Um estudo realizado na Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (Uenf) aponta o melhoramento genético do maracujazeiro amarelo como um forte aliado para reverter o declínio da produção dessa fruteira no norte fluminense. "A proposta é obter variedades genéticas de maracujazeiro amarelo adaptadas especialmente à região", diz o engenheiro agrônomo Marcelo G. de Morais, autor da tese de doutorado "Seleção recorrente intrapopulacional no maracujazeiro amarelo Passiflora edulis Sims", desenvolvida com apoio da FAPERJ.
Marcelo, que foi bolsista de doutorado nota 10 da FAPERJ, chegou a um material genético com produtividade bem superior à de algumas variedades comerciais do maracujazeiro amarelo cultivadas no País e comercializadas com o registro do Ministério da Agricultura. "A produtividade do melhor genótipo chegou a 29,2 toneladas/hectare, frente a 12,6 toneladas/hectare das variedades comercializadas atualmente", diz ele, acrescentando que a produtividade média dos 140 genótipos analisados foi de 16,4 toneladas/hectare.
Outros dados animadores do melhoramento genético realizado na Uenf são o número e o peso dos frutos. "Em um período de oito meses de produção, a pesquisa obteve genótipos que produziram até 266 frutos, enquanto as variedades comerciais produziram 141 maracujás em média", assinala Marcelo. "O peso dos frutos do melhor genótipo foi de 219 gramas, frente a 144 gramas das cultivares comerciais", destaca.
Para realizar este trabalho, o pesquisador utilizou a seleção recorrente como método de melhoramento genético. "É um método conhecido, mas pouco aplicado em fruteiras", explica ele, que elaborou sua tese de doutorado, sob a orientação do professor Alexandre Pio Vianna, do Laboratório de Melhoramento Genético Vegetal (LMGV) da Uenf.
"É um processo cíclico que envolve a obtenção do material genético por meio da avaliação em experimentos e da seleção dos melhores indivíduos. Para completar o ciclo, ocorre a recombinação, que é o cruzamento genético entre os melhores indivíduos, obtendo-se assim uma população melhorada, ou seja, população com maior concentração de alelos favoráveis", conclui Marcelo.
O Brasil é o maior produtor mundial de maracujá. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2005 o país produzia cerca de 13 toneladas/hectare. Dados recentes apontam que hoje ele já alcançou a marca de 14 toneladas/ hectare. O maracujazeiro amarelo ou azedo é a espécie responsável pela maior parte (95%) dos maracujás produzidos no país. Um dos pontos favoráveis dessa cultura é que a produção ocorre ao longo de quase todo o ano, o que pode ser uma alternativa conveniente de renda mais distribuída para pequenos produtores.
No entanto, a economia do norte fluminense vem encontrando dificuldades nesse segmento. "Entre os desafios, estão a falta de assistência técnica qualificada, ausência de escoamento adequado da produção e a falta de genótipos resistentes a doenças, entre elas a do vírus do endurecimento do maracujá, que ataca a planta inteira, sobretudo o fruto, e afeta significamente a produção que normalmente ocorre durante todo o ciclo da cultura, que é de três anos", avalia.
Ainda serão necessários mais estudos para que uma nova variedade genética adaptada à região chegue ao mercado de fato. "Temos alguns desafios a serem superados. Nosso material tem pouca resistência à virose, mas já estamos trabalhando na Uenf, realizando cruzamentos com outras espécies de maracujazeiros, sem ser o amarelo, para contornar esse problema", conclui.
Veículo: Revista Fator Brasil