Os produtores brasileiros de leite conseguiram ampliar um acordo com exportadores argentinos para evitar uma elevação excessiva de produtos lácteos no país. Em reunião realizada em Buenos Aires, na semana passada, dirigentes de governos, industriais e produtores argentinos concordaram em incluir as vendas do produto fracionado no acordo bilateral.
No fim de abril deste ano, os argentinos aceitaram um compromisso de preços mínimos e uma cota máxima de exportação de lácteos ao Brasil. Ameaçados pelo regime de licenciamento não-automático de seus embarques, os argentinos concordaram em vender a tonelada de leite em pó pelo preço mínimo de US$ 2,2 mil e restringiram suas vendas ao Brasil em até 3 mil toneladas mensais. Mas relutavam em aceitar a inclusão de produtos fracionados no acordo. Na verdade, os argentinos usavam isso como trunfo para elevar a cota mensal do acordo. O Uruguai também aceitou compromisso semelhante para limitar suas vendas a 10 mil toneladas até outubro deste ano.
"Conseguimos uma boa vitória nesse acordo adicional. Se continuasse como estava, poderíamos receber rios de leite em produtos fracionados porque eles tinham acesso liberado ao nosso mercado", comemora o diretor da Confederação Brasileira de Cooperativas de Laticínios (CBCL), Vicente Nogueira.
Neste ano, o déficit na balança comercial de lácteos atingiu US$ 53 milhões. Somente em agosto, o resultado negativo somou US$ 14,8 milhões. Em 2008, o Brasil registrou superávit de US$ 328 milhões na balança.
A alteração no mercado foi provocada pela crise financeira internacional, que reduziu o consumo de lácteos e levou ao aumento dos subsídios na Europa e nos EUA.
Para resolver a questão estrutural, o governo avalia duas opções. Primeiro, estuda consolidar a Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul em 28% para 11 itens - entre eles, leite em pó, queijo e soro. Esses produtos estão hoje na lista de exceção da TEC e pagam entre 14% a 16% para entrar no Mercosul. Depois, busca elevar, por um tempo determinado, a tarifa máxima consolidada para 31,5% a 55% por meio da Câmara de Comércio Exterior (Camex). Para completar, em vésperas de eleições gerais em 2010, a Frente Parlamentar do Leite, que tem 200 deputados ativos, trabalha nos bastidores para pressionar o governo a não relaxar diante das ameaças aos produtores de leite.
Veículo: Valor Econômico