O mercado de alumínio parece estar transgredindo alguns dos princípios mais básicos da economia. Os preços já subiram 30% este ano, uma recuperação que desafia a gravidade, diante da queda da demanda e do crescente excesso de oferta.
Klaus Kleinfeld, diretor-presidente da Alcoa, a produtora de alumínio dos Estados Unidos, alertou recentemente que o consumo mundial vai cair 7% este ano.
Mas mesmo havendo grande queda na demanda nos setores aeroespacial e da construção, atingidos pela recessão, os preços do alumínio na Bolsa de Metais de Londres (LME) subiram além da marca de US$ 2.000 a tonelada - na semana passada atingiram US$ 2.115, o maior nível desde novembro.
Uma explicação do aparente mistério está no mundo pouco transparente dos estoques de alumínio. Nos últimos meses, os estoques cresceram nos depósitos da LME, com os níveis quase dobrando este ano para o recorde em torno de 4,6 milhões de toneladas. Isso é suficiente para 48 dias de consumo mundial do metal. Mas cerca de 75% dos estoques da LME podem estar presos a depósitos ou acordos de financiamento, segundo estimativas do setor. Isso significa que eles não podem ser usados, o que reduz a oferta disponível para 1 milhão de toneladas - ou apenas 10 dias de consumo.
"Essa oferta efetiva de 1 milhão de toneladas é mais consistente com o comportamento recente dos preços, do que com uma montanha de quase 4,6 milhões de toneladas", afirma Leon Westgate do Standard Bank.
Sob os acordos de financiamento, os operadores pagam os depósitos para armazenarem o metal enquanto eles estão bloqueados (locked in) nos contratos futuros de preços mais altos da LME, tirando vantagem da curva íngreme para cima dos futuros. Isso permite aos que têm alumínio, vender o metal com lucros maiores em um estágio posterior.
Como o metal é armazenado em depósitos e atrelado a acordos financeiros, sua disponibilidade física é reduzida. Isso, segundo o Deutsche Bank, está levando os estoques livremente disponíveis a um patamar recorde de baixa.
Aqueles no mercado que estão pessimista em relação ao alumínio afirmam que esse padrão não poderá continuar para sempre, uma vez que parte do metal atualmente amarrado em algum momento vai retornar ao mercado. "O alumínio não conseguirá escapar do excesso de estoques", diz Michael Jansen, analista do JP Morgan, que acredita que os preços deverão continuar agitados enquanto o metal estiver entrando e saindo dos depósitos.
Outro fator que poderá afetar o mercado é que uma parte da capacidade de produção foi deixada ociosa após o colapso dos preços no ano passado. Alguns operadores afirmam que à medida que os preços forem se recuperando, a produção deverá aumentar, especialmente na China
Veículo: Valor Econômico