É possível que seja o varejo o agente mais próximo dos consumidores a divulgar (e praticar) os conceitos da sustentabilidade. Os especialistas garantem que a adesão aos procedimentos de respeito ao ambiente pode trazer, também, rentabilidade econômica.
Para Yuri Ferris, consultor de Sustentabilidade do Walmart, as empresas que não respeitarem esse conceito, no seu procedimento e na venda de produtos também sustentáveis, não deverão se manter no mercado. O varejo está assumindo fortemente seu papel de agente fomentador da sustentabilidade. Grandes corporações, assim como pequenas lojas de bairro, têm mostrado que podem mudar a realidade socioambiental ao estimularem tanto fornecedores quanto consumidores a repensarem seus atos de produção e de consumo.
Grandes redes, como Walmart Brasil e DPaschoal, há muito introduziram em seus negócios ações sustentáveis, numa demonstração de que a responsabilidade com o meio onde estão inseridas ultrapassa o lucro pelo lucro. Pequenas, micros e médias empresas de varejo também estão pautando suas atividades com base no "triple bottom line", a base tripla que engloba os aspectos econômicos, os sociais e os de defesa ambiental.
Entre as pequenas, destaque para o Núcleo Arte e Papel, uma microempresa que já nasceu com o DNA de sustentabilidade. Atuando na produção e comercialização de produtos ecologicamente corretos e de baixo impacto ambiental, sem deixar de lado o aspecto social, a empresa, segundo uma de suas sócias, Almeri Bolonhezi, alcançou resultados positivos rapidamente. Com apenas dois anos de vida, conquistou o 2º Prêmio FGV-EAESP de Responsabilidade Social no Varejo (2004). "Nossa receita é simples. Só trabalhamos com produtos com conceito de sustentabilidade, com fornecedores que não usam mão de obra infantil ou escrava e que nos possibilitam conhecer a sua cadeia de produção", explica ela. Os artigos produzidos ou comercializados pela Núcleo Arte e Papel são confeccionados utilizando mão de obra social (portadores de deficiência, idosos etc.) e todas as sobras da confecção dos artigos (encadernação, cartonagem e papelaria fina) não vira lixo. "Aproveitamos em novos produtos", explica Almeri.
Vida melhor
A rede Walmart Brasil adota o conceito de sustentabilidade até em seu slogan ("Vender por menos para as pessoas viverem melhor"). Para Yuri Ferris, consultor de Sustentabilidade da rede, esse tema, para a companhia, é uma das principais estratégias de atuação e não traz apenas vantagens sociais e ambientais, mas também econômicas. "Nós temos claro que, no médio prazo, as empresas que não respeitarem esses conceitos de respeito ao ambiente não deverão se manter no mercado," prevê.
Todas as decisões do Walmart Brasil são norteadas por três pilares: clima e energia, resíduos e produtos. No primeiro tema, a corporação busca construir lojas eficientes, que proporcionem resultados positivos tanto ambiental como financeiro. Quanto aos resíduos, a meta, de longo prazo, é zerá-los com gestão interna eficiente e reciclagem. Com relação a produto, a empresa tem por objetivo oferecer cada vez mais itens sustentáveis e, para tanto, não faltam acordos firmados com a cadeia de suprimento. "Produto também está relacionado com consumidor e oferecer a ele informações significa dar-lhe condições de tomar uma melhor decisão na hora da compra", explica.
A rede de supermercados tem como meta reduzir em 50% a distribuição de sacolas plásticas, que considera um fator importante na redução do impacto ambiental. Para tanto, oferece a seus clientes sacolas retornáveis com preço acessível e 2 milhões deles já aderiram ao novo costume.
Descarte
Ter um cliente satisfeito e fiel é o que almeja qualquer fornecedor. Para a DPaschoal só isso não basta. As pessoas que adquirem seus produtos têm de perceber que a rede de lojas automotivas não quer só vender, mas atuar em seu segmento com responsabilidade e sustentabilidade. "Quando um cliente nos procura para a troca de pneus, só trocamos o que é realmente necessário. Assim, estamos descartando menos produtos no meio ambiente", explica Nelson Bechara, diretor-geral de Comunicação. Agindo assim, a empresa tem a certeza de que também ganha na fidelização de seu cliente e na propaganda boca a boca. "Temos várias práticas, mas a economia verde é uma das mais fortes. Passamos para o cliente uma série de dicas para que ele possa economizar nos gastos com os pneus e, inclusive, com combustível", continua Bechara.
A DPaschoal recolhe todos os pneus velhos trocados em suas lojas, que podem ser destinados à fabricação de sandálias, podem ser triturados para emprego na construção civil ou na produção de asfalto, entre outros usos. A empresa também desenvolve trabalho de reciclagem com baterias automotivas e óleo. "Ou seja, tudo que entra na loja tem de ter a melhor destinação possível, não simplesmente virar lixo", informa Bechara.
Veículo: Diário do Comércio - SP