Produção superaquecida para o Natal

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Sondagem da FGV mostra que o crescimento da produção no fim do ano será o maior dos últimos dez anos

 

A produção industrial prevista para o último trimestre deste ano está superaquecida, o que sinaliza um Natal forte e um início de 2010 acelerado nas fábricas. Metade das 1.065 empresas consultadas pela Sondagem Conjuntural da Indústria de Transformação da Fundação Getúlio Vargas (FGV) planeja crescimento da produção entre outubro e dezembro e apenas 4,3% delas programam redução. É o menor índice de indústrias que vão cortar a produção no último trimestre do ano desde 1980, o início da série.

 

Dos 14 gêneros industriais pesquisados pela sondagem em outubro, todos estavam com a produção prevista para o último trimestre do ano acima da média de dez anos para esse período, um resultado inédito. "A produção de outubro costuma ser menor que a de setembro", observa o coordenador técnico da pesquisa, Jorge Ferreira Braga. Mas, neste ano, os resultados contrariaram a regra.

 

Segundo o economista, dois fatores explicam a mudança no padrão. O primeiro deles é atraso na produção da indústria, que primeiro tratou de se livrar dos estoques excessivos para depois acelerar a produção. O segundo fator é a própria sinalização de crescimento vigoroso do Produto Interno Bruto (PIB) para 2010, na casa de 5%, puxado pela demanda interna.

 

De setembro para outubro, o indicador de produção prevista para três meses, apurado pela FGV, descontadas as influências sazonais, cresceu 4,5%. O indicador leva em conta o saldo entre os porcentuais de empresas que apostam no aumento e na queda de produção.

 

Dos 14 gêneros pesquisados, 7 puxaram de forma acentuada o crescimento da produção prevista para o trimestre: minerais não metálicos, metalurgia, mecânica, material elétrico e de comunicações, material de transporte, têxtil e alimentos. Três desses gêneros atingiram o maior nível de produção prevista para três meses apurado pela FGV num mês de outubro.

 

Segundo a pesquisa, 57,4% das indústrias de minerais não metálicos, itens usados principalmente pela construção civil, acreditam que a demanda será maior até dezembro e só 3,2% delas, menor. A Eternit, por exemplo, fabricante de telhas e caixas d"água, trabalha com mais de 90% de uso da capacidade nas 5 fábricas. "Estamos praticamente sem estoques nas fábricas", afirma o presidente da companhia, Elio A. Martins.

 

O empresário explica que o que o que está puxando atualmente a demanda por seus produtos é o consumo "formiga". "É a autoconstrução, a reforma", exemplifica. A população de baixa renda responde por 80% desse consumo. Segundo Martins, o quadro de abastecimento deve ficar mais apertado no ano que vem quando entrar em operação o programa habitacional do governo. Por isso, ele já estuda investimentos em aumento de produtividade.

 

A indústria mecânica, que inclui dos bens de capital que começam a reagir à linha branca (geladeiras e máquinas de lavar, por exemplo), é outro setor que está super otimista, com 58,1% das empresas planejando alta da produção no trimestre.

 

Beneficiadas pela prorrogação do corte do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para os eletrodomésticos, os fabricantes da linha branca vão acelerar o ritmo das fábricas. A Mabe, dona das marcas GE e Dako, por exemplo, vai ampliar em 25% a produção no último trimestre deste ano em relação a 2008. "Com certeza, será o maior trimestre de vendas da companhia no Brasil", afirma o presidente da companhia para o Mercosul, Patricio Mendizabal. Ele observa que "os estoques da empresa estão abaixo do adequado para encarar a temporada".

 

Na concorrente Whirlpool, donas das marcas Brastemp e Consul, o otimismo se repete. O diretor de Relações Institucionais, Armando Ennes do Valle Júnior, diz que o crescimento da produção no último trimestre deste ano deve oscilar entre 13% 15% em relação a 2008, que foi uma base baixa por causa da crise. Na comparação com igual período de 2007, o acréscimo varia entre 8% e 9%. "Teremos um começo de ano aquecido", prevê o executivo, lembrando a recuperação da renda, do emprego e da oferta de crédito.

 

Até o setor têxtil, tido como "patinho feio" da indústria por perder mercado para os importados, deu a volta por cima. A sondagem revela que 31,5% das empresas do setor planejam aumentar a produção no último trimestre deste ano. A Stenville Têxtil, por exemplo, trabalha hoje usando 100% da capacidade de produção da fábrica de Jundiaí (SP). "A reação da economia foi muito rápida", afirma o sócio diretor, George Tomic. O motor da reação é a reposição de estoques no varejo e as boas perspectivas para 2010.

 


Veículo: O Estado de S.Paulo


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