Os preços de soja, milho e trigo, as principais commodities agrícolas negociadas no mercado internacional, confirmaram expectativas ancoradas nos fundamentos de oferta e demanda e encerraram julho com preços inferiores aos de junho na bolsa de Chicago, conforme cálculos do Valor Data baseados nas médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega, normalmente os de maior liquidez.
Mais influenciados por movimentos especulativos do que os produtos agrícolas negociados na bolsa de Nova York - açúcar, café, cacau, suco de laranja e algodão, as chamadas "soft commodities"-, os grãos continuaram atraentes para os grandes fundos e tiveram na erosão do dólar um fator importante de sustentação, mas a força dos fundamentos prevaleceu.
Segundo Antonio Sartori, da corretora gaúcha Brasoja, isso se explica pela "troca de guarda" entre os Hemisférios Sul e Norte na formação de preços. Se até junho quebras de safras em países como Argentina, Brasil e Paraguai ajudaram a oferecer suporte às cotações, principalmente de soja e milho, em julho o clima favorável ao desenvolvimento das lavouras americanas concentrou as atenções.
As quedas, portanto, não surpreenderam. No caso da soja, por exemplo, Sartori observa que, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), Brasil, Argentina e Paraguai colheram 95,3 milhões de toneladas na recém-concluída safra 2008/09, , 20,9 milhões de toneladas a menos que em 2007/08. "Para 2009/10 o USDA prevê uma produção americana de quase 90 milhões de toneladas, ante 80 milhões em 2008/09, e 119,2 milhões de toneladas de soja nos três países sul-americanos. Portanto, também não será surpreendente se os preços ficarem mais baixos no ano que vem".
Também com a ajuda da boa demanda da China, em Chicago o bushel da soja, carro-chefe do agronegócio brasileiro, fechou julho com preço médio de US$ 10,0781, 12,01% menos que o de junho. Com isso, a alta em relação à média praticada em dezembro recuou para 15,48%. Em relação a julho de 2008, quando o grão atingiu seu pico histórico na bolsa, a retração chega a 32,8%. Ainda assim, o atual patamar segue bem acima da média histórica até 2007, de cerca de US$ 6 por bushel.
Ainda que a atual safra de milho em desenvolvimento nos EUA seja menor que a anterior, o fato de o clima no país não ter causado estragos significativos pesou contra os preços, que encerraram julho com preço médio de US$ 3,3338 por bushel, 20,85% a menos que em junho. No critério das médias mensais, a commodity passou a acumular baixas de 11,13% em 2009 e de 49,3% nos últimos 12 meses. Também o milho teve máximas históricas em julho de 2008.
O trigo não foge à regra. A "força" argentina perdeu espaço para o "weather market" no Hemisfério Norte, e mesmo com as projeções de retração da oferta nos EUA, o clima favorável por lá atuou como fator "baixista". Em julho, o bushel ficou em US$ 5,4218, 10,94% menos que em junho e com quedas de 1,33% no ano e de 34,81% sobre media de julho do ano passado.
Em Nova York os fundamentos continuaram em voga, oferecendo sustentação aos preços da maior parte das "soft commodities". A maior alta foi a do suco (13,12% em relação à média de junho, para 96,03 centavos de dólar por libra-peso), mas neste caso com a ajuda de movimentos financeiros que tentaram "devolver" o produto para mais perto de US$ 1. Assim, o destaque foi novamente o açúcar, que entre as oito commodities agrícolas mais negociadas pelo Brasil é a que acumula a maior valorização em 2009 (55,67%) e a única a subir em relação à média de julho de 2008 (25,99%).
O açúcar tem como forte respaldo a menor produção de cana da Índia, segundo maior produtor mundial, e também o atraso da colheita no Centro-Sul do Brasil, segundo Arnaldo Corrêa, diretor da Archer Consulting. A Índia é a principal responsável pelo segundo déficit global consecutivo. Havia uma expectativa de recuperação da produção naquele país. Contudo, o clima tem prejudicado o andamento da safra de cana indiana. No mês de julho, a cotação média da commodity ficou em 18,47 centavos de dólar por libra-peso, com valorização de 11,08%.
O atraso na colheita do café do Brasil também chegou a dar bom suporte aos preços do grão no mercado internacional nos últimos dias do mês, mas não foi suficiente para garantir ganhos. Neste caso, as vendas dos fundos levaram a melhor sobre os fundamentos.
O mercado já absorveu que o Brasil deverá ter uma colheita menor neste ciclo por conta da bianulidade da safra. "Há uma demanda global por café de qualidade. No entanto, a quebra da safra da Colômbia e o atraso da colheita do Brasil, por conta das chuvas, comprometem a oferta", afirmou Rodrigo Costa, da Newedge em Nova York. Em julho, o preço médio do café foi de US$ 1,2094 a libra-peso, com queda de 5,59% sobre junho.
A cobertura dos fundos também influenciou o mercado de algodão em julho, afirmou Fernando Martins, da Newedge. Neste caso, os preços do algodão subiram 6,99%, para uma média de 60,74 centavos de dólar por libra-peso. A sinalização de que a China poderá elevar suas importações da pluma também ajudou a dar suporte às cotações.
No cacau, não houve fundamentos de forte impacto para a cultura. "De concreto, não há nada. Já as especulações são as mais malucas. O esmagamento recuou em julho na América do Norte, mas os preços subiram", afirmou Thomas Hartmann, da TH Consultoria. O preço médio do cacau registrou alta de 3,77% sobre junho, para US$ 2.738,95.
Veículo: Valor Econômico