A macadâmia é cultivada há 4 décadas no Brasil. Pesquisadores tentam agora aumentar rendimento e resistência
O cultivo comercial de noz macadâmia no Brasil é recente, tem no máximo 40 anos, e a produtividade ainda é baixa. O País, o sétimo em produção mundial (2.400 toneladas, em 7 mil hectares), tem cerca de 250 produtores, sendo 160 deles no Estado de São Paulo. A maior safra brasileira ocorreu em 2006, com 3.500 toneladas. Por isso, técnicos e pesquisadores unem forças para estudar as variedades, nutrição, melhoramento genético e o controle fitossanitário.
Produtores apoiam e colaboram com a iniciativa, como Aleudo Coelho Santana, de Jaboticabal (SP), há 15 anos na atividade. Com a crise da laranja, Santana erradicou 15 mil pés de citros e iniciou o plantio de macadâmia. "Ninguém conhecia a macadâmia, mas não me arrependo, apesar do dólar barato atualmente", diz. "A macadâmia começa a produzir com 8 anos, mas dura 60 anos", diz.
A árvore mais velha da Fazendinha Belo Horizonte, de Santana, tem 15 anos e a mais nova, 8. Ele cultiva 7 mil pés em 34 hectares. A safra deste ano foi de 60 toneladas de noz em casca, com rendimento de 15 toneladas de amêndoas (25%) para a indústria - o que se paga é pela amêndoa. Em 2008, o porcentual foi de 22% (média brasileira), enquanto o Havaí tem rendimento de 26% e a Austrália entre 30% e 31%. "Está bom", diz o diretor da indústria Macadâmia Fazendinha, Daniel Ramiro. A fábrica surgiu há três anos. Antes da crise do dólar, a safra era vendida a três indústrias do setor - uma em Dois Córregos (SP), uma no Rio e outra no Espírito Santo - e exportada. A crise gerou o surgimento de pequenas fábricas (cerca de 15), como a de Jaboticabal, que passou a explorar só o mercado interno.
ERROS
"O erro era sempre focar no mercado externo", diz Santana. "Diziam que o mercado interno não absorvia porque a macadâmia é cara, mas tínhamos que ir atrás, pois existem pessoas que dão valor a isso, além do que a macadâmia é rica em ômega 3." A intenção, até 2010, é plantar mais mil pés. A pequena fábrica atende o interior de SP e Minas. Em 2008, além das 40 toneladas de noz em casca da Fazendinha, a fábrica comprou 40 toneladas de outros produtores.
Santana tem secador na fazenda, pois a noz deve ser colhida com 15% de umidade na roça, mas entregue com 1,5% à indústria. E nada se perde do fruto da macadâmia, que tem três camadas: a amêndoa (comestível), a casca (usada na fornalha de secagem e como substrato para proteger as mudas) e o carpelo (camada externa, que, misturada com esterco, vira adubo natural, usado no pomar). Metade da noz em casca significa metade em carpelo. "E ainda sobra casca."
Pesquisadores fazem testes de nutrição
Testes com adubação e controle de pragas para encontrar tecnologia brasileira de manejo do pomar
A QueenNut, de Dois Córregos, é uma das grandes indústrias de macadâmia do País. Aberta em 1993, exporta 90% do que processa, ou 160 toneladas/ano, para Europa, América do Norte, Emirados Árabes, Israel, China e Japão. "O agricultor brasileiro não é capitalizado e é preciso pelo menos dez anos de investimento para ter retorno", diz a proprietária da empresa, Maria Teresa Egreja Camargo. "A baixa produtividade é um problema a ser resolvido."
A QueenNut planta 300 hectares de macadâmia (cerca de 65 mil árvores), além de vender mudas. Em 1 hectare podem ser plantadas entre 200 e 250 plantas. O gerente agrícola da empresa, Leonardo Moriya, destaca que a espécie precisa de temperatura média anual de 25 graus. "E abaixo de 15 graus no inverno para ter estímulo floral." Além de São Paulo, Minas e Espírito Santo, sul da Bahia, Rio de Janeiro, Mato Grosso e norte do Paraná têm pomares.
BAIXA PRODUTIVIDADE
No mundo, a produção de macadâmia é de 100 mil toneladas de noz em casca. A Austrália lidera (com 37 mil toneladas), seguida de África do Sul (26 mil toneladas) e Havaí (20 mil toneladas). A baixa produtividade brasileira é notória, comparando-se com a do Havaí, que produz as 20 mil toneladas em 6 mil hectares, ou seja, em mil hectares a menos. Para mudar isso, técnicos e pesquisadores paulistas se organizaram, num grupo técnico, apoiados pela Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta), da Secretaria Estadual da Agricultura, para desenvolver a cultura da noz macadâmia no Brasil.
Na Fazendinha, em Jaboticabal, os pesquisadores Marcos José Perdoná e Eduardo Suguino fazem dois experimentos voltados à nutrição da planta. Foram delimitadas 36 áreas, em dois pomares. Numa delas, a adubação é parcelada cinco vezes por ano. Em outra área, quatro vezes/ano. O padrão é de três vezes ao ano. "Estamos testando para ver qual seria o resultado", diz Perdoná. "Precisamos de pesquisa, pois só temos informações da Austrália e do Havaí."
O controle de pragas e doenças é outra preocupação. "Um exemplo disso é o pulgão: devemos matá-lo com inseticida ou deixá-lo, para que a abelha polinize as flores?", cita Perdoná.
Como evitar o abortamento de 50% dos frutos na fase chumbinho e aumentar a produtividade da noz é outra indagação. Moriya cita como pragas preocupantes ácaro, percevejo, bicho furão e cigarrinhas. Perdoná diz que podem ser feitos consórcios de culturas com a macadâmia (distância de 6 metros entre as plantas e arruamento de 8 metros) como café, mandioca e milho. "A macadâmia é boa alternativa para arborização do café."
Produzir óleo não é compensador
A macadâmia é originária da Austrália e foi descoberta no fim do século 19, mas o cultivo começou ao Havaí na década de 1930, época em que chegou a primeira muda da planta ao Brasil, com pesquisas iniciadas pelo IAC-Apta, em Campinas (SP), na década seguinte. As primeiras plantações comerciais aqui surgiram na década de 1970, em São Sebastião da Grama (SP) e Poços de Caldas (MG), e ainda produzem. A macadâmia tem como subproduto o óleo, destinado às indústrias cosmética e farmacêutica. Entre 3% e 5% da produção de amêndoas não aceitas pelo mercado (quebradas ou pequenas) são destinados ao óleo. "São necessários 3 quilos de amêndoas para 1 litro de óleo, com preço ridículo", diz o diretor da QueenNut e da Associação Brasileira de Noz Macadâmia (ABM), Pedro Toledo Piza. Ele compara: se o valor do quilo de amêndoa para consumo sai por US$ 8, o destinado ao óleo vale US$ 0,50. Dez variedades são produzidas aqui, sendo 40% nacionalizadas pelo IAC, com base em material genético do Havaí, e 60% vindas da Austrália e Havaí.
Veículo: O Estado de S.Paulo