A estratégia da portuguesa Gallo para aumentar o portfólio de seus produtos premium no Brasil
Nos últimos anos, a paisagem de Évora, a idílica cidade pousada na região do Alentejo, sul de Portugal, vem mudando radicalmente. Antes conhecida pelo sobreiro, a árvore que fornece a cortiça usada nas rolhas de vinho, agora tem se destacado por suas oliveiras, plantadas uma atrás da outra, de modo a lembrarem parreirais. A transformação, entretanto, não tem acontecido apenas geograficamente. Essa nova realidade fez brotar uma indústria. É dali que saem alguns dos azeites premium mais conceituados do mundo. Entre eles, encontra-se o da tradicional Gallo, que tem desenvolvido produtos com características únicas de aroma e sabor para um público extremamente exigente e prepara-se para trazer dois de seus azeites mais exclusivos para o Brasil. Assim como é preciso conhecimento para degustar os melhores vinhos, é necessário um paladar apurado para apreciar essa nova safra de azeites especiais. Diante disso, a empresa tem implementado uma estratégia de introduzir estes produtos em caráter sazonal para, aos poucos, ir criando a cultura do consumo de azeite sofisticado. "No geral, o brasileiro prefere os mais suaves. Mas, em São Paulo e no Rio de Janeiro, já existem pessoas que apreciam azeites mais complexos", diz Rita Bassi, diretora-geral da Gallo no Brasil. A opinião é compartilhada por Marcus Pimentel, especialista em azeite da boutique Oliviers&CO. "Da mesma forma como se procura um bom vinho, o consumidor tem buscado um bom azeite, ainda que o produto seja um artigo de luxo, em torno de R$ 70 a embalagem de 250 ml."]
A atenção redobrada da Gallo ao mercado brasileiro tem razões óbvias. Dos 120 milhões de euros faturados pela empresa no ano passado, 40 milhões de euros vieram do Brasil. Além disso, estima-se que anualmente o comércio de azeites e azeitonas movimente US$ 3 bilhões em solo nacional. Por ora, os dois azeites premium da portuguesa têm data certa para chegar ao País. O Azeite Novo desembarca em terras nacionais para as festas de final de ano e o Colheita ao Luar no período de Páscoa. O primeiro é um azeite extravirgem feito com as primeiras azeitonas verdes colhidas. Este detalhe explica por que o produto apresenta um aroma de fruto fresco que remete à erva-mate, bem como um leve amargor e a sensação de algo picante, embora não leve nenhuma pimenta. Já o Colheita ao Luar é um extravirgem fruto de uma colheita realizada no período mais frio da noite, o que, além de favorecer a qualidade, garante sabores e aromas acentuados. Ambos os produtos só são comercializados no Brasil e em Portugal em edições limitadas.
No País de Camões, o portfólio de itens premium da Gallo é bem mais amplo. Lá a cultura do azeite é algo intrínseco à culinária local. Tanto é que existe até o Azeite de Bebê, um produto extremamente suave para o preparo da comida dos pequenos. "Optamos por não trazer os outros ainda para não deixar os consumidores embaralhados com uma enorme diversidade nas gôndolas", explica Rita. Mas os números indicam que, em breve, isso deve mudar. No ano passado, foram enviadas 19.975 garrafas do Azeite Novo ao Brasil. Este ano serão 112 mil unidades. Sinal de que o brasileiro aprovou os novos aromas e sabores e que a Gallo está atenta ao movimento dos concorrentes.
Veículo: Revista Isto É Dinheiro