O mercado de azeite no Brasil vem se beneficiando muito do crescimento da renda da classe C e da sofisticação culinária dos consumidores. Suas vendas vêm crescendo 6% ao ano e, atualmente, o País é o quinto maior importador mundial do produto e o terceiro de azeitonas, um negócio de US$ 400 milhões anuais. Entretanto, ainda existe um enorme potencial de crescimento para o óleo extraído da oliva no Brasil já que o consumo per capita continua muito baixo (cerca de 170 ml por ano). Para se ter uma ideia, os gregos consomem 22 litros por ano. Já o consumo per capita anual entre os espanhóis gira em torno de 17 litros anuais. Os setores de importação e de supermercados trabalha com a estimativa de que o mercado interno duplique até 2015.
De olho nesse crescimento, produtores, importadores, especialistas e profissionais da área se reuniram ontem na ExpoAzeite 2009, terceira edição do encontro dedicado à promoção do azeite, com degustações, workshops e palestras. Segundo Marcio Milan, vice-presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), 77% do azeite vendido na Grande São Paulo é consumido pelas classes A e B (no País, esse número cai um pouco, para 60,5%).
Mas o administrador português Carlos Quintino, da Oliva Real, deseja que seu produto esteja ao alcance de todos, apesar da belíssima embalagem (detalhe que pode encarecer o preço final). "Queremos que ele seja democrático", diz Quintino. Ele ainda não colocou seus azeites nas prateleiras brasileiras ("estamos em contato com importadoras"), mas o mercado nacional, ao lado da Ásia e dos Estados Unidos, "desperta interesse e faz parte de um projeto de internacionalização" da empresa portuguesa. "Achamos que o Brasil está num processo evolutivo – o consumidor está desejoso de informação."
O azeite Oliva Real é produzido a partir de azeitonas verdes das variedades Galega, Verdeal e Cordovil de Serpa, resultando num produto "frutado de verde intenso, relativamente complexo, ligeiramente amargo e picante".
Se o leitor achou que o azeite está com pinta de vinho, usando (e abusando) do vocabulário usado nas degustações da bebida, acertou em cheio. Tal qual o vinho, aqui também a degustação é a melhor maneira de escolher um bom azeite.
Figo e maçã
O 1492 Picual, variedade de origem espanhola produzida pela Olivares de Quepu (Chile), tem "aromas frescos de folhas verdes de tomate e árvores de figo" enquanto o 1492 Frantoio "evoca aromas agradáveis de ervas que acabaram de ser colhidas, lembrando a fragrância de rúcula". Os chilenos garantem que seus azeites são melhores que os espanhóis – a Espanha é o maior produtor mundial – porque são feitos com azeitonas de acidez mais baixa. A União Europeia classifica de azeites de oliva extra virgem aqueles que possuem acidez menor que 0,8%.
O Manzanilla, da Família Zuccardi (Argentina), tem "sabor frutado que lembra casca de maçã, com final levemente picante e fresco". Mais conhecido por seus vinhos (dos quais são produtores há 40 anos, segundo Miguel Zuccardi), o clã agora segue ganhando destaque internacional com seus azeites. O Manzanilla levou em 2009 o terceiro lugar na categoria frutado médio num dos principais concursos do produto no mundo, realizado na Itália. No ano passado, essa distinção tinha sido ganha pelo varietal (feito com apenas uma variedade de azeitona) Arauco ("aroma de grama recém cortada"), mostrando que a Zuccardi tem um portfólio de azeites que o consumidor brasileiro vai gostar de conhecer.
Linha orgânica pega o embalo
A variedade de tipos e marcas que estão sendo colocados (ou serão em breve) para a escolha do consumidor brasileiro é ampla. Há linhas com o realce de temperos e linhas de produtos orgânicos. O extra virgem Sierra Cadiz, por exemplo, lançado no mês passado pela Jasmine Alimentos, realçou sua linha com óleos aromáticos – o Orgânico Aromatizado Alho e o Orgânico Aromatizado Manjericão. "Temos azeite extra virgem, mas queremos alavancar os produtos orgânicos porque a Jasmine vem de uma tradição macrobiótica", explica Vivente Van de Velde, gerente de comércio exterior da empresa paranaense.
Segundo Fabio Xavier, gerente comercial da di Salerno, importadora que tem sua marca própria de azeite (envasado na origem, Espanha), com o aumento do consumo cresceu também a concorrência, o que não diminui em nada o nível de empolgação do mercado. Marcio Milan, vice-presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), concorda: "O azeite vive um momento muito bom aqui no Brasil."
Veículo: Diário do Comércio - SP