Embaladas pelo aumento de 3,4% no rendimento real dos trabalhadores, as vendas do comércio varejista registraram crescimento de 0,8% em relação a abril, interrompendo dois meses consecutivos de retração. Nove de dez setores pesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontaram expansão, segundo número divulgados ontem. Com esse resultado, as vendas no ano acumulam elevação de 4,4% frente a igual período de 2008. Saldo que, segundo Nilo Lopes, técnico IBGE, deve ser classificado como "excepcional", por ter resistido aos impactos da crise mundial e ser calculado sobre uma base de comparação muito elevada no ano passado, o comércio crescia a taxas próximas de 10%.
Mesmo nos setores mais dependentes de crédito, como o automotivo e o de materiais de construção, que compõem o varejo ampliado, as vendas tiveram incremento de 3,7% em maio ante abril e de 3,3% sobre maio de 2008. "Ainda que a oferta de financiamentos aos consumidores não tenha voltado aos níveis de antes da crise, as vendas de carros e de materiais de construção responderam muito bem à decisão do governo de reduzir o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) desses produtos", disse Lopes. O mesmo raciocínio vale para os eletrodomésticos, que saíram de uma queda de 2% em abril para uma ligeira alta de 0,1% no mês seguinte.
Na avaliação da economista-chefe do Banco ING, Zeina Latif, dificilmente o varejo reverterá esse quadro positivo até o fim do ano. Primeiro, porque a inflação tende a se manter sob controle, preservando o poder de compra das famílias, ponto fundamental para o grupo supermercados, hipermercados, alimentação, bebidas e fumo, que responde por quase 45% do cálculo da Pesquisa Mensal do Comércio (PMC). Segundo, porque não se espera uma nova onda de desemprego na verdade, as contratações já voltaram a superar as demissões. Terceiro, porque os juros estão em queda e o crédito à pessoa física está retornando aos níveis pré-crise. "Realmente, está surpreendendo muito o comportamento firme da demanda, contrariando as expectativas mais pessimistas", disse Zeina.
Segundo o presidente da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), Roque Pellizzaro, esse comportamento diferenciado decorre de características particulares do varejo brasileiro. "Em mais de 5 mil municípios do país, o comércio é dominado por pequenos comerciantes, que dependem muito mais do desempenho da economia local do que de fatores externos. Além disso, o grosso do varejo financia a clientela com recursos próprios. Ou seja, como a crise mundial provocou escassez de crédito bancário, o varejo nacional não sentiu o baque que muitos alardeavam", afirmou o empresário, que aposta em crescimento entre 5% e 6% para o comércio neste ano.
Veículo: Jornal do Commercio - RJ