Alimentos: Indústria coloca produto na gôndola três semanas antes; Walmart já vende marca própria o ano todo
Panetone o ano inteiro? Só a ideia de ter o produto sazonal fora da época natalina já coloca em pé de guerra consumidores tradicionalistas contra gulosos progressistas. Para azar dos mais conservadores, entretanto, a iguaria natalina tende, sim, a ser um item presente nas prateleiras de janeiro a janeiro. Prova disso é a famosa "primeira fornada" - que este ano chega ao varejo com três semanas de antecedência em relação a 2008. "Há cinco anos, os panetones só chegavam ao varejo depois do Dia das Crianças", diz Thomas Hueller, diretor da Casa Suíça, de São Paulo.
"A tendência é o panetone deixar de ser um produto sazonal para ser vendido o ano todo, só que em outro formato, sem a embalagem natalina", acrescenta Jorge Conti, diretor de marketing de biscoitos e panificados da Arcor.
É o que já faz o Walmart com o panetone produzido em suas padarias desde janeiro em todo território nacional. "Os clientes pediam muito. Fizemos alguns testes e vimos que dava certo", diz Sergio Noia, vice-presidente de perecíveis da rede de supermercados. Mesmo assim, segundo ele, as vendas da temporada de Natal concentram 80% do volume total. "O bom é que, no fim das contas, faturamos 20% mais que a concorrência", afirma.
A indústria, entretanto, mesmo sendo fã da ideia, ainda não tem nenhum "panetone anual" para vender. Por enquanto, a estratégia da maioria dos fabricantes tem sido adiantar cada vez mais o início da temporada. Este ano, Bauducco, Nestlé, Village, Ofner, Arcor, Casa Suíça e Coop já estão nas prateleiras dos supermercados, pelo menos em São Paulo, Estado que consome 50% da produção nacional.
"Adiantar o lançamento do produto é uma das maneiras de ganhar mercado, já que a concorrência tem aumentado a cada ano", afirma Conti, da Arcor, que vai lançar um panetone de 400 gramas por R$ 4 para o consumidor com menor poder aquisitivo. Já a Casa Suíça vai no sentido inverso: a meta é vender produtos mais "top de linha" e também cativar o público infantil. "Conseguimos uma licença da Disney para lançar o panetone do ursinho Pooh", diz Hueller. A empresa, segundo ele, investiu R$ 15 milhões em um maquinário italiano capaz de quadruplicar a produção. "Nossa participação de mercado deve crescer na mesma proporção", diz o executivo. A empresa chegou a ter 2% das vendas nacionais no ano passado.
O investimento da Casa Suíça beneficia também a Nestlé, uma vez que a multinacional terceiriza toda sua produção com a fabricante de Jandira (SP). "Este será nosso segundo ano nesse mercado", diz Claudio Gekker, diretor da unidade de biscoitos da Nestlé Brasil. "No ano passado, vendemos apenas três versões de panetone e só no Estado de São Paulo. Desta vez vamos atuar em todo território nacional com oito versões, uma delas de 'Leite Moça' com frutas", afirma o executivo. Em 2008, a empresa abocanhou 10% das vendas no mercado paulista. Agora, quer 10% do mercado nacional.
O interesse da Nestlé por esse mercado é fácil de entender: este ano, a espectativa é que os panetones industrializados movimentem R$ 500 milhões - R$ 100 milhões a mais que há 12 meses. A Village, por exemplo, espera vender 10% mais em volume, segundo Reinaldo Bertagnon, gerente comercial do grupo paulista. A Ofner, de acordo com o diretor comercial Laury Roman, espera 8% mais que as 300 toneladas comercializadas em 2008. A paulista Coop anunciou uma produção de 470 toneladas, 9% superior a de 2008. No Grupo Pão de Açúcar, espera-se que as vendas de panetones de fabricação própria subam 30% em unidades na comparação com o ano passado. "O consumidor deve comprar mais, mesmo com os preços em média 5% maiores por conta da alta do açúcar", diz João Sanzovo, presidente da Associação Paulista de Supermercados (Apas). Ou seja, um panetone que custava R$ 11,50 em 2008, agora será vendido por R$ 12. "A diferença não é muito expressiva", acrescenta.
Veículo: Valor Econômico