O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem que a eventual prorrogação da redução do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) para eletrodomésticos da linha branca -como fogões, geladeiras e máquinas de lavar roupa- só será concedida mediante a assunção de dois compromissos pelo varejo do setor: o de manter e criar empregos e o de fazer promoções para repassar os descontos ao consumidor.
Mantega não explicou se nas condições vantajosas pode estar refletido algum acordo para que os lojistas cortem os juros que praticam no financiamento das compras dos clientes, como se especula. A exigência da contrapartida pelo governo para manter o corte no IPI foi revelada ontem pela Folha.
"São eles [os empresários] que sabem qual é o jeito de fazer as promoções", disse o ministro após reunir-se, em São Paulo, com representantes de grandes cadeias como Casas Bahia, Ricardo Eletro, Ponto Frio, Pão de Açúcar e Walmart.
Luiza Helena Trajano, superintendente do Magazine Luiza e presidente do IDV (Instituto para o Desenvolvimento do Varejo), afirmou que os empresários têm, sim, deduzido as reduções do IPI dos preços que praticam. "Mostramos todos os números ao ministro. Aqui [na reunião], somos todos amigos, mas, no dia a dia, existe uma concorrência pelo consumidor [que derruba os preços]."
Apesar de cobrar as contrapartidas, o ministro fez um balanço positivo da medida, lançada em abril e renovada em junho. "Creio que tivemos sucesso em conseguir retomar as vendas do segmento a partir de uma atuação conjunta do governo e dos lojistas", afirmou.
Embora tenha dito que existe uma intenção tanto do setor de eletroeletrônicos quanto do governo de "fazer o que for necessário para que o brasileiro tenha o melhor Natal da sua vida, fechando o ano com chave de ouro", Mantega não quis confirmar a extensão do corte do IPI, que vence no próximo dia 31. Tampouco os empresários quiseram quantificar o seu grau de otimismo com relação a essa possibilidade.
Previsões superadas
Para Trajano, o IPI reduzido deveria ser prorrogado até 31 de janeiro de 2010. Dessa forma, não estariam garantidas apenas as vendas das festividades natalinas como também as da ressaca das comemorações de final de ano, um período tradicionalmente fraco para o varejo. Nos primeiros meses do ano, a renda do consumidor também é direcionada para o pagamento de tributos e de matrícula e material escolar.
"Se não houver uma extensão da medida, teremos que rever os nossos planos de admissão de funcionários temporários nos próximos meses", disse ela. Segundo a executiva, as vendas do setor cresceram 20% no período em que vigorou o corte do imposto.
Lourival Kiçula, presidente da Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos), explicou que a previsão inicial dos empresários era a de vender 8 milhões de peças da linha branca nesse intervalo e que tal projeção foi superada em dois milhões. "Temos plena condição de atender à demanda se a diminuição do IPI for mantida."
Trajano disse ainda que uma redução dos juros aplicados no crédito ao consumidor é possível "caso igualmente sejam cortadas as taxas pelas quais as empresas captam". Presente ao encontro entre Mantega e os lojistas, Paulo Rogério Caffarelli, vice-presidente de cartões e novos negócios de varejo do Banco do Brasil, não quis assumir um corte dos juros.
Veículo: Folha de S.Paulo