Ainda faltam 51 dias para o término da prorrogação de isenção do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) para produtos da linha branca, mas o setor já começa a se articular para manter em um patamar mais reduzido o tributo federal para refrigeradores e lavadoras de roupa ao mesmo nível que os fogões, cuja alíquota é de 4%. A ideia é fazer com que o governo reconheça o que é chamado de "essencialidade" desses dois utensílios domésticos, fato que já acontece para os fogões, e dessa forma fazer do estímulo concedido em abril, uma política de longo prazo. Dentre os argumentos está a conta de quanto se resumiu a renúncia fiscal, anualizada, aproximadamente R$ 200 milhões.
Segundo o presidente da Mabe no Mercosul, Patrício Mendizábal, esse montante é apenas o que o governo deixou de arrecadar com a isenção, sem contabilizar a manutenção de empregos e de produção que essas medidas proporcionaram. O executivo disse com exclusividade ao DCI que a partir de agora o setor começará as conversas com o governo para obter a classificação de essencialidade para estimular as vendas, principalmente de lavadoras. "Agora, estamos brigando pra o reconhecimento da essencialidade dos produtos da linha branca", disse. "Queremos uma definição da alíquota em um patamar que seja razoável, não precisa zerar, poderia ser os 4% dos fogões. Acho que seria um patamar muito bom", afirmou ele que revelou ainda que o setor quer estabelecer o conceito de que todo brasileiro deveria ter em casa um fogão, um refrigerador e uma lavadora.
Segundo dados de 2007 divulgados pela Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos (Eletros) apenas 39,25% dos lares brasileiros possuíam lavadora de roupas, 91,03% tinham refrigeradores e fogões são encontrados em 99,9% das casas no Brasil, os dados são do IBGE.
Enquanto não há uma definição para esse assunto, o setor deverá buscar uma nova prorrogação da redução do IPI. Segundo o presidente da multinacional mexicana que fabrica as marcas Mabe, General Electric, Dako e, mais recentemente, Continental e Bosch, a Eletros e os fabricantes tem esse ponto na agenda como um dos mais importantes assuntos para ser discutido. Outro argumento que deverá ser utilizado é a aumento das vendas e do nível de capacidade da indústria que está em utilização.
Crescimento
Na Mabe, o desempenho das vendas vem se mantendo no mesmo patamar de crescimento desde maio, cerca de 20% a mais que no mesmo mês de 2008. Porém, com o cenário de possível retorno da alíquota ao patamar anterior a dúvida ficará com os dois últimos meses do ano, pois o movimento promete ser até 25% maior que no ano passado em decorrência de uma antecipação das compras para o final de outubro por parte dos lojistas para aproveitarem o preço mais baixo e oferecer produtos a preços ainda sem IPI para o Natal.
Aliás, a Mabe já possui acordos negociados para o final do ano. Mendizábal disse que dependendo da decisão governamental, os pedidos serão feitos para o mês que vem ou para os dois últimos meses. Essa última opção preocupa o executivo, pois com o preço maior, a concentração de negócios em um mês poderá forçar demais a cadeia produtiva não deixando nada para novembro e dezembro que poderão ser fracos em vendas da indústria em decorrência de um varejo estocado.
Apesar da cobrança pela decisão, o executivo afirma que o governo brasileiro foi muito atuante no combate à crise e que por esse motivo, não vê dificuldades em manter conversas sobre os incentivos para o setor.
Para 2009, a Mabe espera um crescimento de 10% a 15% sobre o ano passado. Mesmo assim, Mendizábal afirma que esse ano será marcado pela compra da BSH Continental, que alçou a empresa à vice-liderança nas vendas da linha branca no Brasil. O executivo prefere afirmar que a empresa está apenas em condições de disputar essa posição no mercado brasileiro. Sobre o apetite da empresa em ultrapassar a líder Whirlpool, ele desconversa, "meu foco é me concentrar na integração da BSH com a Mabe, fato que deve ocorrer em 18 meses, segundo nosso planejamento". Nesse mesmo plano, Mendizábal revelou que a Mabe planeja aportes para aumentar a capacidade de produção da empresa em geladeiras e lavadoras e que deverá investir para aumentar a capacidade, que hoje é de 5 milhões de unidades ao ano.
Veículo: DCI