Conceito de qualidade total chega às tangerinas

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Variedade sem sementes dekopon passa por rigorosa seleção para conquistar o padrão kinsei, para exportação

 

Produtores de tangerina dekopon, variedade sem semente ainda nova no mercado, adotam técnicas de cultivo que conferem à fruta padrão internacional. A tangerina que atinge o padrão especificado ganha um selo de qualidade com a marca kinsei, conferido pela Associação Paulista dos Produtores de Caqui (APPC), com sede em Pilar do Sul, região de Sorocaba, e que reúne 25 produtores de tangerina.

 

"É como se a kinsei fosse outra fruta", diz o agrônomo e consultor Sérgio Ituo Masunaga. "Ela se diferencia da dekopon em tamanho, cor e sabor." Para ser considerada kinsei, a dekopon precisa pesar mais de 300 gramas, ser colhida a partir de 285 dias da florada e atingir um brix (teor de açúcar) mínimo de 12 graus, com acidez de 1,2% ou menos.

 

MACIA E DOCE

 

Nessas condições, a fruta se torna mais macia e doce. E alcança preço até 50% maior do que a dekopon comum. Masunaga diz que não é fácil alcançar o padrão kinsei. Este ano, só 10% de toda a fruta colhida vai receber o selo. Os produtores cultivam 100 hectares e devem colher 3 mil toneladas, das quais só 300 serão kinsei. A safra prossegue até meados de agosto.

 

Desenvolvida no Japão, a partir do cruzamento do tangor kiyoumi com a poncã, a dekopon foi introduzida aqui no fim da década de 80 por um produtor do sul de Minas. A fruta chama a atenção pelo tamanho (o dobro da poncã), a coloração amarela intensa e o "pescoço", uma saliência na região do pedúnculo. Conforme Masunaga, embora fosse novidade e tivesse o atrativo da falta de sementes, a disseminação foi prejudicada por falhas no manejo. "Os produtores empregavam as mesmas técnicas usadas para a poncã e colhiam uma fruta muito ácida."

 

Como alguns associados da APPC tinham formado pomares, a entidade passou a buscar uma forma de melhorar a fruta. Uma parceria com o governo do Japão, por meio da Agência Internacional de Cooperação (Jica), resultou na vinda de um especialista que recomendou a substituição do porta-enxerto de limão-cravo para os cultivares poncirus trifoliata e swingle citromelo. Cerca de 40 hectares com novas mudas foram plantados a partir de 2004. Os cultivos anteriores estão sendo adaptados.

 

Além do porta-enxerto, foram introduzidas outras técnicas, como o sistema de plantio em camaleão - uma espécie de canteiro alteado, onde são dispostas as mudas -, adubação orgânica, irrigação e poda. As plantas devem ser irrigadas, a menos que chova, duas vezes por semana no período de 60 dias após a florada até o amarelecimento de 50% das frutas.

 

DESBASTE

 

A poda, importante para manter o vigor da planta, deve ser acompanhada de um desbaste rigoroso, para que fiquem apenas de sete a oito frutos por metro cúbico de copa. O raleamento permite a obtenção de frutos maiores, com peso entre 400 e 500 gramas.

 

Uma das intervenções mais significativas foi o período da colheita.Como a fruta tem um período de maturação longo, os produtores colhiam assim que a fruta ficava amarela. "Agora sabemos que não basta a tangerina parecer madura, ela tem de estar madura", diz Masunaga. Para atingir o brix ideal, ela precisa ficar mais tempo no pé. "Com 220 dias após a florada o pomar já está colorido, mas deve-se esperar mais dois meses e meio para colher." Fruta colhida antes não atinge o brix exigido para virar kinsei. Por questão de logística, porém, grandes produtores têm de colher antes para não haver acúmulo e possíveis perdas no período ideal.

 

Produtor já colheu uma fruta com 1,26 quilo de peso

 

O fruticultor Luiz Takafuji, de Ibiúna, tem 4.500 pés de dekopon em 7 hectares e antecipa parte da colheita. "O pomar é grande e não posso concentrar a colheita na mesma época." Ele é um dos pioneiros no plantio e agora se adapta às novas regras para a dekopon. A colheita é toda manual e os funcionários usam tesouras especiais, com a ponta em curva, para retirar a fruta do pé sem arrancar o pedúnculo, evitando danos aos frutos.

 

Takafuji, que toca a propriedade com os filhos Rodrigo e Humberto, faz a seleção em packing house próprio. "Deixo as tangerinas em descanso por quatro dias antes de mandar para o mercado." Esse repouso é recomendado para elevar o teor de açúcar e revelar os frutos danificados - a tangerina com furos na casca murcha.

 

Como cada planta chega a carregar 40 quilos de tangerina, o produtor tem de escorar os galhos. No ano passado, Takafuji colheu uma tangerina com 1,26 quilo. Semana passada, ele vendia a dekopon por R$ 1,50 o quilo. "O preço está baixo por causa da concorrência da poncã, que produziu muito." Ele espera obter preços melhores nas próximas semanas, quando acabar a safra da variedade concorrente.

 

O produtor Cláudio Shoiti Ito, de Pilar do Sul, cultiva 800 pés e espera ter a maior parte da produção classificada como kinsei. A expectativa é obter preço 50% maior que o da dekopon. Ele embala as frutas em caixas personalizadas, com até 14 frutas por caixa. Cada tangerina recebe um selo. A produção é enviada para os Ceasas de São Paulo e Ribeirão Preto. "Estamos abrindo mercado para essa fruta, que tem um potencial muito bom."

 

Ito é um dos candidatos a se tornarem exportadores de kinsei. O presidente da APPC, Shuji Gocho, vê um grande potencial no mercado externo. "Enviamos amostras para o exterior e a receptividade foi boa." A associação já exporta outras frutas, como caqui e atemóia.
Também realiza um trabalho de divulgação. No dia 26, receberá 200 turistas de São Paulo para visitação de pomares e degustação.

 

Veículo: O Estado de S.Paulo


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