquistar uma consumidora de menor poder aquisitivo. "O sucesso dos batons Intense nos motivou a ampliar a linha, buscando novas consumidoras. E essa boa performance não afetou as vendas dos demais batons, o que nos fez perceber que temos um mercado potencial para ambos os perfis de maquiagem", afirma Marselha Tinelli, gerente de categoria de maquiagem da companhia.
Na Avon, algo semelhante acontece no Nordeste. "A região com maior alta de vendas no primeiro trimestre do ano no Brasil foi a de Fortaleza, no Ceará", diz Miranda. A receita em Fortaleza e região cresceu 50% em relação ao mesmo período de 2008. Para fortalecer o crescimento, a Avon vai aumentar a capacidade do centro de distribuição de Maracanaú (CE). A empresa tem outros centros de distribuição em Osasco (SP) e em Salvador (BA). No fim de 2010 fica pronto o centro de Louveira (SP), que recebe US$ 150 milhões.
Veículo: Valor Econômico