Tudo começou com uma maçãzinha. O consumidor brasileiro sempre gostou das maiores maçãs e as pequenas, que pela natureza nascem no mesmo pé das mais graúdas, nunca tiveram muito mercado. Mas, em 1995, a agropecuária Pomelle, comprada em 1998 pela Fisher, teve a ideia de embalar as minimaçãs e vendê-las com uma marca: Maçã da Turma da Mônica. Surgia, então, o primeiro produto de hortifruti embalado com marca no mercado brasileiro. Hoje, 14 anos depois, as miúdas maçãs são consideradas as precursoras de uma tendência que desde o início do ano vêm ganhando mais espaço nos supermercados: as frutas e verduras com marca.
"Muito consumidor já pede o produto pela marca", diz Paulo Oliveira, diretor de perecíveis do Wal-Mart. Dentre os mais requisitados, seja no Wal-Mart, no Pão de Açúcar ou no Carrefour, estão as Maçã Turma da Mônica, os tomates Mallmann (Hortigranjeiros Mallmann), o melão Rei (Itaueira Agropecuária), o abacaxi Redinha (Hatori ) e os mamões golden Turma da Mônica (Gaia Agribusiness).
"São produtos selecionados, que o consumidor pode comprar sem precisar escolher. Dá para levar de olhos fechados", diz Waldir Ladário, diretor de frutas, legumes e verduras do Carrefour.
A diferença entre esses itens e as tradicionais bandejinhas de isopor é que as primeiras são empacotadas no supermercado. A seleção é feita na loja. Mas os produtos embalados pelo fornecedor vão além. "É uma produção especial. No nosso caso, são tomates que crescem em estufa, com fertilizantes diferenciados e higienização bem mais intensa que a dos produtos a granel", afirma Marcos Leite Ferreira, administrador da Hortigranjeiros Mallmann.
Esse processo, segundo a pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz), Margarete Boteon, é chamado de manipulação mínima. "Esse é um mercado que tem crescido por iniciativa dos varejistas. Eles têm pressionado os fornecedores a oferecer cada vez mais produtos embalados", afirma. Isso acontece, segundo Leonardo Miyao, diretor de frutas, legumes e verduras do Grupo Pão de Açúcar, por exigência do consumidor.
"A maior parte das pessoas ainda tem a cultura de pegar, cheirar e escolher antes de comprar. Mas uma parcela importante dos clientes não tem mais tempo para isso", afirma Miyao. Por isso, a companhia incluiu embalados em suas duas linhas de marca própria, a Qualitá e a Taeq. "Em algumas lojas da rede, os embalados, seja com a marca do fornecedor ou com as do grupo, já são 25% do faturamento da seção de hortifruti", afirma.
O mesmo crescimento se reflete com os produtores, como a Mallmann. A empresa, no ano passado, vendeu 111 mil quilos do "tomate Mallmann", faturando R$ 298 mil. Este ano, até o início da semana, as vendas já somavam mais que o dobro do total de 2008. Foram 227,7 mil quilos que geraram R$ 780 mil.
No Carrefour, segundo Ladário, as vendas desse tipo de item crescem 15% ao mês desde o início do ano. Por isso a rede está investindo para ampliar a variedade de embalados com marca (própria ou não). Em setembro, o Carrefour lança uma linha inteira de frutas e legumes embalados desde o fornecedor com a marca Carrefour. "São vários itens hoje vendidos a granel que terão a versão embalada", explica o diretor. "Essa é uma tendência de mercado inevitável", afirma. "Na Europa e nos Estados Unidos, a maior parte dos mercados é assim", acrescenta o diretor.
No Wal-Mart - que também acaba de lançar uma linha de produtos marca própria incluindo hotifrutis embalados - esses itens têm mais saída durante a noite. "São os consumidores que saem do trabalho e passam no mercado antes de ir para casa", explica Oliveira. "Eles não querem perder tempo escolhendo, embalando e pesando. Por isso preferem legumes e frutas de marca", completa.
No geral, as frutas e legumes de marca são entre 10% e 15% mais caros que os vendidos a granel. E, mesmo ainda não tão familiares para o consumidor como Omo ou Bombril, essas marcas já passam alguma confiança. "Mesmo pagando mais, o consumidor leva porque sabe que, ao chegar em casa, vai aproveitar tudo o que está na embalagem. Dificilmente vai haver uma maçã ou um kiwi podre no pacote", afirma Wilson Passos, gerente de vendas da Fisher, produtora das maçãs da Turma da Mônica.
"O consumidor percebe um diferencial de qualidade nesses produtos. Além disso, ele não precisa ficar escolhendo, maçã por maçã, tomate por tomate. É só pegar a embalagem e colocar no carrinho, o que é muito prático porque boa parte dos consumidores não sabe escolher entre um produto bom e outro já muito maduro", diz o vice-presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas), Martinho Paiva Moreira.
Para o varejista, a vantagem é a rentabilidade, que sobe na mesma proporção do preço. "Fora isso, muita gente que não compra hortifruti agora leva esses itens para casa porque não é preciso escolher", acrescenta Miyao, do Pão de Açúcar. Outra vantagem - que também vale para o fornecedor - é a diminuição no desperdício, seja por avaria ou por degustação na loja. Dependendo do produto, mais da metade do que o varejista compra vai para o lixo por conta desses dois fatores. "Em se tratando de uvas, por exemplo, 30% do que a loja compra é perdido por degustação no ponto de venda", diz Miyao.
A embalagem combate, de certa forma, essas perdas. "A cultura da experimentação, de cheirar, de apalpar e até de degustar o produto antes de comprá-lo sempre vai existir", afirma Ladário, do Carrefour. Mas o supermercado e o produtor precisam satisfazer tanto esse cliente, que gosta de escolher, quanto o que faz a compra correndo, já cansado do trabalho e quer chegar logo em casa.
Veículo: Valor