Hypermarcas: O duro desafio da integração

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Nunca uma empresa de consumo brasileira adquiriu tantas marcas em tão pouco tempo. Agora, a companhia acelera o trabalhoso processo de união dos ativos

 

Nenhuma companhia brasileira da área de consumo cresceu tão velozmente quanto a Hypermarcas. Desde a abertura de capital do grupo, há um ano e meio, a empresa gastou cerca de R$ 3,3 bilhões em aquisições - incluindo pesospesados da indústria, como Pom Pom e Jontex -, investimento que fez o número de marcas administradas pela companhia pular de 35 para 160 desde o início de 2008, segundo cálculos da DINHEIRO.

 

Cláudio Bergamo, o homem que comanda a operação do grupo, se diz satisfeitíssimo com cada passo dado pela companhia. Deixa transparecer até um quê de orgulho pelo trabalho recente e diz que o apetite da empresa não vai diminuir. "Fizemos as compras que planejávamos para o ano e vamos retomar as aquisições a partir de 2010", afirma ele, que se tornou o braço direito do fundador do grupo, João Alves de Queiroz Filho.

 

Depois de ir às compras, começa o trabalho penoso de união dos ativos. Um dos principais esforços da companhia está em redesenhar a estrutura administrativa e fabril e aproximar as empresas recém-compradas da cultura e do modelo de produção do grupo, dono da Assolan, Zero Call, Epocler, Avanço, entre outras marcasa. Esse é um processo longo e trabalhoso, dividido em três fases. Na primeira, as áreas mais afetadas são a administrativa e de vendas, que passam a ser imediatamente incorporadas pela controladora. Essa etapa dura em média seis meses. A empresa de cosméticos Hydrogen, comprada em setembro, está exatamente nesse momento do processo.

 

O segundo período da integração, que inclui boa parte dos ativos comprados em 2008, é o mais trabalhoso. Nesse momento, é preciso rever a estrutura fabril antiga, mudar os produtos de uma fábrica para outra, fechar centros de distribuição, cancelar linhas consideradas pouco lucrativas. São as ações mais complexas e radicais tomadas pela direção. O Laboratório Americano de Farmacoterapia (Farmasa), outra empresa do grupo, enfrenta esse desafio agora. "Para completar esse ciclo é necessário, no mínimo, um ano e meio", afirma Bergamo. Enfim, chega-se à fase três, em que estão as marcas de esmalte Risqué e a de sabão em pó Assim. Nesse período, são feitos lançamentos de produtos, extensões de linhas e possíveis alterações na fórmula e na embalagem das mercadorias. "É praticamente um 'checklist' o que temos aqui dentro. Seguimos um sistema de análise e integração muito bem azeitado. Fazemos isso hoje sem a menor dificuldade", explica Bergamo.

 

A máquina de modelar negócios da Hypermarcas vai ganhar um belo fôlego neste mês, revela seu presidente. A partir de outubro, todos os itens de higiene pessoal e medicamentos já estarão estocados no maior centro de distribuição da companhia, em Cajamar (SP). É um espaço com 35 mil metros quadrados e com 60 mil posições de paletes - caixotes que armazenam cerca de uma tonelada de produtos -, que sairão dali para todos os pontos do Brasil. Há ainda outra ação pouco visível no processo de redesenho do novo grupo. Foi reestruturada a equipe de visitas médicas da Hypermarcas, responsável pela venda de medicamentos, dona de 35% das vendas do grupo. A empresa quer vender mais sem gastar mais.

 

"Aumentamos em 30% a taxa de visitação com a mesma força de vendas", diz Bergamo. Por trás de toda essa reorganização, há um efeito dominó extremamente benéfico. Com as mudanças, a Hypermarcas tende a trabalhar de forma mais produtiva e eficiente e a aumentar o seu poder de barganha no mercado. Com R$ 808 milhões de vendas de janeiro a junho (65% acima das de 2008), aumento de quase 500% no lucro, endividamento baixo e despesas controladas, não há grandes riscos no horizonte. "O excelente desempenho da empresa é fruto da combinação de três fatores", relata Marco Barbosa, da corretora Coinvalores. "São eles: a resistência do setor de bens de consumo nacional à crise, o forte e diversificado portfólio de marcas e a captura das sinergias decorrentes das recentes aquisições", segundo o analista.

 

Veículo: Revista Isto É Dinheiro


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