Saca de feijão, que era vendida a R$ 240, cai para R$ 80. Soja e trigo também estão em baixa
Há um ano, o fazendeiro Clécio Klein, em atividade no Distrito Federal, vendia uma saca de 60 kg de feijão por R$ 240 e neste ano, o único preço que consegue é R$ 80. Produtor de trigo, milho, soja e sorgo, Klein sentiu a queda. A cooperativa da qual faz parte possui 107 agricultores e a reclamação é a mesma: querem o retorno dos valores de 2008, negociados antes da crise.
Estudo da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômicos (OCDE) e da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação (FAO) constata que os preços dos alimentos permanecerão baixos nos próximos dois anos. Após esse período, relata o agrônomo Cláudio Malinski, a tendência será de alta, influenciada, principalmente, pela retomada da economia mundial.
“Se houver essa valorização será bom”, afirma Derci Cenci, produtor de soja e feijão no DF. O outro lado dessa questão é que, quanto mais os produtos agrícolas subirem, mais caro ficará o prato de comida. Por enquanto, o que há são os efeitos da crise mundial, que reduziu a demanda mundial por alimentos, puxando para baixo alguns preços.
Oferta
Segundo levantamento feito pela Fundação Getulio Vargas (FGV) a pedido do Correio, alimentos derivados de commodities tiveram deflação em 12 meses até junho. Pão francês (-1,72%), biscoito (-0,86%), farinha de trigo (-18,29%), macarrão (-0,96%) foram os mais afetados pelo recuo das commodities. “O trigo tem um conjunto de derivados muito grande e todos estão com queda no preço. O que mostra bem o efeito da crise”, relata o pesquisador da FGV André Braz. Também nos últimos 12 meses, o óleo de soja teve recuo de 24%. De acordo com a FGV, os preços do feijão e do arroz também registraram desaceleração, mas como não são commodities, a influência internacional foi mínima.
Para a OCDE, essa desacelaração se deve à maior oferta de itens da agropecuária, diminuição do consumo e preços de petróleo mais baixos, o que teria resultado em uma redução de valores para níveis inferiores aos de 2007 e 2008.
Preço mínimo
Por causa dos preços baixos, problemas de transporte e de clima em algumas regiões, o
Ministério da Agricultura interveio no mercado. Até agosto, comprometeu R$ 3,6 bilhões em programas de apoio à comercialização, do tipo garantia de preços mínimos. O valor é o dobro do de 2008 e a previsão é que a cifra aumente. A pasta negocia com o Ministério da Fazenda mais recursos. O objetivo é fechar o ano com gasto de R$ 5,2 bilhões.
Na avaliação do coordenador do Sensor Econômico do Instituto de Pesquisa Economica Aplicada (Ipea), Ricardo Amorim, os preços agrícolas teriam chegado ao “fundo do poço”. “A China, que é uma das maiores consumidoras de commodities, não deixará a economia desacelerar muito”, afirma. “Daqui para frente, não deve haver mais quedas de preços nos itens agrícolas. Os movimentos que podem ocorrer são de especulações com os estoques”, conclui.
Memória
Crise dos alimentos
Entre 2006 e 2008, os preços dos produtos agrícolas se mantivem extremante elevados devido à combinação de demanda mundial alta e produção agrícola baixa. Por isso, ao longo desses anos a população mundial conviveu com o risco de desabastecimento, situação que levou a Organização das Nações Unidas (ONU) a classificar o período como de crise alimentar. Na época, a instituição responsabilizou a destinação de alimentos para a produção de biodiesel e a especulação financeira com commodities alimentares pela alta dos preços. O relator da ONU, Jean Ziegler, chegou a defender a suspensão da produção de biocombustíveis por cinco anos e acusou especuladores de serem responsáveis por 30% da alta das cotações dos produtos agrícolas.
Veículo: Correio Braziliense